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CulturArterecursos 

  • marianeves15031958

Atualizado: 15 de dez. de 2021

CONTEXTO HISTÓRICO -Impressionismo

Contexto socio-cultural na 2ª metade do século XIX


No decorrer do século XIX os progressos técnicos, científicos e a Revolução Industrial tinham transformado e influenciado a vida do quotidiano na Europa, sobretudo nas populações citadinas. No centro dessa transformação esteve o aparecimento do caminho-de-ferro que tornou acessíveis áreas remotas da província, as quais conheceram uma nova prosperidade e importância. Os pintores impressionistas de Paris viram assim facilitado o acesso a essas localidades que iriam servir de tema às suas obras: as aldeias do Sena e as aldeias das províncias da Provença a sul de França. Por outro lado o aperfeiçoamento da iluminação a gás e a eletricidade tinham permitido prolongar o dia de trabalho, possibilitando manter abertas até tarde as primeiras exposições destes pintores Impressionistas (Paris foi a 1ª cidade iluminada a eletricidade).

Também entre novidades surgidas nesta altura - a invenção da Fotografia - estabeleceu em pouco tempo uma nova arte visual que se tornou a mais popular do século, produzindo uma nova consciência na representação, levando mesmo ao ceticismo relativamente à arte idealizada e académica.

Neste período deu-se também a consolidação da sociedade burguesa, industrial e urbana e a cidade tornou-se o centro económico, político e cultural nos estados europeus, como a França. A Revolução Industrial não só estava a modificar atitudes técnicas e visuais, mas provocou também o aparecimento de uma nova classe abastada e politicamente dominante - a burguesia média, (de onde surgiram os Impressionistas) e que se tornou a grande clientela destes novos pintores.

O período de 1875 a 1914 durante o qual se desenvolveu o Impressionismo, foi também a época denominada “Belle Époque”, que correspondeu a esse tempo de rápida urbanização e de desenvolvimento da vida citadina. Foram os habitantes urbanos que forneceram aos Impressionistas a principal fonte de inspiração temática: as modistas, os elegantes, os profissionais, as lavadeiras, as prostitutas e as pessoas vulgares, que passavam nas ruas de Paris.


Paris é considerada a capital da cultura e da arte.


Por razões de ordem política estratégica, os governos do século XIX tinham imprimido a Paris uma importância que ultrapassava todas as capitais europeias incluindo Viena de tal modo que, para Paris vieram todos os Impressionistas, à exceção de Degas e Sisley, (que aí nasceram), provenientes da província ou de outros países como os Estados Unidos.

Entre 1850 a 70, a aparência da cidade fora totalmente transformada pelas obras do Prefeito Haussman. No labirinto de ruas estreitas romperam-se cerca de 50 km de grandes avenidas (boulevards) orladas de árvores, com largos pavimentos onde foram implantadas esplanadas em frente de cafés e restaurantes - era neste envolvimento que decorria uma grande parte da vida social e cultural da cidade modernizada graças a infraestruturas, sobretudo os novos sistemas de abastecimento de água e de esgotos que acabaram com os tradicionais cheiros desagradáveis. Criaram-se nesta época parques públicos, não só no centro, mas também nos arredores; foram construídos edifícios enormes e espetaculares que conferiam a Paris grandiosidade como, a Ópera de Paris (do arquiteto Garnier), a Câmara Municipal, o Palácio da Indústria, onde se realizaram as Exposições Universais a partir de 1850 (tornando visível o avanço das ciências e da técnica); as Estações de Caminho-de-Ferro que pareciam grandes "catedrais" (pela utilização do ferro e do vidro na sua construção), o grande mercado de géneros alimentícios - Les Halles -, as grandes residências e armazéns...

As ruas de Paris iluminaram-se pela luz elétrica e surgiu uma vida noturna que contagiava os seus habitantes e enchia os locais de diversão - era uma burguesia, detentora do capital que frequentava os cafés, os “cabarets”, os teatros, a ópera, as esplanadas…

Paris tornou-se assim, a capital cultural da Europa sendo visitada por numerosos estrangeiros. a cidade tornou-se propícia aos prazeres dos sentidos através de locais retratados pelos Impressionistas: as Folies-Bèrgeres, o palco e os corredores da Ópera, os pavilhões de dança de Montmartre, os bordéis da "Porte Saint-Denis", a imagem grandiosa das estações de caminho-de-ferro e os próprios boulevards... Sem tudo isto dificilmente poderia ter existido o Impressionismo.


Enquadramento artístico


O espírito científico e a inovação plástica desta época tornaram-se a base das novas tendências estéticas do Impressionismo e do Pós-Impressionismo. O desejo de inovação e mudança por parte de uma minoria de artistas e a oposição ao conservadorismo das Academias lançaram sementes para a arte do século XX.

Paris convertendo-se na capital da cultura e da arte mundial tornou-se o lugar onde os artistas e estudantes acorriam de muitas e diferentes origens, à procura da inovação e do sucesso, apesar de mesmo nesta cidade, existir um mercado artístico muito restrito que assim se manteve por bastante tempo . As reputações faziam-se sobretudo através das exposições anuais promovidas pela Academia Real de Pintura e Escultura em Salões Oficiais - o mais importante acontecimento artístico em França-. Expor nestes Salões era sinal de prestígio, mas os artistas tinham de se cingir às normas estabelecidas pela Academia. O processo de seleção dava origem a constantes reclamações: já desde o Realismo e o Naturalismo que não tinham sido aceites pela Academia e que tinham marcado um período importante no contexto artístico de Paris pelas suas características inovadoras e antiacadémicas; de facto deixaram mesmo uma riquíssima herança representada na pintura de Courbet, Millet, Rousseau e outros.

Em consequência desta situação de desigualdade entre os artistas foi criado em 1863, por Napoleão III, uma exposição de oposição ao Salão Oficial , o designado “Salon des Refusés”, que incluía as obras dos artistas recusados pela Academia.

Além do Salon, o local onde se expunha, e como tal o único meio de o artista se tornar conhecido, havia ainda as grandes Exposições Internacionais realizadas em Paris entre 1855 e 1900. Foram sobretudo através destes eventos que a pintura francesa se tornou conhecida além-fronteiras. Também as novas galerias e museus iam introduzindo modernos pontos de vista, de experiências visuais e novas sensibilidades estéticas. A aquisição de obras de arte foi-se estendendo gradualmente a uma mais larga faixa de população, sobretudo pela divulgação que os comerciantes- "marchands d'art" - progressivamente foram desenvolvendo. Foi o caso da pintura impressionista que contou entre os seus clientes os comerciantes de arte e pessoas anónimas como médicos, comerciantes, funcionários públicos...



Impressão, nascer do sol (do francês: Impression, soleil levant) é a famosa pintura impressionista de Claude Monet, realizada em 1872.


Consolidação do Impressionismo


O impressionismo assumiu desde o princípio uma oposição aos princípios e regras do Romantismo e academismo vigentes, aproximando-se mais da atitude estética do Realismo de Courbet. A nova plástica do Impressionismo foi sendo amadurecida através das tertúlias nos cafés que para os parisienses constituíam parte do ritual da vida quotidiana, no aspeto do relacionamento social. Destacam-se neste caso, os cafés Guerbois e Nouvelle-Athènes por serem os mais frequentados por artistas Impressionistas, por críticos e por intelectuais; as discussões que aí aconteciam despertavam uma tal vivacidade e animação de espírito que deram origem às ideias sustentadoras dos vários percursos artísticos individuais.

A 1ª exposição impressionista foi feita no atelier do fotógrafo Nadar em 1874 pois os Salões Oficiais rejeitavam qualquer tipo de pintura que se afastasse das normas estabelecidas pelas Academias. O nome “Impressionismo” surgiu quando um crítico apelidou em tom irónico, de “impressionante”, a obra do artista Claude Monet “Impressão Sol Nascente”, caracterizada por pinceladas rápidas e por cores misturadas diretamente na tela. Depois desta, os pintores Impressionistas realizaram ainda mais 8 exposições em conjunto ao longo da década de 70 e 80 do século XIX.


Antecedentes artísticos e influências


A pintura impressionista afirmou-se com base em variadas influencias: em primeiro lugar o estilo apresentado na representação da natureza, nas paisagens de Constable e Turner, pintores do Romantismo; a preferência pela paleta clara e as sombras coloridas os impressionistas foram buscar à pintura de Delacroix; a representação atmosférica da pintura lembra a pintura naturalista de “ar livre” e a representação objetiva do real identifica-se com a atitude antiacadémica de Courbet. Outros aspetos podem considerar-se, sobretudo os que dizem respeito aos novos enquadramentos e perspetivas (ponto de vista aéreo) que foram revelados pela descoberta da fotografia. Os artistas libertavam-se deste modo da cópia fiel da Natureza e concentravam-se no estudo dos efeitos lumínicos sobre os objetos. Foi também nesta altura que chegavam a Paris as estampas japonesas que iam prenchendo o gosto pelo exotismo romântico ainda vigente entre a classe burguesa. Estas estampas eram comercializadas nas lojas parisienses e captaram a atenção dos artistas que reconhecerem nelas novas técnicas de representação, uso da cor e da expressão. Tornaram-se mesmo uma referência muito importante para os novos pintores que delas captaram o linearismo, a planificação das formas de cores sem gradação, o decorativismo, a execução menos precisa e pouco detalhada do real.

Foram também muito importantes para os artistas, as descobertas científicas que resultaram dos estudos feitos sobre cor- luz e perceção feitos por homens como Chevreul, Young e outros. Tais revelações foram de tal importância que levaram os artistas a simplesmente recusarem o tratamento da luz-cor feitos nas academias.

Também as descobertas técnicas que levaram à produção industrial de tintas em tubo facilitaram a pintura, porque permitiram aos artistas pintarem livremente sem necessidade de misturar tintas - pela primeira vez aplicavam-nas diretamente na tela.


Os aspetos inovadores e o impacto do Impressionismo


Os pintores impressionistas foram inovadores pelo uso de pinceladas pequenas, nervosas, executadas com grande rapidez (ao ar livre); usavam também cores fortes retiradas diretamente dos tubos que eram aplicadas segundo a lei das complementares* e contrate simultâneo** . O objetivo era obter a fusão dos tons no olho do espectador: a mistura ótica (totalmente pura) substituia assim a mistura na paleta.

Também inovadora na representação, era a dissolução das formas, superfícies e volumes, numa apresentação de contornos pouco nítidos que atenuava o carácter matérico das formas; essa representação foi apresentada em novas temáticas associadas à vida citadina moderna; cenas de vida social e lazeres citadinos. A preferência dos impressionistas pela pintura de paisagens relacionava-se com os estudos sobre a cor-luz e de como se pode percecionar os efeitos luminosos na natureza de acordo com as horas do dia ou com as condições atmosféricas.

O aspeto rude e inacabado, e ao mesmo tempo fluído e aéreo na pintura impressionista, dificultava a aceitação e o reconhecimento destes artistas. Foi sobretudo o papel de divulgação exercido através dos“Salões dos Recusados” (exposições anuais das suas obras) que permitiu a sua gradual aceitação.

Este fenómeno impressionista parisiense teve reflexos noutros pintores estrangeiros, nomeadamente em Itália, Estados Unidos da América e mesmo em Portugal .

Destacam-se como principais representantes dese movimento , os artistas: Edouard Manet – faz a transição do Realismo para o Impressionismo; Claude Monet – A sua obra “Impressão, sol-nascente” deu nome ao movimento impressionista - ; Camille Pissaro; Auguste Renoir, Edgar Degas, Berthe Morisot, Marie Cassat, Alfred Sisley, entre outros.

Este movimento artístico lançou as raízes do Neo-Impressionismo (com Seurat e Signac), e do Pós-Impressionismo (com Toulouse-Lautrec, Cézanne, Van Gogh, Gauguin) através do contacto directo desses com o grupo impressionista no café Guerbois..


*Contraste de complementares – a vista requer que diante de uma dada cor, esta seja compensada com a sua complementar.


**Contraste simultâneo – Diante de uma dada cor a vista gera espontaneamente a cor complementar, quando esta não está presente.



IMPRESSIONISMO NA LITERATURA


Por: Renan Bardine


(…) Aos impressionistas não interessa a fixação “fotográfica” das formas e das imagens. Valorizando a cor e os efeitos tonais, pretendem reproduzir a “perceção visual do instante”, as “impressões” provocadas pelo objeto no sujeito.

