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  • marianeves15031958

CULTURA PORTUGUESA E EUROPEIA o tempo e as obras

Atualizado: 23 de nov. de 2021

CONTEXTO HISTÓRICO - Rococó e Neoclassicismo

O século XVIII_Contexto temporal e espacial_

O período em que se inserem o Rococó e o Neoclassicismo pertence ao final da Idade Moderna e ao preliminar da Idade Contemporânea, ou seja o período correspondente ao século XVIII e início do século XIX.

Este período foi marcado por ambiguidades, como a revelada numa situação que manteve a funcionar ao mesmo tempo as instituições e estruturas do Antigo Regime (sociedade de ordens e absolutismo monárquico) e outras estruturas que caracterizavam um novo tempo: ascenção da burguesia e transformações que se desenvolviam no campo da política, nomeadamente revoluções: independência americana e revolução francesa.

Ao nível económico este período ficou marcado pela dinamização da produtividade (a partir da segunda década do séc. XVIII), principalmente na agricultura, reanimada por avanços tecnológicos e bons anos agrícolas. A expansão económica também se deveu a uma proliferação das pequenas oficinas que surgiram paralelamente às grandes manufaturas. Um grande impulsionador desta prosperidade foi o avanço científico-tecnológico. Este crescimento económico teve como consequência, a melhoria geral das condições de vida na Europa e o crescimento populacional. Isto fez reduzir a depressão que recaía neste continente desde dos finais do século XVI.

O conjunto de condições favoráveis neste período levou ao crescimento da burguesia, que esteve extremamente ativa em todos os campos de atividade, incluindo o político e o financeiro, nos quais alguns dos mais ricos burgueses participavam.

A alta burguesia ascendeu ao patamar social da aristocracia através de casamentos de conveniência, e do desenvolvimento do seu estilo de vida que envolvia, festas, banquetes e outras atividades específicas deste estrato social.

O individualismo* setecentista impulsionou a construção de palacetes citadinos e castelos de campo que eram o palco de um modo de vida requintado e confortável desta época que ainda assistia à imposição de códigos de etiqueta na aristocracia.

Foi também uma época estimuladora de uma maior abertura das ideias que se apoiavam a propagação da educação e cultura, próprias do pensamento iluminista** que se expandia pela Europa. Os iluministas, filósofos humanistas e racionalistas, consideravam o progresso como fonte de felicidade, objetivo último da humanidade.

Anunciador de mudanças profundas, o Iluminismo foi nesta época, a base das revoluções liberais que fariam cair o Absolutismo em prol de regimes democráticos.

Também o liberalismo*** influenciou ideologicamente vários movimentos políticos, como a Revolução Americana, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789.


* Individualismo - teoria que advoga a autonomia do indivíduo, o desenvolvimento da iniciativa privada e a redução das funções do Estado.

** Iluminismo - movimento cultural e intelectual europeu, que se verificou sobretudo durante o século XVIII, caracterizado pela crença na razão como ferramenta válida para o progresso da humanidade e por uma atitude crítica perante as formas políticas e religiosas tradicionais; filosofia das luzes.

*** Liberalismo - movimento que, no século XIX, se opôs ao absolutismo monárquico e que politicamente e economicamente privilegia a liberdade do indivíduo face ao poder do Estado.

Do palácio real para o salão

No período de tempo que medeia entre a morte de Luís XIV e a tomada de poder do seu neto - Luís XV - a França foi governada por regentes do trono. Neste período a corte perdeu o interesse na vida real, e as cerimónias tornavam-se cada vez mais monótonas. A aristocracia começou a ganhar mais interesse na vida pessoal, passando mais tempo nas mansões privadas e nos palacetes, tentando atingir o nível de conforto da corte.

A decoração interior desses edifícios tornou-se fator de distinção; o luxo, a exuberância, a beleza requintada, a sensualidade e o intimismo tornaram-se características dominantes.

A intimidade individualizada desenvolvida nesta época retirou a opulência barroca das habitações senhoriais trazendo formas mais alegres, otimistas, despreocupadas …mais ligadas a uma arte natural e privada.

O centro da vida social passou do palco que eram as cortes reais, para o salão que era um lugar mais privativo, onde se reunia a família após as refeições ou onde se reunia mais gente por ocasião de alguma festividade, banquete ou outra atividade...

