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CULTURA PORTUGUESA E EUROPEIA o tempo e as obras

  • marianeves15031958
  • 29 de nov. de 2021
  • 13 min de leitura

Atualizado: 13 de dez. de 2021

CONTEXTO HISTÓRICO - Realismo e Naturalismo


A pintura realista apareceu em França por volta das décadas de 30 e 40 do século XIX. Esteve ligada às ideias do positivismo e da instituição das democracias da época, desenvolvendo-se num tempo de grandes avanços científicos, e marcado por acontecimentos sociais e políticos, que alteraram profundamente a sociedade europeia.

Muitos artistas, reagindo ao Romantismo e ao Academismo, começaram a desenvolver uma pintura que se aproximava do espirito científico da época, representando aquilo que é palpável e concreto, ou seja a realidade envolvente sem artifícios.

Por outro lado a industrialização e a urbanização mudaram o quotidiano das pessoas. As miseráveis condições de vida das classes mais baixas, nomeadamente, o operariado, que vivia nas cidades industriais, provocaram o avanço das ideias socialistas, nomeadamente as de Proudhon, que defendia uma arte com fins sociais: o artista devia comprometer-se com as grandes causas humanitárias e denunciar contradições e injustiças. Tais ideias levaram alguns artistas como Courbet e Daumier à prática de uma pintura politicamente comprometida.

O mundo rural, distante dos espaços citadinos, e afastado dos excessos da industrialização atraiu por sua vez outros artistas que procuravam fugir à realidade urbana buscando o contacto com a Natureza. O seu trabalho deu origem ao movimento que veio a ser conhecido como Naturalismo.

Tanto uns como outros pretendiam objetivar a representação da realidade. Os temas que escolhiam eram também estranhos aos convencionados pela Arte Oficial.

Esta atitude não foi aceite pelo público, que se interessava por uma arte académica, conservadora, que defendesse uma pintura de personagens dignas, do género heroico. O Realismo é uma arte antiacadémica, objetiva, próxima da realidade palpável do mundo contemporâneo, rejeitando a literatura como fonte de inspiração, ou a representação de modelos ideais, ou mesmo a subjetividade.

A descoberta da fotografia e a sua aplicação no retrato e na reprodução de obras de arte, questionou a pintura convencional e académica com as suas regras teóricas.

Princípios técnico-formais

a pintura realista aborda temáticas que representam a nova realidade social do quotidiano citadino ou rural; representa tipos sociais: operários e camponeses, refletindo uma visão de intervenção social, em que o pintor denuncia nas suas obras as injustiças sociais. É uma pintura que se Interessa por cenas de paisagem captadas com realismo e objetividade, influenciada pela pintura de Constable e pelo aparecimento da fotografia). As técnicas que utilizada visam uma representação fiel da realidade, mas são mais ligeiras e livres do que a pintura académica; por vezes aproximam-se do esquiço, afastando-se por isso das regras do Neoclassicismo e Romantismo; aparentam mesmo, por vezes uma expressão fotográfica.

Relativamente ao tratamento da cor, é uma pintura de claro-escuro (as gradações vão do branco ao negro), apresentando um colorido convencional, de modo geral, sombrio pois desconheciam-se ainda os fenómenos de atuação da luz sobre os objetos, (questão abordada depois pelos Impressionistas). Por vezes respeita-se a cor ambiente.

A representação da figura humana é feita com rigor e respeito pela anatomia nas proporções e nos volumes. Por vezes o resultado na composição não é uma cópia fiel da realidade, mas revela preocupação de intervenção social que o pintor pretende exprimir.



Principais percursos: a importância de Courbet

Courbet é abordado primeiro, por ter sido exemplo para os jovens pintores de Paris. A sua pintura revela o espirito revolucionário de um homem que vivia os acontecimentos da sua época. As suas obras são polémicas, pois representam com os tipos sociais mais baixos (lenhadores, provincianos..), o que escandalizou o público parisiense. Os seus temas apresentam uma vertente ideológica e politica, atitude conotada com ideias socialistas.