O Impressionismo não chegou a configurar, na literatura, uma escola, corrente ou movimento artístico, mas é uma atitude na expressão, perfeitamente identificável em autores como (…) Eça de Queirós e Cesário Verde entre os portugueses.


A denominação “Impressionismo”, já corrente na pintura e na música, passou a ser aplicada à literatura a partir dos irmãos Edmond e Lules de Goncourt para designar a “escrita artística“; uma linguagem vibrátil, com os diálogos e descrições convertidos em “estenografias ardentes” (…)

Do mesmo modo que o quadro impressionista se propõe a captar as mudanças mais subtis da atmosfera e da luz, a linguagem impressionista buscava figurar a variedade dos estados mentais com a maior precisão possível.


Surge assim um idioma literário colorido e nervoso, de sintaxe fragmentária e ritmos evocatórios, fazendo largo uso do imperfeito e da metáfora, adotado por narradores e dramaturgos como Anton Tchecov, Hugo von Hofmannsthal e Eça de Queirós.

(…)

A perceção do tempo e o fluxo da memória, a lem­brança crítica e a compreensão do sentido da experiência passada e a “procura do tempo perdido” são os motivos capitais da ficção impressionista, quase sempre ligada a um agudo senso de perda da qualidade da existência e à denúncia do estilo existencial moderno, marcado pela uniformização das ideias e atitudes e pelo desapareci­mento progressivo das formas genuínas de diálogo e comunicação.

O refinamento da prosa impressionista, as explo­rações psicológicas, o experimentalismo técnico dos nar­radores faz com que as obras impressionistas se revistam de um caráter “hermético” (= difícil), exigindo leitores intelectualmente sofisticados.

Ao contrário da vocação “democrática” do Realismo e Naturalismo, acessível ao leitor comum (Balzac, Dickens, Zola), o Impressionismo cultivou o “aristocrático prazer de desagradar” às massas mentalmente condicionadas, teleguiadas, da sociedade urbano-industrial. Sem concessões ao “gosto popular”, recusando-se a sacrificar a complexidade da visão artística e a soberania da língua literária à mentalidade dominante, (…)



Cesário Verde por Columbano, reproduzido em O Livro de Cesário Verde.




José Joaquim Cesário Verde 18551886) foi um poeta português, sendo considerado um dos pioneiros, precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Vida e Obra

(...)

Filho do lavrador e abastado comerciante e ferrageiro (...) aos 18 anos de idade Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias publicadas em jornais, destacando-se o semanário Branco e Negro[1] (1896-1898) e as revistas O Occidente[2] (1878-1915), Renascença[3] (1878-1879) e no periódico O Azeitonense[4] (1919-1922), e as actividades comerciais na Rua dos Fanqueiros herdadas do pai, descendente de comerciantes genoveses de nome Verdi. (...)

Em 1877 começou a apresentar sintomas de tuberculose pulmonar, doença que já tinha levado a sua irmã (...) e posteriormente seu irmão(...). Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884). (...)

No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a cidade e o campo, que são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.


O Binómio cidade/campo

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. Ao contrário de outros poetas anteriores, o campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável… Na cidade, o ambiente físico, cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos) / quintalórios velhos, edifícios cinzentos e sujos… O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesinhas… É neste sentido que podemos reconhecer a capacidade de Cesário Verde em trazer para a poesia o real quotidiano do homem citadino.

Ao ler-se o poema "De Tarde", pertencente a "Em Petiz", é visível o tom irónico em relação aos citadinos, mas onde o tom eufórico também sobressai, ao percorrer os lugares campestres ao lado da sua "companheira". A preferência do poeta pelo campo está expressa nos poemas "De Verão" e "Nós" (o mais longo), onde desaparecem a aspereza e a doença ligadas à vida citadina e surge o elogio ao ambiente campesino. A arte de Cesário Verde é, pois, reveladora de uma preocupação social e intervém criticamente. O campo oferece ao poeta uma lição de vida multifacetada (por exemplo, os camponeses são retratados no seu trabalho diário) que ele transmite com objectividade e realismo. Trata-se, pois, de uma visão concreta do campo e não da abstracção da Natureza.

A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, sendo nela que Cesário encontra os seus temas.(...)


A mulher em Cesário Verde

A vendedeira de "Num Bairro Moderno" (1877) representa a mulher do campo, desgraçada, trabalhadora e inocente. ("Rapariga com cesto ao ombro", por Teresa de Saldanha). A Milady de "Deslumbramentos" é um tipo feminino calculista, destrutivo e frívolo, associado com a aristocracia e a sociedade citadina ("Retrato equestre de Ana de Áustria", por Jean de Saint-Igny).

Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais. A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como "Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa.

A mulher (desfavorecida) do campo é-nos mostrada numa perspetiva diferente. A vendedora em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário.

"Depois de referir o cenário geral da acção em "Num Bairro Moderno", os olhos do sujeito poético retêm, como uma objectiva, um elemento novo - a vendedeira. A sua caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, anémica, feia, veste mal e tem de trabalhar para sobreviver, mas aparece envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende."


A poética de Cesário e as escolas literárias

Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas, embora seja visível a proximidade com Baudelaire, por retratar realidades quotidianas, o que o aproxima dos poetas portugueses do século XX e o fez incompreendido em seu tempo.

Embora Cesário Verde não pudesse ser enquadrado em nenhuma das escolas poéticas dos países de língua portuguesa da época podemos dizer que ele não poderia não estar relacionado às estéticas do seu tempo de alguma forma. Se se tiver em conta o interesse pela captação do real, por exemplo, ao considerarmos o tipo de cena a serem retratadas pelas quais o poeta optou, seus quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo. A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos. Se considerarmos o facto do poeta figurar plasticamente uma cena, poderia aproximá-lo, inclusive, do Parnasianismo. Porém, sua obra ainda tem um certo sentimentalismo que remete ao Romantismo e as imagens retratadas, muitas vezes de personagens doentes ou pobres, jamais poderiam ser retratadas por um parnasiano.

Aproxima-se dos impressionistas que captam a realidade mas que a retratam já filtrada pelas percepções, o que, definitivamente, o inscreve no quadro dos poetas fundadores da modernidade. Ecos de sua obra podem ser vistos nos poemas de Fernando Pessoa, parecendo Cesário Verde o predecessor do heterónimo Álvaro de Campos de Opiário e sendo citado várias vezes por Alberto Caeiro e Bernardo Soares.


Importância da representação do quotidiano na poesia de Cesário Verde


A observação das situações do quotidiano é o ponto de partida preferencial para os poemas de Cesário Verde. É o mundo real, rotineiro, que é retratado e analisado, servindo de suporte às ideias e sentimentos do poeta.

Os sujeitos poéticos criados por Cesário Verde são atentos ao que se passa. Aquilo que para outro transeunte seria uma banalidade é, na perspectiva do poeta, parte de um quadro do real. Veja-se que antes de se focar numa situação particular, que prenda a atenção, o poeta dá-nos uma visão geral do ambiente: "Dez horas da manhã, os transparentes/Matizam uma casa apalaçada(…)E fere a vista, com brancuras quentes, a larga rua macadamizada" (em "Num bairro moderno"). Mas, apesar de existirem situações particulares, estas poderiam ser integradas no movimento quotidiano de uma rua de uma cidade onde "(…) rota, pequenina azafamada,/Notei de costas uma rapariga" (em "Num bairro moderno"), mas que para o sujeito poético tomam uma nova dimensão. Um processo análogo pode verificar-se em "Cristalizações", onde as primeiras estrofes constituem uma visão panorâmica, para se focar mais à frente nos "calceteiros" ou na "actrizita". É essencialmente destacado o quotidiano urbano, onde o sujeito poético deambula, sendo o poema "O sentimento de um ocidental" aquele em que é mais clara a descrição do dia-a-dia como ponto de partida para a revolta contra a vivência desumana da cidade. Aliás, Cesário Verde está longe de se deixar na passividade da observação casual, e repara naquilo, que tendo-se tornado parte de cada dia, é um factor de animalização e doença. Outras vezes, partindo da realidade, transfigura-a, num impulso salutar, em que tudo parece tomar formas orgânicas e vivas em oposição ao emparedamento das ruas da cidade: "Se eu transformasse os simples vegetais, num ser humano que se mova e exista/Cheio de belas proporções carnais?!".


Linguagem e estilo

Eis algumas das características estilísticas e linguísticas: vocabulário objectivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo (daí poeta-pintor-calceteiro b ); pormenor descritivo; mistura o físico e o moral; combina sensações; usa sinestesias, metáforas, comparações, hipálage; emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo; quadras, em versos decassilábicos ou versos alexandrinos; utilização do "enjambement".*


* Enjambement ou encadeamento ou cavalgamento é quando um verso continua no seguinte, sintática, semântica e ritmicamente, este tipo de verso transmite a idéia de continuidade, de envolvimento, de seqüência.

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  • marianeves15031958

Atualizado: 15 de dez. de 2021

contexto histórico


SIMBOLISMO -

A tendência expressiva que na Europa dominava os anos 80 e 90 do século XIX é designada por “Simbolismo”. Este termo exprime um gosto que se pretende afirmar como reação ao naturalismo, na literatura, na pintura e na música. Pretende atingir uma acentuada visão do mundo, orientada para a perceção e a valorização da realidade interior, misteriosa, profunda e sugestiva, ligada mais à evocação do que à descrição.

Verifica-se neste período uma necessidade de encontrar meios estilísticos capazes de traduzir a complexidade do espírito do homem moderno, as suas sensações, as suas ideias.

No domínio literário, o simbolismo revela características próprias sobretudo em França e tem como guias espirituais Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé e Verlaine.

Gustave Moreau e Edilon Redon são os pintores mais capazes de opções ousadas, invulgares e rebuscadas. São artistas solitários descendentes dos Românticos e colocam a visão interior acima da Natureza.

Em finais do século XIX, já não se pensava que a ciência era capaz de explicar tudo, dado que a confiança no positivismo parecia irremediavelmente comprometida: os simbolistas associaram-se a processos paracientíficos, nas suas obras fizeram incursões frequentes no espiritismo e no ocultismo, mas a dimensão física nunca deixou de existir: distanciaram-se das imagens plenas de vida, movimento e luz natural dos impressionistas, e apresentaram imagens estáticas e misteriosas como se pode observar nos quadros de Pierre Bonnard e Edouard Vuillard.

Não houve no entanto um sólido movimento simbolista nas artes figurativas, como aconteceu na literatura, o que torna difícil apontar critérios precisos para falar dos vários artistas.

O simbolismo de Moreau, Redon e Puvis de Chavannes é considerado como o primeiro simbolismo do século XIX; foi uma produção muito heterogénea nas realizações pictóricas. Esse simbolismo é diferente do que nasceu depois mais tarde em Pont-Aven ; àquele podemos chamar “Simbolismo dos anos 1860-70”, ainda que se prolongue com Rodin, até aos começos do século XX. Precede o Impressionismo, mas logo segue paralelo na arte de Paul Gauguin e no Cloisonismo.

Segundo a conceção simbolista, o real não se limita ao material, mas estende-se ao sentimento e a contemplação interior leva à compreensão transcendental donde todas as coisas tiram o seu significado.

Alguns pintores como Odilon Redon, Gustave Moreau e Puvis de Chavannes regiram ao Naturalismo e desenvolveram uma pintura orientada para a valorização da realidade interior, misteriosa e profunda.

Enquando Odilon abordava o mistério e o enigma em composições delicadas e subtis, Moreau apresentava obras cheias de fantasia, sensualidade e misticismo, com destaque nas texturas e cores luxuosas e brilhantes. Já Puvis de Chavannes preferia formas simples, de grandes manchas coloridas, e atmosferas cheias de luz e cores pouco naturais.

Com Paul Gauguin e Émile Bénard que fundaram a Escola de Pont-Aven na Bretanha, as imagens tornam-se estáticas,as formas são bidimensionais, de contornos lineares, visando alcançar a essência das coisas - aquilo que Gauguin designava por Sintetismo. Para estes artistas o simbolismo não era só um ideal artístico, mas também uma prática de vida.