As reuniões no salão também trouxeram uma novidade: com a efervescência do Iluminismo, começou a haver maior interesse nas coisas menos prosaicas e lúdicas, dando-se agora mais importância à intelectualidade, facto que trouxe grandes personalidades no campo das artes, das ciências, do pensamento filosófico...a esses saraus.

Os salões tornaram-se assim, os centros da vida social, cultural e artística, desempenhando importante papel na divulgação d as novidades intelectuais e políticas.

O iluminismo

No pensamento filosófico do século XVIII reconhecia-se como Luz, o conhecimento racional, o saber esclarecido. Assim, quem o detinha ou praticava denominava-se de iluminista. O mais valorizado no indivíduo era a sua inteligência- a razão- que era reconhecida como o único meio fidedigno de alcançar a verdade universal o que, em última instância, levaria à felicidade (esta era considerada como direito natural do homem e objetivo principal da sua existência). Este pensamento considerava o progresso como positivo sendo reconhecido como único meio de melhorar a existência material e espiritual do homem. Este período caracteriza-se portanto, por uma visão otimista do futuro.

Era um novo ideal que trazia uma nova liberdade intelectual e conduzia o homem a pensar acerca dos direitos humanos individuais, entre as quais o direito à liberdade e à igualdade como direitos naturais.

O iluminismo alimentou uma relação muito estreita com o universo da burguesia; esta usava-o como instrumento de afirmação devido à identidade entre o movimento e a mentalidade da burguesia. O crescimento deste estrato social incentivou na generalidade, uma aceitação destes ideais, mesmo nos estratos sociais mais elevados. A divulgação destas ideias foi estruturada na criação das enciclopédias como compêndios de todo o conhecimento que havia.

A secularização cívica e a divulgação iluminista

Os ideais iluministas trouxeram também outras alterações conducentes à democratização e popularização geral.. O elitismo dissolveu-se cada vez mais, paralelamente ao incentivo à ação cívica, à educação e à responsabilidade social. Para transmitir e consolidar estes novos valores e atitudes a serem exercidos pelo povo, o Estado instituiu as festas cívicas, que vieram substituir as antigas festas religiosas.


-a arte Neoclássica - século XVIII

À arte barroca seguiu-se um período intermédio de refinamento na arte, característica da decoração de palácios citadinos (“Hotels”) e rurais (“Chateaux”), correspondente a um estilo designado de Rococó. Após este período desenvolveu-se uma arte que era correspondente ao Iluminismo -arte Neoclássica- que prezava os valores da Antiguidade Clássica (ensinados nas academias) e os seguia como referência.

Os impulsos moralizadores e racionalistas neoclássicos rejeitavam o estilo rococó, que os pensadores iluministas criticavam e os revolucionários franceses atacavam pelas suas associações morais e políticas.

O Neoclassicismo foi assim o movimento artístico e intelectual dominante na arte europeia do século XVIII e início do séc. XIX. Foi motivado pela rejeição do Rococó, pelo interesse no passado Clássico como forma de entender as mudanças do mundo contemporâneo, e pela busca de uma seriedade moral o que lhe deu fortes ligações com o Academismo.

O Academismo é a codificação da arte em regras que podem ser ensinadas nas Academias. Promove os ideais clássicos de beleza e perfeição artística e estabelece uma hierarquia clara dentro das artes visuais, preferindo a grande narrativa ou a pintura histórica e defendendo o desenho ao vivo e a escultura clássica.

Estes ideais foram realçados ainda numa época ainda barroca (século XVII), pelo artista Nicolas Poussin em Itália , o qual acreditava que o mais elevado objetivo da pintura era o de representar as ações humanas nobres e sérias. Elas deveriam ser retratadas de forma lógica enfatizando a forma e a composição. Antes de Poussin, nenhum artista estabelecera uma analogia tão rigorosa entre pintura e literatura, nem a colocara em prática de forma tão decidida. Poussin fez sua carreira quase que exclusivamente em Roma e sob a inspiração de Rafael. Ele deu forma ao estilo que se tornaria o modelo ideal para os pintores da segunda metade do século XVIII, como Jacques-Louis David e Jean-Auguste-Dominique Ingres.

A arte neoclássica tendo ligações estreitas com o Iluminismo do século XVIII e com a Revolução Francesa, reclamou para si própria um papel importante no estabelecimento da moral e do comportamento.