Nas Academias ainda era preponderante a ideia de que as pinturas dignas devem representar personagens dignas, e que, trabalhadores e camponeses fornecem temas adequados somente para cenas de género, na tradição dos mestres holandeses.

Courbet pretendia que as suas obras fossem um protesto contra as convenções do tempo: chocassem a burguesia para que mudasse de atitude e deixasse de aceitar facilmente os efeitos da pintura académica e valorizasse a sinceridade do artista.

Quando na exposição de pintura de 1855, Ingres e Delacroix receberam lugar de destaque, Courbet foi impedido pela censura, de apresentar as suas telas. Não tolerando tal atitude resolveu abrir uma exposição individual num barracão, frente do edifício onde se realizava o “Salão de 1855", intitulando-a de –Le Réalisme- onde distribuiu um "Manifesto do Realismo", teorizando assim a nova atitude estética.

Courbet interessava-se apenas pelo mundo visível, e queria mostrá-lo sem contudo criar um estilo fotográfico. Na representação seleciona pormenores que exprimiam o essencial sem sentimento ou idealismo.

Representava a realidade com muita convicção, afastando-se de tal modo da idealização que afirmava: “não posso pintar um anjo porque nunca vi nenhum”.

Pretendia representar a verdade e não a beleza. As suas composições são simples e equilibradas e de grandes dimensões (revelando por isso o egocentrismo do artista). Os personagens aparecem individualizados e definidos como retratos. Na sua obra "L 'Atelier", as figuras são reproduções que foi realizando ao longo de vários anos.

A técnica de desenho e cor é clássica, e o resultado é “matérico”, opaco e sólido. A cor da atmosfera contribui para a unidade da composição.

L’Atelier ou "Alegoria da Verdade", é um autorretrato do artista no trabalho e representa uma alegoria - "A Verdade" personificada numa mulher que é uma entidade real (retrato de um nu) diferenciando-se das alegorias que no passado eram entidades abstratas. Outra novidade é que este nu foi pintado a partir de uma fotografia, técnica de reprodução que surgira nesta época.

Aparecem nesta obra, à esquerda, os tipos sociais: padre , caçador, palhaço, vendedor ambulante, e à direita: Baudelaire, que lê poesia, um casal burguês (o amor tradicional), um par de amantes (o amor livre), e outras figuras representativas da prosa, da Música e da poesia realista. A inovação sente-se no destaque que é dado à Natureza, que parece entrar no atelier. Courbet pintava ao ar livre, servindo-se do sentido da exatidão, do gosto pelos ínfimos pormenores da Natureza revelado pelos mestres da Escola de Barbizon.

A sua obra influenciou pela inovação pela atitude de protesto os jovens pintores de Paris, contribuindo assim para a renovação da arte, e fazendo a ponte para o Impressionismo.

Honoré Daumier foi um artista que nesta época foi praticamente ignorado como pintor. Fez muitas litografias, trabalhando como caricaturista para vários semanários de Paris. Os seus desenhos satíricos sobre personalidades da época trouxeram-lhe grandes aborrecimentos, uma vez que dependia desse trabalho para sobreviver. Nos seus desenhos e pinturas apresenta uma com grande mestria, os traços essenciais do carácter dos retratados. Os seus temas apresentam aspetos da vida citadina quotidiana sugerindo a crueza da vida das classes trabalhadoras,

O pintor rejeita o acessório como se verifica em "A Lavadeira", tornando as suas personagens quase silhuetas. O movimento e o volume são fundamentais na sua obra. As suas personagens embora muito simplificadas tornam-se figuras monumentais nas composições e representativas de protótipos humanos que se reconhecem logo.

As suas obras pictóricas mais tardias inspiram-se no Barroco de Rembrandt, pela pincelada livre e expressiva e pelo tratamento de claro-escuro. A cor apresenta tons terrosos de inspiração romântica.