Foi o que se passou igualmente com o grupo que se autodenominava Nabis (“Profetas”), artistas animados de um espírito iniciático, que impunham a si mesmos um tipo de vida rígido, numa ética que desprezava a existência burguesa monótona e vulgar. Nas conversas entre Bonnard, Vuillard, Paul Sérusier, Maurice Denis aparecem termos como sintetismo e cloisonismo que correspondem a estilos ou técnicas ao serviço do Simbolismo. Estes artistas criaram formas onde a natureza surgia estilizada, recheada de valores místicos, elegantemente reproduzida através do arabesco, da curva e da técnica de mancha lisa. A pintura nunca atingiu a autonomia da forma e da cor, mas propôs as bases de novas linguagens que seriam desenvolvidas pelas vanguardas do século XX.

Antecedentes do simbolismo – Pre-Rafaelismo

O Pré-Rafaelismo foi um movimento artístico e literário inglês de meados do século XIX, colocando como expoente da pintura europeia, as obras anteriores a Rafael: propôs o regresso à sua linha, que tinha sido adulterada pelos grandes pintores do Renascimento.

Adotou uma técnica de pintura bastante acabada, próxima do fresco, desenvolvida na “Irmandade de vida comum”, onde se destacam as obras de Rossetti, Hunt e Millais.

O pré-Rafaelismo (1848) reagiu contra o Academismo do século XVIII e contra a sua própria época, tendo como objetivo erguer o nível da pintura inglesa e incutir-lhe maior seriedade.

Os fundadores do movimento: Millais, Hunt e Rossetti criaram uma associação ou irmandade à semelhança de outro grupo já existente, os Nazarenos, embora não tenham vivido como eles, submetidos a uma regra semimonástica.

Fundamentalmente o Pré-Rafaelismo preconiza a adoção de uma disciplina semelhante à dos Primitivos Italianos* anteriores à época de Rafael – daí provém a designação de Pré-Rafaelismo; procura a sua inspiração na Idade Média, época que fascinou sempre os românticos pela sua religiosidade. Os Pré-Rafaelitas estavam de facto, emotiva e misticamente interessados neste medievalismo. Até a própria técnica de pintura foi afetada e estes artistas regressaram instintivamente à técnica do fresco, conseguindo um pormenor e um acabamento esmerados que distinguem as suas obras – veja-se “Ofélia”**- de Millais) e que está na base da sua doutrina de regresso à verdade, ou de fidelidade à Natureza, doutrina já expressa na obra poética de William Wordsworth.

Com William Morris e Edouard Burne-Jones, Dante Gabriel Rossetti inaugura-se uma nova fase da pintura Pré-Rafaelita, e como movimento, ultrapassou, na verdade o domínio da pintura para se apresentar como um ideal a impor a uma sociedade, ideal este que pretendia reagir contra a especialização e contra a máquina, (por exemplo, estes pré-rafaelitas procuraram que a arte permeasse todas as produções da sociedade) e voltaram-se naturalmente para o artesanato, tendo produzido vidros, mobiliário, tapeçarias, etc. o célebre John Ruskin não era um pré-rafaelita, mas contribuiu para o movimento, na medida em que lhe definiu o seu credo artístico.


*Nestes artistas toscanos (Botticelli, Lippi, Ghirlandaio), anteriores a Rafael, o ideal de elegância gráfica que caracteriza a sua pintura adauire um estilo requintado baseado na pureza do denho, que foi retomado no século XIX por William Morris e pela Arte Nova em geral.



**”Ofélia” de Millais, é um tema de Shakespeare que se encarrega de valores alegóricos - o contraste entre o suicídio e o meio utilizado para o concretizar (a água límpida de um riacho florido) indica que a morte é aparente e irreal, apontando-a como anunciadora de renascimentos futuros.


A Escola de Pont-Aven

A partir de 1873, atraídos pelo encanto de sabor arcaico que emanava de toda a Bretanha, alguns artistas parisienses começaram a frequentar a pequena localidade de Pont-Aven reunindo-se na depois famosa pensão de Marie-Jeanne Gloanec, mas só entre 1886-90 se desenvolveria aquele convívio de artistas que ficou conhecido por Escola ou Grupo de Pont-Aven e que corresponde às várias estadas de Gauguin naquela região, a primeira das quais se verificou em 1886 e e cujo facto mais importante foi o seu encontro com Émile Bernard.

Neste período o Impressionismo começava a estar ultrapassado na pintura de Gauguin; o pintor passou a empregar muitas vezes nas suas discussões sobre arte, a palavra “Síntese”. Foi na segunda das suas estadas (1888) que praticamente se desenvolveram os contactos entre os pintores que frequentavam a região, nomeadamente Bernard e Sérusier. Este foi entre todos, o mais dedicado admirador de Gauguin e o que transmitira a sua mensagem aos jovens da academia Julian, onde se constituíra o Grupo – os Nabis.

Pintando em conjunto e conversando acuradamente sobre as ideias artísticas individuais, formularam o Sintetismo, definido como a simplificação concentrada das formas que exprimem uma ideia.

Sintetismo e Cloisonismo são termos que aparecem intimamente ligados nas suas conversas e correspondem a estilos ou técnicas ao serviço do Simbolismo.

A técnica do cloisonismo foi adotada pelos pintores do Grupo e Sérusier estabeleceu a teoria correspondente - a “Luta de Jacob com o Anjo” constituiu a realização mais notável das novas teorias.

Gauguin e o Simbolismo:

A sua pintura rompe com o Impressionismo no entendimento da cor, e na interpretação da natureza. Afastou-se de Van Gogh, Cézanne e Pissarro, trocando Paris porPont-Aven, longe da sociedade burguesa e industrial, à procura da pureza original. Conheceu em Pont-Aven (Bretanha), os pintores Bénard e Sérusier que usavamm nas suas obras, um estilo de desenho simplificado, com contornos acentuados e cores não

naturais inspirado na arte popular. Conjugando esta referência com as influências da estampa Japonesa, e da arte do vitral, o artista construiu uma arte de formas planas e simplificadas, fechadas com uma linha escura (cloisonismo). A cor ganhou autonomia, afastando-se da realidade; tornou-se simbólica, anunciando o expressionismo. As formas da natureza e as proporções das figuras aparecem por vezes deformadas, acentuando o carácter decorativo da obra.

Numa atitude simbolista, Gauguin defendia que a arte deve reflectir mais do que o

exterior das coisas; deve revelar o mundo do espírito, dos mitos e da magia. Assim, na sua fase de Pont-Aven, a temática religiosa revelava uma abordagem claramente simbolista, cheia de símbolos místicos, refletindo ao mesmo tempo, a simplicidade da vida rural.

No Taiti, pelo contacto com a cultura nativa, desenvolveu uma pintura de interpretações mágico-religiosas, onde as personagens revelavam o primitivismo e a inocência, no seu entender, necessários para a renovação da arte da civilização do Ocidente,

O Cloisonismo

Por analogia com a técnica de trabalho em esmalte que distribui a matéria vitrificada em compartimentos formados por lamelas metálicas, este vocábulo designa na pintura, a aplicação de princípios semelhantes essencialmente definidos pela obra de Paul Gauguin. Na sua obra desviara-se já da análise luminosa impressionista, acentuando as linhas de contorno das formas, que enchia com cores puras, obtendo assim maior expressão decorativa resultante do “arabesco” conseguido; desistia de sombras e gradação de tons e distribuía cores arbitrariamente. Sendo admirador da estampa japonesa, tirava dela o impulso para estas transformações num aproveitamento diferente do que tinham procurado os impressionistas.

O Sintetismo

Foi uma proposta de pintura que preferia formular sinteticamente as composições fazendo jogar largos planos de cores lisas, planas, delimitadas ou não por contornos mais ou menos fortes.

Supõe-se que “a síntese” foi evocada pela primeira vez por Maurice Denis ao referir-se ao “Talismã”, quadro pintado por Sérusier sob orientação de Gauguin em 1888, o qual se encontra na origem da nova estética. Além do próprio Denis, também Vuillard, cerca de 1891 praticou o Sintetismo.

Simbolismo do Grupo os Nabis

Este grupo foi formado em 1888 teve influências de: Gauguin, Puvis de Chavannes e Odillon Redon, e foi buscar também influências à arte popular, às estampas japonesas e até aos Pré-Rafaelitas ingleses.

Nas obras dos Nabis, os temas revelam o gosto pela intimidade, e pelos aspetos do quotidiano nas ruas, jardins, merendas campestres. Tornam-se no entanto secundários face à evidência do decorativismo e da deformação das figuras que vão ao encontro do desejo da expressão livre e pessoal dos artistas.

A influência dos Nabis tanto na pintura como nas artes decorativas revelou-se sobretudo na elevação do nível destas últimas, (o contributo nas artes cénicas, ilustrações e cartazes), e marcou quase todas as manifestações artísticas do fim do século.


LITERATURA




Eugénio de Castro e Almeida ( 18691944) foi um poeta português.


Biografia

Por volta de 1889 formou-se no Curso Superior de Letras (em Lisboa), vindo mais tarde a ensinar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Funda a revista "Os Insubmissos" com João Menezes e Francisco Bastos ainda nos últimos anos da sua licenciatura, mais propriamente em 1889. Colaborou com a revista que fundou e com a revista "Boémia nova", ambas seguidoras do Simbolismo Francês. Teve também colaboração em várias publicações periódicas do século XIX (...). Em 1890 entrou para a história da literatura portuguesa com o lançamento do livro de poemas "Oaristos", marco inicial do Simbolismo em Portugal.

A obra de Eugénio de Castro pode ser dividida em duas fases: na primeira, a fase simbolista, que corresponde a sua produção poética até o fim do século XIX, Eugénio de Castro apresenta algumas características da Escola Simbolista, como o uso de rimas novas e raras, novas métricas, sinestesias, aliterações e vocabulário mais rico e musical.

Na segunda fase ou neoclássica, que corresponde aos poemas escritos já no século XX, vemos um poeta voltado à Antiguidade Clássica e ao passado português, revelando um certo saudosismo, característico das primeiras décadas do século XX em Portugal. (...)





António Pereira Nobre ( 18671900), mais conhecido como António Nobre, foi um poeta português cuja obra se insere nas correntes ultra-romântica, simbolista, decadentista e saudosista (interessada na ressurgência dos valores pátrios) da geração finissecular do século XIX português. A sua principal obra, (Paris, 1892), é marcada pela lamentação e nostalgia, imbuída de subjectivismo, (...) Apesar da sua produção poética mostrar uma clara influência de Almeida Garrett e de Júlio Dinis, ela insere-se decididamente nos cânones do simbolismo francês. A sua principal contribuição para o simbolismo lusófono foi a introdução da alternância entre o vocabulário refinado dos simbolistas e um outro mais coloquial, reflexo da sua infância junto do povo nortenho. Faleceu com apenas 32 anos de idade, após uma prolongada luta contra a tuberculose pulmonar.


Biografia

“Ai quem me dera entrar nesse convento. Que há além da morte e que se chama a Paz!” — António Nobre, Soneto n°18, in .

António Nobre nasceu na cidade do Porto (...) numa família abastada (...). Passou a infância em Trás-os-Montes, na Póvoa de Varzim, Leça de Palmeira e na Lixa. Em 1888 matriculou-se no curso de Direito da Universidade de Coimbra, mas não se inseriu na vida estudantil coimbrã, reprovando por duas vezes. Optou então por partir, em 1890, para Paris onde frequentou a Escola Livre de Ciências Políticas (École Libre des Sciences Politiques, de Émile Boutmy), licenciando-se em Ciências Políticas no ano de 1895. Durante a sua permanência em França familiarizou-se com as novas tendências da poesia do seu tempo, aderindo ao simbolismo. Foi também em Paris que contactou com Eça de Queirós, na altura cônsul de Portugal naquela cidade, e escreveu a maior parte dos poemas que viriam a constituir a colectânea , que publicaria naquela cidade em 1892.

O livro de poesia , que seria a sua única obra publicada em vida, constitui um dos marcos da poesia portuguesa do século XIX. Esta obra seria, ainda em sua vida, reeditada em Lisboa, com variantes, lançando definitivamente o poeta no meio cultural português. Aparecida num período em que o simbolismo era a corrente dominante na poesia portuguesa coeva, diferencia-se dos cânones dominantes desta corrente, o que poderá explicar as críticas pouco lisonjeiras com que a obra foi inicialmente recebida em Portugal. Apesar desse acolhimento, a obra de António Nobre teve como mérito, juntamente com Cesário Verde, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, entre outros, de influenciar decisivamente o modernismo português e tornar a escrita simbolista mais coloquial e leve.