As amplas escavações arqueológicas que tiveram lugar em Itália e na Grécia neste período, impulsionaram o estudo do mundo antigo (nomeadamente os seus valores morais e estéticos) e estimularam um sentido mais rigoroso da história e das mudanças históricas. Os neoclassicistas não se limitavam a reviver os estilos passados, pretendiam sim usar a arte para criar uma sociedade em simultâneo, moderna e virtuosa.

Os neoclassicistas eram propensos a uma elevada seriedade moral com tendência para a austeridade. David (Jacques-Louis David) é o mais importante pintor neoclássico do período.


Arcadismo (1768 – 1836)

Este movimento surge na eclosão da Revolução Industrial e faz contraponto ao desenvolvimento das máquinas, da indústria e das grandes cidades ao ressaltar a natureza e a atmosfera bucólica. O arcadismo é bastante idealizado e opõe-se à desarmonia do Barroco.

Também conhecido como Neoclassicismo, o Arcadismo resgata princípios da Antiguidade Clássica e busca sempre a conciliação entre o homem e os elementos da natureza. Os ideais iluministas da Revolução Francesa, como o racionalismo, também são louvados.

Os poemas são geralmente em forma de soneto (dois quartetos e dois tercetos, normalmente com dez sílabas poéticas) e há temática bucólica e idealizada sobre o amor (geralmente entre pastores), beleza estética e viver o momento presente (carpe diem).

Em Portugal, destaca-se António Dinis da Cruz e Silva, autor do poema O Hissope e Odes Pindáricas.



Belchior Manuel Curvo Semedo Torres de Sequeira, conhecido por Curvo Semedo (1766-1838)

Foi um dos nomes mais importantes do movimento literário Nova Arcádia, de que foi cofundador em 1790 e em que usou o nome de Belmiro Transtagano. Desempenhou durante muitos anos o cargo de escrivão da Alfândega de Lisboa. Destacam-se na sua obra os quatro volumes das Composições Poéticas (1803) e, em tradução livre, As melhores fábulas de La Fontaine (1820).Defrontou-se literariamente com o poeta Bocage, que o visara em repetidas críticas, retorquindo-lhe com sátiras aceradas. Todavia, visitou Bocage no leito de morte, em 1805, reconciliando-se enfim com ele.


Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage (17651805) foi um poeta nacional português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX.



O Juramento dos Horácios (1784), uma das primeiras obras-primas, de Jacques-Louis David*, cuja novidade maior foi a clara caracterização dos papéis masculinos e femininos, seguindo preceitos de Rousseau, e o elogio de ideais patrióticos republicanos, temas que continuaria a abordar por muito tempo. De acordo com o historiador Arnold Hauser, esta obra "constitui um dos maiores êxitos registados na história da arte. Apesar de seu tratamento linear e cerebral, conseguiu obter um grande efeito dramático.


* Jacques-Louis David foi um pintor francês, o mais característico representante do neoclassicismo. Controlou durante anos a atividade artística francesa, sendo o pintor oficial da corte francesa e de Napoleão Bonaparte.

Em outubro de 1775 viajou para Roma e aí encorajado a pintar temas clássicos e foi impressionado pela riqueza da escultura antiga,. Além da escultura, David encantou-se com as pinturas de Caravaggio, Ribera, Michelangelo, Poussin e de Rafael.

Deixou a Itália em 1780. Dessa longa temporada resultou o desenvolvimento de um senso de nobreza e um engrandecimento espiritual que seriam imediatamente visíveis em sua obra. Os quadros que exibiu no Salão de Paris em 1781 foram recebidos com entusiasmo.

Ao exibir o quadro O Juramento dos Horácios, em 1784, David afirmou-se como o pintor mais progressista e influente da França. O seu estilo novo, de inspiração romana, destacava nesse quadro de grandes proporções a severidade moral; foi, portanto, especialmente admirado, sobretudo pelos filósofos que condenavam a superficialidade e a degradação da arte rococó francesa.

Vivia-se um tempo de crescente inquietação social, com a corte e a aristocracia cada vez mais impopulares. Nessas circunstâncias, os temas do dever, do patriotismo e da luta heroica pela liberdade, presentes no quadro de David, provocaram ressonâncias políticas, fazendo com que o público parisiense decifrasse nessa tela uma mensagem radicada no presente. A Revolução estava no ar.


LINKS


A Cultura do Salão – século XVIII


Arte Neoclássica


neoclassicismo (legendado)- 6 min.


Common Characteristics and Trends of Neoclassical Art (legendado) – 5 min.



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