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  • marianeves15031958

CULTURA PORTUGUESA E EUROPEIA o tempo e as obras

Atualizado: 17 de dez. de 2021

CONTEXTO HISTÓRICO - Modernismo


O mundo entre 1905-1960 - Da Exposição dos Fauves até aos anos 60.

Os primeiros 60 anos do século XX foram atravessados por 2 grandes guerras: a de 191418 e a de 1939-45. Essas primeiras décadas foram também palco de revoluções importantes, salientando-se a Revolução Socialista Soviética.

Embora mundiais, as duas Grandes Guerras incidiram sobretudo sobre a Europa que pagou uma fatura elevada em mortes e destruições. A principal consequência foi o declínio deste continente a favor de outras potências, principalmente dos EUA.

Com a 1ª Grande Guerra veio a decadência económica, agravada pela Grande Depressão de 192; com a 2ª G. Guerra, a Europa assistiu à perda da hegemonia política e cultural. O país beneficiado foi o Estado Americano que se assumiu como grande potência económica e política, dividindo com URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), o domínio mundial, sobretudo na pós-segunda Guerra, entre 1945 e 1960, o chamado período da “Guerra Fria”.

Por outro lado, essas guerras aceleraram o desenvolvimento científico e técnico nas principais potências, que num primeiro momento, teve por base as pesquisas feitas para a produção de novos armamentos, mas depois, em tempo de paz, as pesquisas fizeram-se ao serviço do capitalismo industrial. Sucederam-se numerosas descobertas e invenções que alteraram definitivamente o quotidiano das populações tanto no trabalho como no lazer, nas deslocações, na saúde…Foi a euforia das invenções.

O crescimento da industrialização e o desenvolvimento das tecnologias alteraram também o comportamento das populações, onde a mulher assumiu cada vez mais um papel ativo fora do lar.

As cidades cresceram exponencialmente, tornando-se símbolos da modernidade; a publicidade invadiu as ruas e os jornais, ao mesmo tempo que surgiam novos meios de informação e comunicação, como a rádio e o cinema. Gerou-se assim a chamada “Cultura de Massas”.

Refletindo essas mudanças, o pensamento científico, rejeitou o positivismo otimista do século XIX para abraçar o relativismo. Nas letras e nas artes, a crise de valores instalou-se, explorando-se nessas áreas o sentido do absurdo e a contestação socialmente provocatória.


DA EUROPA PARA A AMÉRICA…

Sem guerra no seu território e com uma economia industrial em expansão, os EUA atraíram ao longo dos primeiros 60 anos do ´seculo XX, os grandes fluxos imigratórios provenientes da Europa. Contrariamente ao que havia acontecido no século XIX, a população que chegava, não era só gente humilde à procura de novas oportunidades de vida, mas gente que fugia da guerra e suas violências. Assim, uma grande percentagem dessa gente pertencia às classes médias e médias altas, instruídas e preparadas- entre eles, artistas, professores, médicos, cientistas…

Os EUA souberam aproveitar esta mais-valia humana, criando a nível oficial, programas de investigação em diversas áreas. Em pouco tempo passaram a ser a 1ª potência mundial no desenvolvimento industrial, na tecnologia e na qualidade de vida material. O mesmo aconteceu nas artes e nas letras, com muitas novas correntes a terem o seu berço além Atlântico.


AS RUTURAS: AUTORITARISMOS E NACIONALISMOS

Os horrores da época. Novos mundos e novas linguagens artísticas


Se a 2ª Grande Guerra marcou o fim dos impérios tradicionais, a vitória das democracias ocidentais, e o princípio das nacionalidades, as perturbações económicas da Grande Depressão iniciada em 1929 haveriam de conduzir a uma profunda crise dessas mesmas democracias nos atribulados anos 30.

Foi nessa crise que emergiram novos autoritarismos – como o Fascismo de Mussolini; o Nazismo de Hitler, e o Corporativismo dos Estados Ibéricos, entre outros. Os exagerados nacionalismos que suportaram estes novos autoritarismos deram origem a rivalidades imperialistas que conduziram à 2ª Grande Guerra e seus horrores- mortes, destruição, racismo e intolerância, holocausto judeu, explosão atómica…

No Pós-Segunda Guerra o mundo estava mudado: no xadrez político mundial, a Europa Ocidental “apagara-se” para dar protagonismo a dois blocos antagónicos que rivalizavam em equilíbrio instável – o bloco liberal e capitalista, liderado pelos EUA, e o bloco socialista liderado pela URSS.