No seu regresso a Portugal decidiu enveredar pela carreira diplomática, tendo participado, sem sucesso, num concurso para cônsul. Entretanto adoece com tuberculose pulmonar, doença que o obriga a ocupar o resto dos seus dias em viagens entre sanatórios na Suíça, na Madeira, passando por Nova Iorque, pelos arredores de Lisboa, pela então chamada estância do Seixoso (na Lixa) e pela casa da família no Seixo, procurando em vão na mudança de clima o remédio para o seu mal.(...)


Deixou inédita a maioria da sua obra poética. Apesar da morte prematura, e de só ter publicado em vida uma obra, a colectânea , António Nobre influenciou grandes nomes do modernismo português, como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Alfredo Pedro Guisado e Florbela Espanca, deixando uma marca indelével na literatura lusófona.(...)


Obra

“Quando ele nasceu, nascemos todos nós. A tristeza que cada um de nós traz consigo, mesmo no sentido da sua alegria é ele ainda, e a vida dele, nunca perfeitamente real nem com certeza vivida, é, afinal, a súmula da vida que vivemos — órfãos de pai e de mãe, perdidos de Deus, no meio da floresta, e chorando, chorando inutilmente, sem outra consolação do que essa, infantil, de sabermos que é inutilmente que choramos.” Fernando Pessoa,'Para a Memória de António Nobre', (...)

António Nobre referindo-se ao seu único livro publicado em vida, (1892), declara que é o livro mais triste que há em Portugal. Apesar disso, e de ser real o sentimento de tristeza e de exílio que perpassa em toda a sua obra, ela aparece marcada pela memória de uma infância feliz no norte de Portugal e pelo relembrar das paisagens e das gentes que conheceu no Douro interior e no litoral português a norte do Porto, onde passou na infância e juventude, e em Coimbra, onde começou estudos de Direito.

Na sua poesia concede grande atenção ao real, descrito com minúcia e afecto, mesmo se à distância da memória e do sentimento de exílio que entretanto o invadira. Este sentimento, só aparentemente resultado da sua ida para Paris, estará presente em toda a sua obra, mesmo naquela que foi escrita após o seu regresso a Portugal.

(...) em toda a obra de António Nobre está presente a procura de um regresso a um passado feliz, que transfigura a realidade, poetizando-a e aproximando-a da intimidade do poeta. Estas características da sua obra, que reflectem as influências simbolistas e decadentistas que recebeu em Coimbra e Paris, são acompanhadas de alguma ironia amarga perante o que achava ser a agonia de Portugal e a sua própria, particularmente na fase final da sua vida na qual as circunstâncias críticas do seu estado de saúde contribuíram em muito para as características da sua obra.

Em todos os seus livros ( e os póstumos Primeiros versos e Despedidas), bem como no seu abundante epistolário, está presente um sentimentalismo aparentemente simples, reflectido nos temas recorrentes da sua obra: a saudade, o exílio, a pátria e a poesia. Este sentimentalismo ganha uma dimensão mítica, por vezes um certo visionarismo, na procura de um passado pessoal entretanto perdido pelo desenraizamento da sua pátria ou pelo sentimento de amargura a sua estagnação lhe causa, como se percebe no seu poema Carta a Manuel.

(...)

Estilisticamente, António Nobre, recusou a elaboração convencional, a oratória e a linguagem elevada do simbolismo do seu tempo, procurando dar à sua poesia um tom de coloquialidade, cheio de ritmos livres e musicais, acompanhado de uma imagística rica e original. Nesta ruptura com o simbolismo foi precursor da modernidade. Marcantes, ainda, na sua obra são o seu pessimismo e a obsessão da morte (como em Balada do Caixão, Ca(ro) Da(ta) Ver(mibus), Males de Anto ou Meses depois, num cemitério), o fatalismo com a sua predestinação para a infelicidade (como em Memória, Lusitânia No Bairro Latino ou D. Enguiço) e o apreço pela paisagem e pelos tipos pitorescos portugueses (como na segunda e terceira partes de António, Viagens na Minha Terra ou no soneto Poveirinhos! Meus velhos pescadores).

(...)

Apesar do escasso número de volumes da obra de António Nobre, ela constitui um dos grandes marcos da poesia do século XIX e uma referência obrigatória da Literatura Portuguesa. Aquele autor é assim, à semelhança de outros autores de obra quase única, como são Cesário Verde e Camilo Pessanha, uma figura incontornável da poesia lusófona.




Camilo de Almeida Pessanha ( 18671926) foi um poeta português.[1]

É considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação.[2] A sua obra influenciou escritores como Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Wenceslau de Moraes, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade.[carece de fontes]


Vida

Nasceu como filho ilegítimo de Francisco António de Almeida Pessanha, um aristocrata estudante de Direito e de Maria Espírito Santo Duarte Nunes Pereira, sua empregada, (...).

Tirou o curso de direito em Coimbra. Procurador Régio em Mirandela (1892), advogado em Óbidos, em 1894, transfere-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor de Filosofia Elementar no Liceu de Macau (...) Entre 1894 e 1915, voltou a Portugal algumas vezes, para tratamentos de saúde, tendo, numa delas, sido apresentado a Fernando Pessoa, que era, como Mário de Sá-Carneiro, apreciador da sua poesia.

(...)

Publicou poemas em várias revistas e jornais, mas o seu único livro Clepsidra (1920), foi publicado sem a sua participação (pois se encontrava em Macau) por Ana de Castro Osório, a partir de autógrafos e recortes de jornais. Graças a essa iniciativa, os versos de Pessanha se salvaram do esquecimento.[1] (...)


Obra e características estéticas

Além das características simbolistas que sua obra assume, já bem conhecidas, antecipa alguns princípios de tendências modernistas.

Buscou em Charles Baudelaire, proto-simbolista francês, o termo “Clepsidra”, que elegeu como título do seu único livro de poemas, praticando uma poética da sugestão como proposta por Mallarmé, evitando nomear um objeto direta e imediatamente.[3]

(...)

Junto de sua fragmentação sintática, que, segundo a investigadora da Universidade do Minho Maria do Carmo Pinheiro Mendes, substitui um mundo ordenado segundo leis universalmente reconhecidas por um mundo fundado sobre a ambiguidade, a transitoriedade e a fragmentação,[13] podemos encontrar na obra de Camilo Pessanha, (...) duas características que costumam ser mais relacionadas à poesia moderna que ao Simbolismo mais convencional.

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  • marianeves15031958

Atualizado: 17 de dez. de 2021

CONTEXTO HISTÓRICO - Modernismo


O mundo entre 1905-1960 - Da Exposição dos Fauves até aos anos 60.

Os primeiros 60 anos do século XX foram atravessados por 2 grandes guerras: a de 191418 e a de 1939-45. Essas primeiras décadas foram também palco de revoluções importantes, salientando-se a Revolução Socialista Soviética.

Embora mundiais, as duas Grandes Guerras incidiram sobretudo sobre a Europa que pagou uma fatura elevada em mortes e destruições. A principal consequência foi o declínio deste continente a favor de outras potências, principalmente dos EUA.

Com a 1ª Grande Guerra veio a decadência económica, agravada pela Grande Depressão de 192; com a 2ª G. Guerra, a Europa assistiu à perda da hegemonia política e cultural. O país beneficiado foi o Estado Americano que se assumiu como grande potência económica e política, dividindo com URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), o domínio mundial, sobretudo na pós-segunda Guerra, entre 1945 e 1960, o chamado período da “Guerra Fria”.

Por outro lado, essas guerras aceleraram o desenvolvimento científico e técnico nas principais potências, que num primeiro momento, teve por base as pesquisas feitas para a produção de novos armamentos, mas depois, em tempo de paz, as pesquisas fizeram-se ao serviço do capitalismo industrial. Sucederam-se numerosas descobertas e invenções que alteraram definitivamente o quotidiano das populações tanto no trabalho como no lazer, nas deslocações, na saúde…Foi a euforia das invenções.

O crescimento da industrialização e o desenvolvimento das tecnologias alteraram também o comportamento das populações, onde a mulher assumiu cada vez mais um papel ativo fora do lar.

As cidades cresceram exponencialmente, tornando-se símbolos da modernidade; a publicidade invadiu as ruas e os jornais, ao mesmo tempo que surgiam novos meios de informação e comunicação, como a rádio e o cinema. Gerou-se assim a chamada “Cultura de Massas”.

Refletindo essas mudanças, o pensamento científico, rejeitou o positivismo otimista do século XIX para abraçar o relativismo. Nas letras e nas artes, a crise de valores instalou-se, explorando-se nessas áreas o sentido do absurdo e a contestação socialmente provocatória.


DA EUROPA PARA A AMÉRICA…

Sem guerra no seu território e com uma economia industrial em expansão, os EUA atraíram ao longo dos primeiros 60 anos do ´seculo XX, os grandes fluxos imigratórios provenientes da Europa. Contrariamente ao que havia acontecido no século XIX, a população que chegava, não era só gente humilde à procura de novas oportunidades de vida, mas gente que fugia da guerra e suas violências. Assim, uma grande percentagem dessa gente pertencia às classes médias e médias altas, instruídas e preparadas- entre eles, artistas, professores, médicos, cientistas…

Os EUA souberam aproveitar esta mais-valia humana, criando a nível oficial, programas de investigação em diversas áreas. Em pouco tempo passaram a ser a 1ª potência mundial no desenvolvimento industrial, na tecnologia e na qualidade de vida material. O mesmo aconteceu nas artes e nas letras, com muitas novas correntes a terem o seu berço além Atlântico.


AS RUTURAS: AUTORITARISMOS E NACIONALISMOS

Os horrores da época. Novos mundos e novas linguagens artísticas


Se a 2ª Grande Guerra marcou o fim dos impérios tradicionais, a vitória das democracias ocidentais, e o princípio das nacionalidades, as perturbações económicas da Grande Depressão iniciada em 1929 haveriam de conduzir a uma profunda crise dessas mesmas democracias nos atribulados anos 30.

Foi nessa crise que emergiram novos autoritarismos – como o Fascismo de Mussolini; o Nazismo de Hitler, e o Corporativismo dos Estados Ibéricos, entre outros. Os exagerados nacionalismos que suportaram estes novos autoritarismos deram origem a rivalidades imperialistas que conduziram à 2ª Grande Guerra e seus horrores- mortes, destruição, racismo e intolerância, holocausto judeu, explosão atómica…

No Pós-Segunda Guerra o mundo estava mudado: no xadrez político mundial, a Europa Ocidental “apagara-se” para dar protagonismo a dois blocos antagónicos que rivalizavam em equilíbrio instável – o bloco liberal e capitalista, liderado pelos EUA, e o bloco socialista liderado pela URSS.

A descolonização avançava nos países da África e do Oriente, fazendo surgir novas nações. As questões ecológicas e humanitárias ganharam relevância na voz de partidos extremistas e até no seio de organismos internacionais como a ONU (Organização da Nações Unidas) que redigiu em 1948 a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

As artes registaram todas estas mudanças quer colocando-se ao serviço dos poderes instituídos, quer na sua oposição, dando voz aos apelos surdos da Humanidade.



O Cinema

O TRIUNFO DO SONHO E DO MITO. UMA NOVALINGUAGEM.


Se a fotografia é o registo “congelado” da imagem num dado momento, o cinema (que dela descende), é a captação da imagem em movimento, a forma mais fidedigna e real de fixar a vida.

A sua invenção deu-se em finais do século XIX, com as experiências e descobertas de Eadweard Muybridge (”sequência de um cavalo a correr”, captada em 1878) e dos irmãos Lumière (Auguste e Louis) que inventaram o cinematógrafo e realizaram as duas primeiras sequências célebres: “Saída dos operários da Fábrica Lumière” e o “o Grande Café de Paris (ambas de 1894-95). O sucesso das primeiras apresentações do cinematógrafo deu rapidamente origem a uma indústria de filmes que viria a ter o seu 1º apogeu nos EUA após 1928, com a criação do “sonoro” o cinema falado (para cuja descoberta contribuiu o inventor Thomas Edison com a criação do “cinetoscope”). Desde então até hoje, o cinema não tem parado de crescer como indústria de entretenimento, e como arte, acompanhando os movimentos e tendências da evolução cultural, em geral. No seu trajeto foi assumindo vários papéis: documental, de entretenimento e de criação artística e estética, ficando ao nível da literatura, da poesia, e de outras artes. Pelo seu impacto nas sociedades, esta nova arte tem sido o responsável dos grandes mitos modernos.