A ESCOLA BARBIZON

Também conhecida por escola do "Ar Livre” reuniu um conjunto de pintores franceses que rejeitaram as regras académicas, e se juntaram em Fontainebleau (arredores de Paris), em busca do contacto com a Natureza, retratando a realidade com fidelidade, inspirados pelas pinturas de Turner (na representação do instante

Luminoso e da realidade mutável) e Constable que impressionou pela sua verdade e ainda inspirados pelo aparecimento da Fotografia.

Características técnico formais

Esta pintura procura a imitação da Natureza, sem dimensão crítica ou analítica. Revela alguma relação com o academismo oitocentista pela permanência das regras clássicas da perspetiva, e pela gama cromática.

É uma pintura que recorre a telas de pequenas dimensões em contraste com a pintura académica; elas eram fáceis de transportar e respondiam à necessidade de rápido acabamento. Os temas preferidos representavam a Natureza em cenas campestres registadas com grande objetividade (céu, nuvens, árvores, lagos, prados, animais), que eram depois acabadas em atelier. Escolhiam-se mesmo locais que se adequassem a princípios compositivos: alternância de cheios e vazios; equilíbrio entre árvores e arquitetura...é uma pintura que demonstra interesse na captação das mudanças atmosféricas como o pôr do sol, o nevoeiro…, o que revela influência da pintura de Turner.

Principais percursos

Entre os pintores da Escola de Barbizon destacam-se: Theódore Rousseau, Daubigny, Troyon...e Millet que, embora fizesse parte do grupo, desenvolveu um percurso individualizado. A obra destes pintores influenciou outros, que se interessaram pela Natureza concreta, pelo gosto dos tipos humanos e por cenas do dia a dia, como é o caso de

Corot.

NATURALISMO

Tal como no Realismo, também o Naturalismo possui uma estética popular, que se expandiu por toda a Europa até aos E.U.A., onde se destaca neste período, a obra de Whistler.

T. Rousseau foi chefe do grupo de Barbizon. Utilizou mais a gravura pois considerava-a uma técnica mais expressiva. A sua pintura é menos atrativa pelo seu carácter sombrio e pouco dinâmico. Interessou-se pela paisagem real, desprezando o pitoresco. As suas árvores enchem o centro das composições, tornando-se nelas, o elemento mais importante. Todas as suas obras são muito simples, mas numa representação muito minuciosa.



Millet

Interpretou o realismo de forma sentimental. Pintou cenas da vida campestre, com figuras e poses do quotidiano. Os seus camponeses são homens e mulheres cheios de energia física, mas aparentando modéstia - lembram que o simples trabalho no campo pode inspirar cenas de solene significado. São figuras monumentais e tornam-se símbolos — o seu trabalho é uma constante luta para arrancar o sustento da terra. O compromisso de Millet não é político, mas sim moral.

As figuras são modeladas com firmeza (anatomia sólida e robusta) e contornos simples, lembrando a representação clássica.

Corot

O paisagismo de Corot é mais poético que realista, pois o artista recriou pela imaginação aquilo que via. Não é neoclássico nem romântico - as suas paisagens não são sentimentais, heroicas ou dramáticas. As paisagens dos românticos vivem de uma atmosfera rarefeita (bastante nítidas). As de Corot são impregnadas de densa atmosfera; as formas diluem-se nela.

É um pintor de ar livre, mas embora amigo dos pintores de Barbizon, nunca fez parte

do grupo. As suas temáticas são rurais e citadinas; apresenta rigor construtivo nas composições, sendo sensível às estruturas encontradas na Natureza. Por respeitar os valores da atmosfera e por ter desenvolvido uma pintura expressiva e espontânea, conseguiu quase saltar 50 anos até ao Impressionismo. Por isso as suas paisagens serviram de referências para o desenvolvimento da pintura moderna de paisagens.