O CHARLOT, de Charles Spencer Chaplin



Charlot é uma personagem do cinema mudo, a 1ª a ganhar fama e notoriedade, enchendo plateias. Apresenta-se como um homenzinho grotesco, de rosto demasiado branco, onde sobressaem os olhos e o bigodinho preto; com roupas de fraque que não lhe assentam, chapéu de coco e bengala bamboleante. “Viveu” ao longo de vários filmes desde 1914 a 1936, desenvolvendo uma “performance” sempre em registo cómico apoiado numa mímica expressiva, evoluindo do cómico da situação, para uma crescente crítica social e política.

O seu criador foi o inglês Charles Spenser Chaplin, um homem multifacetado que foi ator, realizador, músico, empresário e dançarino, que foi autor de uma panóplia de filmes tendo como destaque obras como, Tempos Modernos ou ainda O Grande Ditador...



ARTES PLÁSTICAS entre 1905 e 0s anos 60 do século XX


Arte portuguesa nos primeiros 60 anos do século XX

A Arte portuguesa da 1ª metade do séc. XX revela um grande desfasamento cronológico em relação ao resto da Europa devido a várias circunstâncias:

1-a queda da 1ª República e as consequências da 1ª G.G. provocaram instabilidade política levando ao golpe de Estado em 1926;

2- a afirmação do regime autoritário do Estado Novo, com Salazar (a partir de 1933) que restringiu liberdades, nomeadamente na literatura e na arte.

Os principais marcos de produção artística após 1912 foram:

1- o I Salão dos Humoristas; - a 1ª Exposição dos Humoristas e Modernistas;

2- a publicação das revistas literárias-artísticas : Orfeu e Portugal Futurista.

Relativamente às exposições artísticas estão ligados a elas nomes como: Manuel Bentes, Eduardo Viana, Emmérico Nunes…

A Revista Orpheu foi da responsabilidade de criadores como: Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, José Pacheco, Santa-Rita Pintor e Almada Negreiros. Foram eles que deram origem ao Modernismo.

Após 1933, com o Estado Novo de Oliveira Salazar foi criado o SNI - organismo que controlava a produção intelectual e artística. Neste período os artistas e os intelectuais criavam à margem do Estado Novo, estimulados pelas ideias que parcamente chegavam a Portugal provenientes da Europa.

A partir dos anos 30, Portugal viveu a ditadura fascista do Estado Novo, sendo a arte e a cultura censuradas e pouco entendidas pelo poder político e pelo público.

Num primeiro momento, os artistas aproveitando uma certa indiferença e indefinição do poder político quanto à arte tentaram avançar no Modernismo através de exposições como a de 1935, de Vieira da Silva e Arpad Szénes. Porém a partir de 1940/44, o regime de Salazar passou a impor um plano artístico proibindo obras mais livres de “caráter subversivo”. Foi imposta mesmo uma” arte nacionalista” para dar corpo às ideias do Regime.

Na sequência das exposições internacionais de Paris de Nova Iorque e S. Francisco. Salazar mandatou António Ferro na organização, em 1940, da “Exposição do Mundo Português”.

A estrutura desta Exposição foi assegurada por um grupo de arquitetos, de passado modernista, dirigidos por Cottinelli Telmo. Os 560 mil metros quadrados de área aberta sobre o Tejo, e tendo os Jerónimos como pano de fundo, eram limitados a nascente por 2 grandes pavilhões: “Pavilhão de Honra e de Lisboa” e “Pavilhão dos Descobrimentos”.

Em Portugal, durante os anos 40 apontam-se os nomes de António Ferro e do Eng. Duarte Pacheco (ministro das Obras Públicas), que realizaram melhoramentos pelo país.

Nos anos 50, a grande evolução cultural do mundo ocidental no pós-guerra, estimulou os intelectuais portugueses, que, tanto na clandestinidade, como no país à margem do regime, evidenciaram uma liberdade criativa que se traduziu no 2º Modernismo. Estas criações surgiram em grupos de artistas como o Grupo Surrealista de Lisboa; foram tam bém importantes : a realização do 1º Congresso Nacional dos Arquitetos (1948), a 1ª Exposição de Arte Abstrata (1954), a produção de revistas como a “Vértice” e a “Seara Nova”. Destas realizações resultaram perseguições feitas pelo regime o que levou à emigração de muitos artistas.

Nos finais dos anos 60 houve uma certa abertura com Marcelo Caetano, que permitiu os mercados de arte em galerias de Lisboa de Porto, incrementados também pela inauguração da Fundação C. Gulbenkian em 1969.

Com o 25 de Abril de 1974 chegou finalmente a liberdade de pensar e criar.



Retrato de Fernando Pessoa é o título de duas pinturas de Almada Negreiros, onde este retrata o poeta Fernando Pessoa, o membro mais notável da Geração d’Orpheu, a que Almada também está associado.


LITERATURA

A Geração do Orfeu


A Geração d’Orpheu foi o grupo responsável pela introdução do Modernismo nas artes e letras portuguesas. O nome advém da revista literária Orpheu, publicada em Lisboa no ano de 1915.

Seguindo as vanguardas europeias do início do século XX, nomeadamente o Futurismo, os colaboradores da revista Orpheu propuseram-se, de acordo com uma citação de Maiakovski que Almada Negreiros terá usado mais tarde para caracterizar o Grupo, "dar uma bofetada no gosto público". Apesar disto, mantiveram influências de movimentos anteriores, tal como o Simbolismo e o Impressionismo.

Poetas como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, e pintores como Amadeo de Souza-Cardoso e Santa Rita Pintor reuniram-se em torno duma revista de arte e literatura cuja principal função era agitar as águas, subverter, escandalizar o burguês e pôr todas as convenções sociais em causa: o próprio nome "Orpheu" não fora escolhido por obra do acaso — Orfeu era o mítico músico grego que, para salvar a sua mulher Eurídice de Hades, teria de a trazer de volta ao mundo dos vivos sem nunca olhar para trás.

E era essa metáfora que importava aos homens da Orpheu, esse não olhar para trás, esse esquecer, esse olvidar do passado para concentrar as atenções e as forças no caminho para diante, no futuro, na "edificação do Portugal do séc. XX" (Almada Negreiros). A Geração d’Orpheu não contribuiu só para a modernização da arte em Portugal, mas foi responsável pela divulgação de alguns dos melhores artistas do mundo.


PORTUGAL FUTURISTA



Portugal Futurista foi uma revista portuguesa de que só saiu um número, em novembro de 1917. Tendo como director o futurista algarvio Carlos Filipe Porfírio (1895-1970), a revista pretendia ser a voz impressa do Futurismo em Portugal.[1]

O primeiro e único número da revista foi apreendido pela polícia pouco depois de posto à venda, na sequência de uma denúncia da "linguagem despejada" do texto "Saltimbancos", de Almada Negreiros. Segundo Fernando Pessoa, a apreensão deu-se quando a revista, tendo escapado por uma "sorte inexplicável" à censura prévia que vigorava em tempo de guerra, se encontrava já nas montras das livrarias.[2] A polícia, condescendente, consentiu que "os rapazes salvassem o maior número de exemplares que pudessem".[3]

A revista, que se vangloriava de uma hipotética tiragem de dez mil exemplares, era dirigida oficialmente por um aluno de belas-artes, Carlos Filipe Porfírio, mas quem nos bastidores terá realmente comandado as operações foi o pintor Guilherme de Santa-Rita. Uma grande fotografia sua acompanha um texto em que Bettencourt Rebello fala da "sensibilidade mediúnica" de Santa-Rita e afirma que ele era "o artista que o génio da época produziu" e "em Portugal, a mais completa síntese desta época de estranhas manifestações, que Picasso surpreendeu no seu alvorecer". A revista apresenta também quatro reproduções de obras de Santa-Rita Pintor.

Outro artigo, em francês, de Raul Leal, trata de uma das obras de Santa-Rita reproduzidas, considerando-a «la suprème réalisation du futurisme».

Na revista aparece também uma montagem de traduções de textos de Marinetti, Boccioni, Carrà, Russolo e Severini de 1910.

O «Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX» de Almada Negreiros termina da seguinte forma:

«O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades.»

De autores portugueses, a revista tem dois textos de Bettencourt Rebello, um sobre dobre Santa-Rita e outro sobre o futurismo; uma prosa ("Saltimbancos"), três poemas ("Mima-Fataxa", "Sinfonia Cosmopolita" e "Apologia do Triângulo Feminino"), o artigo "Bailados Russos em Lisboa" e o citado "Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX", todos de Almada Negreiros; dois poemas de Fernando Pessoa ("Episódios" e "Ficções de Interlúdio") e o texto "Ultimatum" de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa); poemas de Sá-Carneiro ("Três Poemas"); e o artigo "L’abstractionisme futuriste" de Raul Leal.

De autores estrangeiros, a revista inclui, além do "Manifeste des Peintres Futuristes" (uma colagem de textos dos pintores italianos acima citados), poemas em francês de Guillaume Apollinaire e Blaise Cendrars, o manifesto futurista Le Music-Hall de Marinetti (Milão, 29 de setembro de 1913, republicado no Daily Mail de 21 de novembro de 1913) e, em português, o "Manifesto futurista da Luxúria" de Valentine de Saint-Point.

A peça mais famosa desta revista é, contudo, o Ultimatum, de Álvaro de Campos, que poderá também ter incomodado as autoridades. Fernando Pessoa escreveu a propósito da obra do seu próprio heterónimo:

«É difícil imaginar como qualquer ministério, estando o país em guerra, poderia consentir na publicação de Ultimatum, que, original e magnífico como é, embora não germanófilo (pois é anti tudo, aliados e alemães), contém insultos contundentes contra os aliados, e bem assim contra Portugal e o Brasil, os próprios países aos quais, sem dúvida, Portugal Futurista se destinava.»[2]


As Artes Plásticas na Europa e no Mundo entre 1905 até aos anos 60


A arte sob o signo da provocação

FAUVISMO


Retrato de Madame Matisse (1905), por Henri Matisse



O Fauvismo foi o 1º movimento estético do século XX, e enquanto movimento de grupo foi também o mais curto. Nasceu das pesquisas cromáticas realizadas pelos pintores Henri Matisse e Albert Marquet em Paris, e Derain e Vlamink em Chatou.Oficializou-se no Salão de Outono de 1905 em Paris, onde recebeu o nome que deriva da palavra francesa “fauve” (= “fera”).

Ideologicamente, o Fauvismo faz a rejeição teórica de todas as tendências artísticas anteriores, bem como de todos os convencionalismos na pintura, embora acabe por derivar de muitas das conquistas pós-impressionistas, como as de Van Gogh, Cézanne e Gauguin. Essa rejeição era justificada pela demasiada fidelidade ao mundo visível e pela demasiada intelectualização que essas correntes trouxeram à arte. Os fauvistas negaram toda a intelectualização na arte, valorizando-a exclusivamente pelos elementos plásticos da linguagem pictórica e pela sua função decorativa e estética, promovendo a total autonomia do quadro (obra de arte) em relação ao real.

Para concretizar a sua ideia, os pintores fauves praticavam:

-uma pintura instintiva e imediata que fosse “expressão espontânea das emoções”;

-usavam cores fortes e puras, sintéticas (sem modelado- planas) em harmonias e contrastes;

-simplificaram/ sintetizaram formas, distorcendo volumes e perspetivas;

-assumiram a bidimensionalidade dos quadros, aproximando os planos;

-introduziram nas composições, linhas sinuosas aplicadas como arabescos decorativos, com caráter lírico e sensual.

-os temas não eram relevantes, pois consideravam que qualquer motivo servia.