NATURALISMO NA PINTURA PORTUGUESA

A partir de meados do seculo XIX, a pintura portuguesa aproximou-se das tendências estéticas internacionais devido atribuição de bolsas de estudo em Roma e Paris, aos melhores alunos das Academias de Lisboa e Porto.

A partir de 1880, com o regresso dos bolseiros a Lisboa e Porto: Marques de Oliveira e Silva Porto, deu-se uma renovação da pintura, facto que influenciou outros artistas, tendo-se dado assim urna multiplicação qualitativa nunca vista na arte portuguesa, o que permitiu o arranque do mercado de arte.

Estes dois artistas, na sua passagem por Paris, tiveram oportunidade de contactar com os pintores da Escola de Barbizon (Silva Porto foi aluno de Daubigny), numa altura em que se realizavam já em França as primeiras experiências impressionistas. Este facto levou-os à pretensão de transporem para a tela a instantaneidade na

Natureza, tentando captar na pintura o efémero e a constante mudança. Pode dizer-se que o Naturalismo português faz a passagem pelo Impressionismo*, sem nunca se ter verificado consistentemente esta tendência na obra de qualquer pintor português.


*O Impressionismo também procura captar o instante luminoso em constante mudança, de acordo com a hora do dia ou a estação do ano; esta pintura dissolve a densidade das massas e volumes dando leveza e transparência às formas.


O Naturalismo em Portugal desenvolveu-se em várias fases sem evolução, verificando-se mesmo retornos devido à imposição da crítica, e ao gosto do público sem hábitos artísticos, que pretendia uma pintura próxima das virtudes das culturas rurais idênticas à dos romances de Júlio Dinis.

O Naturalismo prolongou-se pelo século XX, pois correspondia à mentalidade e à ideologia dominante, que promovia o gosto pela representação de ideias míticas da Pátria, e a representação dos suaves costumes do povo, mostrando-o feliz.

Princípios técnico-formais

A pintura Naturalista usava a prática da pintura ao Ar Livre, sendo que alguns pintores ainda completavam as obras no atelier. Nos seus temas predominam as paisagens campestres e marinhas. São obras que apresentam grande liberdade de registos e uso de cores no espaço da tela (as cores são intensas texturizadas).

Os naturalistas valorizam a mancha - os contornos são diluídos em pinceladas livres e expressivas. As cores predominam sobre a definição rigorosa dos volumes. ´

E a cor que permite a autonomia da pintura face à de cenas narrativas ou celebrativas Para estes artistas, a representação da Natureza torna-se quase um pretexto para o uso da cor.


PRINCIPAIS PERCURSOS:

Marques de Oliveira

Foi um pintor de história; dedicou-se à paisagem representando os volumes à maneira de Corot. Era um exímio desenhador e paisagista, e os seus retratos apresentam grande subtileza. Fazia pintura ao ar livre, serena e cheia de transparências. Aproximou-se do impressionismo nas obras tratadas à base de manchas.

Silva Porto

Foi o fundador do "Grupo do Leão", conjunto de artistas que desenvolveram propostas novas introduzidas deram origem ao Grémio Artístico e depois à Sociedade Nacional de Belas Artes.

Este pintor foi professor na Academia de Lisboa, praticou pintura de ar livre opondo-se aos esquemas românticos, e utilizava cores abertas tiradas do natural. Representava paisagens campesinas ou registos folclóricos sem dramas.

José Malhoa

Este artista nunca conseguiu bolsa de estudo no estrangeiro (estudoum Lisboa). Apresenta uma pintura de costumes rústicos de grande qualidade, ao gosto da burguesia saudosa do mundo rural idealizado (local gente simples e sincera). Fazia também pintura de retrato de carácter sentimental e rústico.

Na representação de cenas populares, revela grande realismo, sem intenção de crítica social, antes afetuosa e bem-humorada. Valoriza a mensagem, que apresenta com expressividade e intensidade dramática, através da intensa luminosidade e pormenor.

Columbano Bordalo Pinheiro

Fez parte do "Grupo do Leão", mas desenvolveu um percurso próprio. Na sua passagem por Paris desenvolveu o gosto pelos mestres do Barroco: Rembrandt, Caravaggio, Vàlasquez , afastando-se da pintura de ar livre.

Teve preferência pelo retrato e de grande qualidade, captando com subtileza as particularidades psicológicas dos modelos encontrados na burguesia lisboeta. A sua pintura é matérica, apresentando o claro-escuro do Barroco: transforma a luz no motivo da pintura, diluindo as formas das figuras.


LITERATURA



Antero de Quental (18421891) pintura a óleo de Columbano Bordalo Pinheiro



Antero (Tarquínio) de Quental (1842-1891) foi um poeta e filósofo português. Foi um verdadeiro líder intelectual do Realismo em Portugal. Dedicou-se à reflexão dos grandes problemas filosóficos e sociais de seu tempo, contribuindo para a implantação das ideias renovadoras da geração de 1870.

Antero Tarquínio de Quental nasceu na localidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, Portugal, no dia 18 de abril de 1842. Filho do combatente Fernando de Quental e Ana Guilhermina da Maia iniciou os seus estudos em Ponta Delgada.

Em 1858, com 16 anos, Antero de Quental ingressou no curso de Direito na Universidade de Coimbra. Tornando-se o líder dos académicos, graças à sua marcante personalidade.

Em Coimbra, Antero de Quental organizou a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura. Em 1861 publicou alguns versos que lhe abriram o caminho para as glórias futuras.


O Realismo em Portugal - a Questão Coimbrã


Ainda estudante de Coimbra, Antero de Quental liderou um grupo de estudantes, que repudiava as velhas ideias do Romantismo, causando uma polémica entre a velha e a nova geração de poetas.

Em 1864, Teófilo Braga publica dois volumes de versos: Visão dos Tempos e Tempestades sonoras. No ano seguinte, Antero edita “Odes Modernas”.

Em “Odes Modernas”, Antero rompe com toda a poesia tradicional portuguesa, onde são banidos o romantismo, o sentimentalismo e a religiosidade lírica, e surgem, com força, as ideias de liberdade e justiça.

Os poemas foram criticados pelo poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho, que acusa Antero de exibicionismo, obscuridade e de abordar temas que nada tinham a ver com a poesia.



José Maria de Eça de Queiroz[1] ( 18451900),


Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim (1845) e morreu em Paris, em 1900. O pai, homem culto, era membro da alta burguesia. Apesar de ter sido criado longe dos pais, recebeu educação adequada.

Fez o curso de Direito em Coimbra, advogou em Lisboa e tendo feito carreira diplomática, trabalhou e viveu em Havana, Brístol e Paris. Conviveu com Antero de Quental, por quem foi convencido a participar das Conferências do Cassino Lisbonense, desmembramento da Questão Coimbrã. Deixou obra de inquestionável qualidade, na qual se evidencia sua cultura, além do conhecimento sobre a realidade social portuguesa, especialmente em relação à elite econômica.

A obra de Eça de Queirós

A obra literária de Eça de Queirós pode ser dividida em três fases.

Primeira fase

Constitui-se de artigos e crônicas publicadas na Gazeta de Portugal, reunidos, posteriormente, num volume sob o título de Prosas bárbaras. Sendo obra inicial, é provável que não tenha atingido a qualidade esperada por Eça, tanto que ele próprio tentou fazer com que o público e observadores ignorassem essa parte de sua produção.


Segunda fase

Iniciada com a publicação de O crime do padre Amaro (1875), esta é a fase mais importante do autor não só pela qualidade das obras que a compõem, mas também porque, em se tratando de fase bastante crítica, principalmente sobre a burguesia lisboeta, estabelece-se a certeza de que as narrativas desta fase reproduzem o verdadeiro foco literário de Eça de Queirós: o de crítico social bem informado, bom observador, contundente, mordaz e de finíssima ironia.