Assim, as suas pinturas não tinham outro objetivo senão a comunicação estética feita pelos efeitos plásticos das cores e das formas (conceito da arte pela arte). Embora muitos tivessem experimentado o Fauvismo, o autor mais representativo do movimento, e a que ele se manteve ligado durante mais tempo foi o francês Henri Matisse



EXPRESSIONISMO

Contemporâneo do Fauvismo, o Expressionismo foi uma das tendências artísticas mais longas do séc. XX, perdurando sob outras roupagens e outros nomes até finais da 2ª Grande Guerra , estendendo-se para além dela.

Foi também um movimento muito abrangente, pois iniciado pela pintura, teve concretização na escultura, na arquitetura, na literatura (poesia, romance, teatro), na música e no cinema).

Nasceu na Alemanha por oposição ao Impressionismo e Pós-Impressionismo, o que ficou marcado no nome que lhe foi atribuído. Com efeito e tal como o nome indica, o Expressionismo é uma arte “de dentro para fora”, uma arte da alma, que pretende revelar o espírito humano, os seus sentimentos, os medos, as angústias e as ansiedades; a sua fragilidade e a sua força, o seu lado caricato e grotesco.

O Expressionismo foi uma arte comprometida com o Homem e com a denúncia social e política. Neste sentido, é bem o reflexo do momento histórico que se vivia na Alemanha da época, onde a industrialização acelerada e as tendências imperialistas haviam provocado um desenraizamento abrupto das populações campesinas e do modo de vida tradicional, e tinham feito crescer as cidades onde a miséria operária era cada vez mais visível e a marginalidade aumentava levando a uma crise de valores patente na degradação dos costumes burgueses.

Uniformizado por estes conceitos e objetivos, o 1º Expressionismo (o que ocorreu antes da 1ª G. Guerra) foi desenvolvido por dois grupos de artistas, cuja pintura apresentava diferentes particularidades.


“Fränzi perante uma cadeira talhada”, de Ernst Ludwing Kirchner, 1910


--O primeiro grupo foi “A PONTE” (Die Brucke) que se formou na cidade de Dresden em 1905 e durou até 1913. Teve como fundadores: E. Kirchner, E. Heckel; Otto Muller; Max Pechtein e K. Smith-Rottluff, aos quais se juntaram depois muitos outros. A pintura deste grupo caracteriza-se por:

-preferência de temas da vida social ou da vida íntima, à mistura com retratos e autorretratos, todos tirados da contemporaneidade do pintor e com incidência na vida burguesa, mas onde as personagens são mais importantes do que os cenários;

-uma execução técnico-formal marcada por:

-- imediatismo e espontaneidade no processo da criação;

-- predomínio do desenho sobre a cor e uso de um desenho grosseiro, anguloso, infantil e deformante;

-- formas naturalistas simplificadas, e rostos caricaturados ou em máscara;

--cores antinaturais, sem modelado, fortemente contrastadas, ora estridentes e gritantes, ora soturnas e “sujas”;

--composições em desequilíbrio, com erros de perspetiva ou ausência dela, e fundos lisos e neutros, exiguamente trabalhados;

-uma agressividade acentuada que punha a tónica na agressividade, no sofrimento, na violência, na raiva, na insatisfação, no desconforto… A intenção era dar a conhecer a alma humana em toda a sua verdade interior, mesmo que isso afrontasse a própria sociedade e chocasse o público.



O Cavalo Azul, Franz Marc, 1911


--O 2º grupo, O CAVALEIRO AZUL (Der Blaue Reiter) formou-se em 1910, em Munique e desfez-se em 1914, no início da 1ª G. Guerra. O seu fundador e principal mentor foi o artista russo Wassily Kandisnsky, ao qual se juntaram: Paul Klee, Franz Marc, Auguste Macke… Os pintores deste grupo concebiam a arte como expressão das suas experiências pessoais de vida em contacto com o Homem e a Natureza. A sua pintura caracterizava-se por:

-preferência por uma temática ligada à paisagem campestre e urbana, com cenas sociais incluídas, ou cenas da vida animal; e também por temáticas naturalistas de sentido alegórico;

-a execução técnico-formal era mais refletida e pensada, mas marcada por:

-- grande simplicidade de meios;

-- valorização da cor e da mancha cromática na construção de formas, que apareciam sintetizadas e /ou geometrizadas, com tendência para a abstração dos motivos;

--uso de cores antinaturais, mas claras e líricas, com sentido de harmonia;

--composições equilibradas, orientadas maioritariamente por linhas circulares e sinuosas, segundo ritmos musicais; --expressividade mais lírica e suave, cuja tónica residia numa emotividade calma e no sentido mágico e místico das cores e ritmos.

O seu objetivo era expressar a arte e a reflexão pessoal do artista sobre a vida e o mundo.


DADAÍSMO


"O Violino de Ingres" , Man Ray, 1924


O Dadaismo foi um movimento cultural de grande abrangência que envolveu a literatura, a pintura, a escultura, o teatro, a fotografia e o cinema), desenvolveu-se em Zurique (Suiça) e em Nova Iorque, quase em simultâneo. Após o fim da guerra, a dispersão geográfica dos membros destes dois grupos levou à formação de novos núcleos difusores do Dadaísmo, em vários pontos do mundo ocidental como Barcelona, Colónia, Hanôver, Berlim e Paris.

Ainda em Zurique o grupo publicou uma revista “Cabaret Voltaire” dirigida pelo romeno Tristan Tsara. Após o armistício de Novembro de 1918, o grupo transferiu-se para Paris onde causou sensação. Tratava-se de uma escola de vanguarda, animada de um grande desejo de liberdade criadora, e disposta a banir para sempre as tradições e as convenções. O seu desejo de chocar, de escandalizar, foi evidente e voluntário.

Conceptualmente o Dadaísmo explica-se como uma reação às sociedades burguesas e capitalistas e à cultura que elas defendiam. Essa reação foi motivada pela revolta contra os grandes sofrimentos causados pela guerra, os quais o Dadaísmo queria tornar visíveis e pelos quais culpabilizava os sistemas sociopolíticos vigentes.

O seu ideário proclamava também o vazio espiritual e o sentimento de absurdo, que a guerra instalara, tornando obsoletos todos os valores da cultura tradicional.

Os autores dadaístas acreditavam que, para construir uma nova sociedade, era necessário começar por destruir a que já existia, defendendo a ideia de que, “pela destruição também se cria”.

O nome do movimento que deriva da palavra “dada”, encontrada ao folhear ao acaso o dicionário – expressa exatamente essa noção de “nonsense” que estes artistas proclamavam. A arte dadaísta caracteriza-se por:

-nas temáticas abordadas, recorrer a assuntos provocatórios, explorando conteúdos insólitos e incongruentes, aparentemente sem sentido “nonsense”.

-na execução técnica usar técnicas provocatórias, quase todas inovadoras, e outras inspiradas no Cubismo (sobretudo o sintético) :

--na pintura, misturar colagens e objetos encontrados “objets trouvés”; usava fotomontagens, “merzbilders” (espécie de “assemblages” `à maneira cubista) e “rayografs” (impressão do papel de fotografia pela luz);

--na fotografia fez fotomontagens e rayografs; manipulou fotografias em laboratório;

--na escultura usou “assemblages” e inventou os “ready-mades” (peças já feitas, não manipuladas pelo artista, que privilegiavam a intenção conceptual, o conteúdo intrínseco, em detrimento da forma) contribuindo para revolucionar e modernizar os conceitos escultóricos.

--quanto à intencionalidade, a arte dadaísta pretendeu inquietar e provocar o público, afrontando os conceitos tradicionais sobre a arte, pondo-os em causa. O objetivo era promover a consciencialização da noção de absurdo e de vazio que pairava por detrás deles (um mero ato mental).

Ao contestar o conceito tradicional de arte, os dadaístas chegaram mesmo à sua negação, afirmando que a verdadeira arte era a anti arte. Segundo eles, a arte e o artista só deveriam ter lugar na nova sociedade se a ela fossem úteis. Consequentemente preconizavam o regresso do artista à condição de artesão especializado, e concediam à arquitetura, a primazia entre as artes.

Avançado em relação à sua época, o Dadaísmo não foi entendido pelo público em geral; mas teve consequências culturais e artísticas importantes:

--promoveu a discussão em torno do ensino das artes, tendo reflexo na Escola da Bauhaus;

--contribuiu para a evolução do conceito de arte e para o aparecimento de novas modalidades;

--passou influências conceptuais, técnicas e estéticas a outros movimentos como o Surrealismo, o New Dada, O Informalismo, a Arte Conceptual e a Arte Póvera.

Entre os artistas ligados a este movimento estão: Raoul Haussmsn, Hugo Ball, Kurt Schwitters (com os seus “merzs”, espécie de “assemblage”), Francia Picabia, Man Ray, Duchamp (criador e inventor do “ready-made”.

André Breton, o fundador do surrealismo também começou por ser dadaísta.


Os caminhos da Abstração


CUBISMO

O nome cubismo foi achado pelo crítico francês Louis Vauxcelles ao contemplar um quadro de Braque, onde as casas de uma paisagem se assemelhavam a cubos. Este pintor e Picasso, que trabalharam juntos e complementarmente entre 1907 e 1914, lançaram o Cubismo.

Os pintores que criaram o movimento procuraram desligar-se de toda a subjetividade, de toda a sentimentalidade, de todo o conceito religioso, espiritual, ou mesmo cósmico da arte, aspirando a reproduzir as formas puras, geométricas dos objetos. É uma tentativa para eliminar a perspetiva do pintor e para representar os objetos em si, desligados do observador.

O grande precursor desta corrente foi Cézanne, que procurou, segundo as suas próprias palavras, “tratar a natureza pelo cilindro, pela esfera, pelo cone…”. O poeta francês Apollinaire, aparentado com esta corrente, resumia-a bem quando disse que “a geometria é para as artes plásticas o que a gramática é para a arte do escritor”.

Trata-se efetivamente de uma arte de redução geométrica, que aspira a reproduzir, num só plano, todos os ângulos de perspetiva essenciais dos objetos.

O Cubismo foi uma arte profundamente anti-romântica, cuja influência sobre a arquitetura, sobre os objetos utilitários e sobre a decoração foi enorme. Os seus principais representantes além de Picasso e Braque, são Juan Gris e Léger.

Foi um movimento que constituiu uma das primeiras vanguardas plásticas do séc.XX, e é considerado como uma das raízes estéticas da arte abstrata.

Propôs novos modos de representação dos espaços e das formas com base na “invenção plástica” e em pressupostos teórico-científicos como as as mais recentes descobertas da Física - Teoria da Relatividade e o seu conceito de 4ª dimensão - e da Filosofia -conceito sociológico que afirma que o ser humano não se movimenta apenas nas 3 dimensões, mas também numa quarta não menos física, que é o tempo.


Os criadores do Cubismo , o francês Georges Braques e o espanhol Pablo Picasso, foram mais tarde seguidos por um grupo de artistas que com eles contactou em Paris, e do qual faziam parte Albert Gleizes, Jean Metzinger, Francia Picabia, Juan Gris, Marcel Duchamp, Robert Delaunay…

O Cubismo evoluiu em 3 fases distintas:


"Les demoiselles d'Avignon" , Pablo Picasso, 1907


-a 1ª fase foi a cézaniana- decorreu entre 1907-09- e caracteriza-se por:

--prática de temáticas de paisagem e figura humana em ateliê;

--representação racional e geométrica das formas, delineadas por linhas de contorno

quebradas;

--manutenção dos volumes; existência de perspetivas múltiplas com desdobramento de planos;

--rostos simplificados ou em máscara (influência das esculturas afriacanas); redução da paleta cromática.

O início desta fase deu-se com a obra célebre “As Meninas de Avinhão”-1907-Picasso.


“Ambroise Vollard”, de Pablo Picasso, 1910

-a 2ª fase foi a analítica-1909-12- foi a mais representativa do Cubismo, em que Braque e Picasso levaram mais longe os seus postulados teóricos. Caracterizou-se por:

--temáticas de ateliê , como retratos e naturezas-mortas;

--acentuada geometrização das formas, desdobradas em múltiplos planos (perspetivas múltiplas) totalmente achatados; total bidimensionalidade;

--bicromia (uso exclusivo de cinzentos e ocres).

Esta forma de representação resulta da visão simultânea e multifacetada dos vários planos do motivo observado. Isto levou a que o Cubismo fosse apelidado de pintura abstrata, o que estava longe da intenção dos seus autores.