Nesta fase, destacam-se três obras-primas do autor: O crime do padre Amaro, O primo Basílio e Os Maias. Tais romances esboçam um panorama de crítica social e cultural da vida portuguesa, por meio de linguagem original, de bela plasticidade, com boa dose de simplicidade e, como em boa parte o narrador fez uso de linguagem bastante próxima do quotidiano da cidade (Lisboa), o entendimento das suas histórias são bastante acessíveis ao grande público, mas sem concessões ao gosto por literatura de segunda classe, por parte de certos leitores de menor nível cultural.

Trata-se de linguagem antideclamatória, contrariando o gosto anterior de muitos românticos. Essas características da linguagem dessas três obras, aliadas a descrições e ações oportunas e extremamente adequadas à realidade social da época em que se inserem, dão às suas histórias grande vigor narrativo e expressivo.

Avulta, ainda, a extraordinária propriedade na caracterização de certas personagens, as quais entraram para a mitologia popular do Ocidente, além de razoável dosagem de um lirismo melancólico, forte dose de sátira e ironia, utilizadas com subtileza e graça. A soma desses aspectos confirma a segunda fase como a melhor da obra total de Eça de Queirós.


Terceira fase

Esta fase, chamada por alguns críticos de pós-realista, é marcada por sentimento de desilusão, provavelmente pelo fato de o autor ter tido a percepção de que conseguiria pouco ou nenhum resultado prático quanto à melhoria do comportamento social, por meio das críticas estabelecidas nos romances da 2ª fase.

Aparentemente cansado, abandona os ideais realistas quanto ao trato do tema social e, nas narrativas subsequentes, empreende uma busca pela reconciliação consigo mesmo e com a sociedade. A sua obra, a partir daí, torna-se amena, pois o autor passa a ver a condição e o comportamento humanos de maneira condescendente, até compreensiva, tendo se voltado, também, para o culto de aspectos históricos da pátria portuguesa e para o registo de tipos humanos próprios de Portugal. São livros desta 3ª fase: A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras.

No conto, Eça de Queirós também foi excelente autor, tanto que deu à literatura portuguesa um de seus melhores momentos nesse gênero, como provam os contos Singularidades de uma rapariga loira, O milhafre, A aia e No Moinho.

No geral, a obra de Eça de Queirós é uma vasta análise e verdadeira radiografia sobre o comportamento, principalmente o da burguesia, classe social contra a qual ele aponta os certeiros canhões de sua crítica da 2ª fase. Parece mesmo ter sido essa burguesia a culpada de o escritor terminar seus dias decepcionado e melancólico, concluindo que a dignidade, a honra e o patriotismo só existem mesmo nos cidadãos comuns e pobres. Esta, aliás, é uma das mensagens inseridas no livro A ilustre casa de Ramires.

Por: Wilson Teixeira Moutinho


Ilustraçôes de A cidade e as Serras

por: alunos de Artes da Escola Secundária de silves- publicação de 2015 por Alêtheia Editores



Capítulo 1- por: Júlia Kovacs


capítulo 2- por: Adriana Vieira




capítulo 3 - por: Eliana Lourenço




capítulo 4 - por: Liliana Zakhariya



Capítulo 5 - por: Catarina Laginha



Capítulo 6 - por: Rita Ramos



Capítulo 7 - por: Maria do Carmo Sério



Capítulo8 - por: Bruna Gomes



Capítulo 9 - por: Inês Mendes



Capítulo 10 - por: Joana Rodrigues



Capítulo 11 - por Alai Hubner



Capítulo 12 - por: Soraia Lourenço



Capítulo 13 - por: Andrea Dragomanu



Capítulo 14 - por: Ana Rita Nunes



Capítulo 15 - por: Cátia Lourenço



capítulo 16 - por: Joana Gonçalves

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