“Violin Valse”, de Braque, 1913


-a 3ª fase – fase sintética-1912-14- representa um recuo em relação à 2ª fase, com o objetivo de tornar os motivos (naturezas-mortas, grupos de figuras e retratos) mais reconhecíveis.

--apresenta formas geometrizadas e planificadas, agora representadas em menor número de planos ou pontos de vista;

--retoma a policromia; emprega objetos reais, tridimensionais (areias, alfinetes, recortes de jornais, pautas de música…) sobre a superfície do quadro, por meio da colagem.

A 1ª e a 2ª fase são exclusivas de Braque e Picasso, os únicos a pintar dentro destes princípios. A 3ª fase, a sintética, marca a abertura do Cubismo a novos intervenientes.

A pintura cubista, embora de curta duração, teve consequências duradouras. A sua plástica criou uma nova estética que influenciou a produção artística na escultura (aparecimento da escultura abstrata), na arquitetura, no design e no estilismo. Marcou o Futurismo e acelerou o aparecimento do Abstracionismo.



PABLO PICASSO (1881-1973) "Guernica"



“GUERNICA”

Esta obra foi encomendada a Picasso para figurar no Pavilhão de Espanha da Exposição Universal de 1937, que iria decorrer em Paris.

O artista inspirou-se num episódio terrível da História de Espanha: o bombardeamento que a Legião Condor da aviação alemã efetuou sobre a pequena cidade basca de Guernica, com a autorização do General Franco, que chefiava os nacionalistas na guerra civil que então decorria. O ato foi de tal forma violento que chocou a Europa e Picasso resolveu utilizá-lo como tema para denunciar os horrores da guerra ao mundo.

Sobre uma enorma tela de 3,49x7,76, Picasso relata o tema através de várias figuras (mulheres, guerreiro, cavalo, touro) que se deslocam da direita para a esquerda, com o cenário da cidade por detrás, usando uma paleta reduzida de branco, negro, cinzentos e ocres.

A linguagem plástica utilizada é predominantemente cubista (simplificação geométrica das formas e desdobramento de planos; paleta cromática reduzida e bidimensionalidade), mas reflete também influências expressionistas (deformação significativa de certas formas, como a língua-punhal, pés e mãos enormes…) e futuristas (interpretação de planos em diagonal, o que imprime o movimento).

Contudo a intenção é nitidamente neorrealista. A composição da obra é clássica, constituída por 3 cenas (uma central, mais larga, e duas laterais, mais estreitas) como se fosse um tríptico

Também se entrevêem nesta obra outras influências: a decomposição dos planos e das formas, o grafismo e paleta mínima (negro, branco, cinzento) são de pendor Cubista;

e o simbolismo de algumas das personagens e objetos representados ligam a obra ao Surrealismo

Aspetos significativos

A representação da destruição da cidade e do sofrimento e da morte dos habitantes de Guernica, bombardeada por aviões alemães em 1937, no decurso da Guerra Civil

são manifestadas na arte como denúncia das consequências de um ato de violência e de terror;

A distorção expressiva das figuras (mãe com o filho morto nos braços, um guerreiro destruído pelos estilhaços, corpos destroçados, a agonia de um cavalo, a casa em chamas), tal como a combinação dos símbolos associados à realidade histórica, ou a

renúncia da cor limitada à paleta mínima: branco, preto e cinzento, ou ainda as formas geometrizadas, a decomposição e intersecção de planos são manifestamente usados para realçar a expressividade da obra.



FUTURISMO



Formas Únicas de Continuidade no Espaço, Umberto Boccioni, 1913


"O Futurismo é um movimento literário artístico, com repercussão europeia, mas fundamentalmente italiano. O primeiro manifesto futurista, redigido por Marinetti, aparece, todavia, num jornal francês, o “Figaro”, em 1909. Provoca uma profunda mudança de formas e de temas, caracterizando-se pelo que se poderá chamar um lúcido delírio ou uma involuntária embriaguez. Na poesia , substitui os tradicionais motivos de inspiração lírica, como a flor, a mulher, o amor, por outros que cantam a velocidade, as imagens em movimento, o útil e o prático, os prodígios da técnica…

Os poetas usam imagens tiradas dessa mesma técnica, palavras correntes e vigorosas, e recorrem frequentemente à onomatopeia (criação de nomes por harmonia imitativa). Excessivo, mas arrebatador e dinâmico, o futurismo arrancou a poesia do marasmo esteticista em que vegetava desde o simbolismo e o decadentismo.

Na LITERATURA o dinamismo futurista alcança uma expressão máxima na Ode Marítima e na Ode Mecânica de Álvaro de Campos.

Estiveram ligados ao futurismo, além de Marinetti, Pessoa e Almada, pintores como Léger, Balla e Delaunay; escritores e poetas como Papini, Maiakowsky, James Joyce e muitos outros."


O Futurismo movimento cultural (literário e artístico) que se instituiu em 1909 com a publicação do “Manifesto Futurista” do poeta Marinetti prolongou-se até pelo menos à 2ª Grande Guerra. Nasceu da contestação e da revolta contra a tradição, o imobilismo cultural e os preconceitos morais.

Propôs uma adaptação revolucionária à era da industrialização e da máquina, exaltando a ação, a coragem, o dinamismo. Mais do que uma proposta para um programa artístico, o Futurismo foi uma filosofia de vida que envolveu os artistas até nos atos da sua vida pessoal.

Nas artes plásticas evoluiu em 3 períodos ou fases:

-1ªfase- 1909-10- até à 1ª G. Guerra- foi a formação e a definição do movimento em Itália, país onde teve início, e da divulgação do mesmo em toda a Europa;

2ª fase- ocupou o período entre guerras- foi a fase do alargamento de princípios futuristas a outras modalidades plásticas com o design industrial, o estilismo e o cinema.

3ª fase- 1947-50 –restringiu-se à França onde houve uma breve tentativa de restabelecimento desta corrente.

Nas artes plásticas, o Futurismo manifestou-se na pintura, tendo tido também aplicação na escultura e na arquitetura. Na pintura caracterizou-se por:

-prática de temáticas inovadoras, símbolos da vida moderna e do futuro como: a vida ruidosa das cidades, as máquinas em funcionamento (automóveis, aviões, locomotivas…), luz elétrica e seus efeitos, a guerra, o cinema…

-decomposição geométrica das formas através de linhas quebradas em ângulos agudos (mais dinâmicos) e em curvas sinuosas;

-prática da simultaneidade, interpenetração dos planos formais e espaciais para obter efeitos de multiplicidade de formas e sua movimentação no tempo (4ª dimensão), como nas sequências rítmicas e nas cronofotografias.

-utilização de linhas de cores puras, ortogonais, angulares e espiraladas, que atravessam as telas à semelhança de raios luminosos, simulando o movimento ou a decomposição da luz na atmosfera;

-uso de cores fortemente contrastadas, estridentes e violentas;

-prática, nalguns casos do método divisionista na aplicação da cor.

-as telas assim construídas exaltavam fortes emoções, tais como: movimento, dinamismo, coragem e determinação. Valorizavam a plástica da cor e da luz-movimento;

-exaltavam a modernidade e o futuro, tal como era concebido.



O “ULTIMATUM FUTURISTA ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉCULO XX"

O “Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Séc.XX” de José de Almada Negreiros, é o texto do discurso que este artista português escreveu e declamou na 1ª Conferência Futurista em Portugal em 14 de Abril de 1917 enquanto decorria a 1ª Grande Guerra, na qual Portugal também participava.

Nesse discurso, Almada fez o retrato de Portugal da sua época, como um país retrógrado, atrasado e saudosista, preso ao passado e à tradição e interpelava os portugueses para que abandonassem o “passivismo” e a indiferença, se munissem de coragem e espírito de aventura, de modo a aproveitarem a guerra que decorria para construírem um Portugal novo, moderno e progressista.


Almada Negreiros e o Futurismo

As críticas de Almada Negreiros no movimento futurista europeu assentavam nos seguintes aspetos defendidos por ele:

-requeria uma renovação radical dos temas, formas e linguagens artísticas e literárias;

- requeria a necessidade de rutura com os valores estéticos e literários tradicionais;

-repudiava o passadismo literário, propondo a rejeição do «gosto» clássico;

-fazia a glorificação: do futuro, da invenção e da modernidade, considerando que a juventude é a força mobilizadora da transformação social;

-fazia apelo aos valores nacionalistas e patrióticos- uma forma de mobilizar as energias criadoras.


MOVIMENTOS SUBSEQUENTES DO CUBISMO E DO FUTURISMO

O Cubismo, sobretudo o sintético, fez aparecer novos movimentos como a SECÇÃO DE OURO (ou Secção Áurea) que durou de 1912 a 14. Este movimento pretendia conseguira concretização dos princípios cubistas com o máximo de rigor científico e daí o seu nome.

Teve como principais representantes: Albert Gleizes, Jean Metzinger, Frank

Kupka e Marcoussis.


Do Cubismo e do Futurismo nasceu também em 1912 o ORFISMO- movimento pictórico que acrescentou aos princípios formais e espaciais do Cubismo, os da cor pura e do movimento rímico circular. Os seus criadores foram o casal Sonia e Robert Delaunay.

O Futurismo esteve também na origem do aparecimento do RAIONISMO

Russo (influenciou o aparecimento do Construtivismo) e do VORTICISMO na Inglaterra.


A Arte Abstrata como arte democrática


ABSTRACIONISMO – o abstracionismo ou arte abstrata, ou arte não figurativa, pretende reduzir a pintura e a escultura, ao que são essencialmente na pintura – as cores – e na escultura – os volumes. Repudia pois não só a figuração, mas também o tema. A arte abstrata não projeta dizer seja o que for: deseja, isso sim, que o quadro ou a escultura seja um objeto plástico puro.

É o russo Kandinsky quem lança a arte abstrata em 1909. Na pintura há que distinguir a Abstração Geométrica (Mondrian, Malevitch…) da abstração lírica representada sobretudo por Kandisnsky, Hartung e Delaunay.


Aguarela Abstrata, 1910, Wassily Kandinsky



O Abstraccionismo

-O abstracionismo nasceu, oficialmente, em 1910, a partir de uma experiência isolada de Kandinsky ainda durante o período em que integrou o Cavaleiro Azul, e que terminou em 1933 com o fim da Bauhaus.

-Consistiu na anulação do tema e foi considerada a forma mais pura de arte devido à sua libertação face aos programas culturais ou ideológicos vigentes.

Intuída já por várias correntes pictóricas desde o final do século XIX, a arte abstrata conheceu o seu primeiro desenvolvimento entre 1918 e 1933, sendo por definição uma arte sem tema nem objeto, assumindo-se como a expressão mais pura da arte do espírito, e liberta de programas ideológicos; ela é de fácil compreensão por todos pois não carece de interpretação, daí ser considerada mais democrática.

No período entre 1918-33 a arte abstrata manifesta-se nas correntes seguintes:


--ABSTRACIONISMO LÍRICO ou expressivo—


Fuga, Kandinsky, 1914, óleo sobre tela


Tem como antecedente a pintura de “O Cavaleiro Azul” e teve em Kandinsky o seu iniciador e principal representante.

Inspira-se na imaginação, no inconsciente e na música e manifesta-se numa pintura de pontos, linhas e planos de cor que prefiguram formas orgânicas, arredondadas e irregulares, pintadas em cores vibrantes, ora planas e puras, ora com nuances, aplicadas em pinceladas rápidas de tinta alisada (não texturada). Estas formas organizam-se livremente sobre a tela, segundo ritmos musicais dinâmicos, num processo de composição abstrato que privilegia a espontaneidade e a intuição.

As telas assim compostas comunicam principalmente pelos efeitos emocionais e plásticos que em nós provocam. A intenção que lhes está subjacente é a de expressar os conteúdos espirituais através da essência da pintura, reagindo contra o materialismo da época ( no que revela a influência da Teosofia).


--ABSTRACIONISMO GEOMÉTRICO: Suprematismo e Neoplasticismo.—

O Abstracionismo Geométrico é uma arte racional que resulta da análise intelectual e científica do mundo espiritual. Na sua concretização técnica recebeu influências do Cubismo Sintético e do Futurismo. Manifestou-se em duas correntes diferentes: uma nascida na Rússia em 1915-16: o Suprematismo, e outra na Holanda em 1917: o Neoplasticismo.


--O SUPREMATISMO—



Suprematism, Kazimir Malevich, 1915


Foi criado pelo pintor russo Casimir Malevitch e caracteriza-se por usar formas geométricas básicas (quadrados, retângulos, triângulos e círculos) de diferentes tamanhos, anotados em cores primárias e planas, associadas ao branco e ao preto. Essas formas pairam sobre um fundo branco e vazio das telas em total bidimensionalidade, sem qualquer noção de perspetiva ou profundidade.

Organizam-se em direções paralelas e/ou convergentes, criando sobreposições, o que provoca sensações de movimento, dinamismo e ritmo.

Inspirado pela filosofia niilista de Nietzche e dos filósofos russos de finais do séc.uloXIX, a intencionalidade de Malevitch era praticar uma pintura pura, capaz de expressar o espírito humano sem qualquer ligação à realidade. Esta procura de pureza pictórica através de meios plásticos cada vez mais depurados haveria de conduzir Malevitch a pôr em causa a existência da própria pintura, com a sua obra “Quadrado Branco sobre Fundo Branco”.


--O NEOPLASTICISMO—





Composição II com Vermelho, Azul e Amarelo, Piet Mondrian, 1930


Foi um movimento mais amplo, abrangendo desde o início, a pintura, a escultura, a arquitetura, o design e a literatura. Foi divulgado pela revista “De Stijl” (O Estilo), para a qual escreveram alguns dos mais importantes representantes do movimento, como os pintores, Piet Mondrian, Theo Van Doesburg e Van Der Lech, e os arquitetos Pieter Oud e Guerrit Rietveld.

Na pintura, as obras neoplasticistas caracterizam-se por:

-representação de quadrados e retângulos de cores primárias, e por vezes também de outras cores. Elas são planas e lisas delimitadas por linhas ortogonais a negro com diferentes espessuras.

-a composição vive da relação espacial entre formas e linhas, organizadas sobre o espaço do quadro (o fundo), de forma, ora dinâmica, ora estática. Estas composições provocam no observador, sensações, ora de equilíbrio, ordem e serenidade, ora de movimento e dinamismo.

-Em todas contudo, a impressão dominante é a de racionalidade, clareza e harmonia.

O Neoplasticismo visou criar uma nova estética, pura e universal, não representativa, mas objetiva e racional que “eliminasse o trágico da vida humana”. Para isso criou uma simbologia universal, um código limitado de formas e cores, capaz de expressar um número ilimitado de mensagens espirituais. Assim, o Neoplasticismo comporta também um sentido exotérico e teosófico.


ARTE INFORMAL

No pós-2ªGuerra, a arte ocidental deixou de depender unicamente dos centros produtores europeus (França, Inglaterra, Alemanha, Itália…) que passaram a dividir protagonismo com os centros de arte americanos, principalmente com Nova Iorque.


-ARTE INFORMAL ou INFORMALISMO-

Foi uma das primeiras vanguardas pictóricas do pós-2ªGuerra e desenvolveu-se quase ao mesmo tempo nos EUA e na Europa. Parte de um conceito novo de arte, que concebe a criação e a execução artísticas como um ato só, praticadas em simultâneo e em constante dialética, rejeitando toda a racionalização e formalidade da arte anterior. Pondo a tónica no “fazer”, privilegia o material e a técnica como partes primordiais da realização plástica. As técnicas usadas têm um caráter artesanal e provêm, em grande parte, das vanguardas anteriores (Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo…). O Informalismo agrupa diferentes expressões individuais e diferentes tendências:


a) PINTURA GESTUAL ou GESTUALISMO “Action Painting”

Nasceu com o americano Jackson Pollock nos anos 40. Caracteriza-se por ser uma pintura intuitiva e espontânea, executada em grandes gestos lançados ao acaso. Em pinceladas largas ou escorridos –drippings- sobre telas de grande dimensão, que vão formando tramas lineares densas e complexas que cobram o suporte até à exaustão –all-over- . Esta execução baseia-se no conceito surrealista do automatismo psíquico, isto é, na relação direta que existe entre o inconsciente, o gesto criativo e o material pictórico como veículo revelador do conteúdo interior.

Para além de Pollock estão também ligados ao Gestualismo: Franz Kline, Sam Francis, Nicolas de Stael…


b) ARTE BRUTA

Nasceu na Suíça com autores como Jean Dubuffet e Jean Fautrier.

Usou um desenho infantil e deformante, feito com cores sujas e empastadas, associadas a materiais diversos colados sobre a tela (vidro, serrim, areias…) e depois arranhados e raspados.


c) PINTURA MATÉRICA

Executa-se com pastas e materiais não pictóricos, aplicados no suporte (tela ou outro) por vários processos, e depois intervencionados pelo pintor (rasgados, enrugados…) de modo a criar texturas de expressividade plástica.

O catalão AntónioTàpies e o italiano Alberto Burri são os melhores representantes.


d) PINTURA ESPACIALISTA

Esta corrente nasceu em 1946 com o “Manifesto Branco” de Morandi e defende uma pintura concisa e depurada, feita por grandes superfícies planas de cor única, sobre a qual o artista intervém com cortes, colagem de objetos ou outros processos, para criar efeitos de tridimensionalidade.

São representantes: Lucio Fontana, Yves Kein…


-EXPRRESSIONISMO ABSTRATO-

É um movimento que mistura conceitos do Expressionismo, do Surrealismo, e do Abstracionismo, e que nasceu nos EUA em 1947.

Utiliza uma linguagem plástica simultaneamente abstrata e figurativa. Recorre a processos e técnicas informalistas (manchas, escorridos, riscos, colagens…). Visa expressar de modo imediato e autêntico, os estados de espírito e emoções do artista. São exemplos deste movimento as obras de Arshille Gorky, Willeim de Kooning, Karel Appel, Antonio Saura…


-ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA-

Foi um movimento pictórico nascido nos EUA nos anos 50 do séc.XX. Define-se por assumir a pintura unicamente pelos seus valores próprios e exclusivos, renegando todos os outros. Assim, é uma pintura restrita aos valores da cor e da bidimensionalidade, que se executa com cores puras, límpidas e finas, sem textura nem modelado, que preenchem superfícies de formas regulares e/ou geométricas, ou ocupam toda a tela. Este tipo de execução anula toda a expressão individual e toda a emoção, assumindo a pintura como um exercício plástico e concetual. Recebeu influências de Action Painting e do Espacialismo, e passou influências para o Minimalismo e para a Abstração Pós-Pictórica. São representantes da Abstração Geométrica, os pintores, Morris Louis, Barnet Newman, e Ad Reinhardt.


O regresso do mundo visível


O NEORREALISMO


Após a 1ª Grande Guerra e até aproximadamente à eclosão da 2ª Grande Guerra , a arte ocidental conheceu um regresso à linguagem figurativa, apoiado no conceito de que a arte deve refletir a sociedade para poder atuar sobre ela. Este regresso ao mundo visível explica-se pelo período difícil pelo qual a Europa do pós-guerra estava a passar:

-instabilidade social económica e política; ascensão dos autoritarismos em contraposição com o crescimento dos ideais de “esquerda” nos países do ocidente, expandidos pelo movimento sindical e operário e por certos núcleos de intelectuais e artistas. Em conexão com os contextos sociais e políticos de cada país, assim, este regresso ao visível tomou diferentes cambiantes :


REALISMO FIGURATIVO, Realismo Crítico ou NEORREALISMO


Na URSS e nos restantes países do comunismo socialista, desenvolveu-se a partir dos anos 30, em Realismo Figurativo, de raiz neoclássica e académica, que foi usado para propaganda e promoção dos valores ideológicos do regime às massas, numa linguagem que todos entendessem.

Manifestou-se na pintura, na escultura, no mural e no cartaz, com temáticas ligadas às vitórias do regime e ao povo trabalhador (camponeses, operários e soldados).

O Realismo Figurativo foi também usado pelos regimes ditatoriais entretanto implantados (Nazismo alemão, Fascismo italiano, Estado Novo em Portugal…) e com os mesmos objetivos.

Estas ditaduras fizeram da estética realista e académica, a estética oficial dos seus regimes, onde a arte era controlada pela censura.


REALISMO CRÍTICO OU NEORREALISMO

Nos restantes países europeus e americanos, a tendência realista manifestou-se com um sentido mais ético e humanitário (desmascarar as injustiças sociais e os sofrimentos ocultos, exaltar o povo trabalhador, face à sociedade burguesa, combater os regimes autoritários, difundir o pacifismo e o anticolonialismo…) e concretizou-se de forma mais livre e pessoal, embora sempre com um cunho modernista, de influência expressionista, pós-dadaísta e surrealista.

Este realismo teve o nome de Realismo Crítico ou Realismo Social (na França e na Alemanha, por ex.) ou ainda Neorrealismo, nome que tomou na Itália, Portugal, Brasil e México, entre outros.

Nomes importantes do Neorrealismo foram os dos muralistas mexicanos como, Diego Rivera, José clemente Orozco e David Siqueros.


"Na LITERATURA o Neorrealismo Uma das mais importantes correntes do século XX, que se desenvolveu sobretudo nos países onde os problemas sociais foram mais prementes. Costuma ver-se em Gorki o seu inspirador, mas alguns romances de Zola – como “A Terra” – já são francamente neo-realistas. Em Itália, Espanha, Portugal e América Latina, os neo-realistas foram corajosos lutadores na luta contra o fascismo.

No neo-realismo o homem social, visto como representante de classe, toma o lugar do homem como personalidade individual. É uma literatura que busca acima de tudo mostrar a dinâmica ou a dialética social, de modo influente e intervencionista, pintando de forma dramática as condições de vida das classes ou grupos mais desprotegidos."


SURREALISMO


"SURREALISMO – No seu “Manifesto” de 1924, o poeta francês André Breton, teórico do movimento, define o Surrealismo como “automatismo psíquico puro”, livre de toda a força da razão, e independente de qualquer intenção estética ou moral.

Ao contrário do Cubismo, sobretudo ocupado da natureza, o surrealismo debruça-se sobre o homem e o seu inconsciente. Influenciado pela psicanálise de Freud, manifesta uma dupla intenção: sob o ponto de vista psicológico-artístico, mostra a realidade mais funda da vida interior, as inibições, as obsessões, os complexos, os sonhos aparentemente desarticulados, o que é estranho à força de ser real, tudo visto através de uma poderosa imaginação criadora; sob o ponto de vista social, ataca o convencionalismo burguês, feito de aparência e de falsidade, mostrando a sobre-realidade humana. Além de Breton, os principais teóricos do Surrealismo são os poetas Eluard e Aragon.

Lançado na década de 20 só alcança Portugal na década de quarenta, nele se distinguindo os poetas Mário Cesariny e Alexandre O’Neil. Muitos traços do Surrealismo passam nos versos de Natália Correia, Eugénio de Andrade e Egito Gonçalves.

De entre os pintores surrealistas referem-se Picabia, Chirico, Max Ernst, Salvador dali: outros grandes artistas como Paul Klee e Juan Miró podem também ser aparentados do movimento. (Em Portugal há a referir os artistas António Dacosta, António Pedro entre outros)."



O Surrealismo foi um movimento artístico que se estendeu entre a literatura, por onde começou, até às artes plásticas, à fotografia e ao cinema. Iniciou-se em França por volta de 1919 e expandiu-se pela Europa e América.

A nível conceptual surgiu como reação à cultura e civilização ocidentais, em particular ao racionalismo e convencionalismo. Em oposição, defendia a liberdade e a irracionalidade através de obras que fizessem sobressair o sonho, a metáfora, o inverosímil e o insólito.

Adotou alguns ensinamentos de Freud e da psicanálise e esteve ligado aos movimentos de esquerda Marxistas.

A sua estética tem raízes no Simbolismo, na pintura metafísica e em algumas obras de Picasso e Klee.

As obras eram desligadas da razão; a associação de ideias era feita arbitrariamente sem preocupações estéticas racionalizadas e moralidade implícita. Até para alcançar este tipo de associações, eram usadas técnicas como o desenho em estado de embriaguez, semi-hipnose, fome, drogas...

A nível plástico, os artistas usaram alguns ensinamentos Dadaístas como o desenho e pintura automáticos e, mesmo as técnicas clássicas: a gradação cromática e o modelado.



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