A descolonização avançava nos países da África e do Oriente, fazendo surgir novas nações. As questões ecológicas e humanitárias ganharam relevância na voz de partidos extremistas e até no seio de organismos internacionais como a ONU (Organização da Nações Unidas) que redigiu em 1948 a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

As artes registaram todas estas mudanças quer colocando-se ao serviço dos poderes instituídos, quer na sua oposição, dando voz aos apelos surdos da Humanidade.



O Cinema

O TRIUNFO DO SONHO E DO MITO. UMA NOVALINGUAGEM.


Se a fotografia é o registo “congelado” da imagem num dado momento, o cinema (que dela descende), é a captação da imagem em movimento, a forma mais fidedigna e real de fixar a vida.

A sua invenção deu-se em finais do século XIX, com as experiências e descobertas de Eadweard Muybridge (”sequência de um cavalo a correr”, captada em 1878) e dos irmãos Lumière (Auguste e Louis) que inventaram o cinematógrafo e realizaram as duas primeiras sequências célebres: “Saída dos operários da Fábrica Lumière” e o “o Grande Café de Paris (ambas de 1894-95). O sucesso das primeiras apresentações do cinematógrafo deu rapidamente origem a uma indústria de filmes que viria a ter o seu 1º apogeu nos EUA após 1928, com a criação do “sonoro” o cinema falado (para cuja descoberta contribuiu o inventor Thomas Edison com a criação do “cinetoscope”). Desde então até hoje, o cinema não tem parado de crescer como indústria de entretenimento, e como arte, acompanhando os movimentos e tendências da evolução cultural, em geral. No seu trajeto foi assumindo vários papéis: documental, de entretenimento e de criação artística e estética, ficando ao nível da literatura, da poesia, e de outras artes. Pelo seu impacto nas sociedades, esta nova arte tem sido o responsável dos grandes mitos modernos.


O CHARLOT, de Charles Spencer Chaplin



Charlot é uma personagem do cinema mudo, a 1ª a ganhar fama e notoriedade, enchendo plateias. Apresenta-se como um homenzinho grotesco, de rosto demasiado branco, onde sobressaem os olhos e o bigodinho preto; com roupas de fraque que não lhe assentam, chapéu de coco e bengala bamboleante. “Viveu” ao longo de vários filmes desde 1914 a 1936, desenvolvendo uma “performance” sempre em registo cómico apoiado numa mímica expressiva, evoluindo do cómico da situação, para uma crescente crítica social e política.

O seu criador foi o inglês Charles Spenser Chaplin, um homem multifacetado que foi ator, realizador, músico, empresário e dançarino, que foi autor de uma panóplia de filmes tendo como destaque obras como, Tempos Modernos ou ainda O Grande Ditador...



ARTES PLÁSTICAS entre 1905 e 0s anos 60 do século XX


Arte portuguesa nos primeiros 60 anos do século XX

A Arte portuguesa da 1ª metade do séc. XX revela um grande desfasamento cronológico em relação ao resto da Europa devido a várias circunstâncias:

1-a queda da 1ª República e as consequências da 1ª G.G. provocaram instabilidade política levando ao golpe de Estado em 1926;

2- a afirmação do regime autoritário do Estado Novo, com Salazar (a partir de 1933) que restringiu liberdades, nomeadamente na literatura e na arte.

Os principais marcos de produção artística após 1912 foram:

1- o I Salão dos Humoristas; - a 1ª Exposição dos Humoristas e Modernistas;

2- a publicação das revistas literárias-artísticas : Orfeu e Portugal Futurista.

Relativamente às exposições artísticas estão ligados a elas nomes como: Manuel Bentes, Eduardo Viana, Emmérico Nunes…

A Revista Orpheu foi da responsabilidade de criadores como: Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, José Pacheco, Santa-Rita Pintor e Almada Negreiros. Foram eles que deram origem ao Modernismo.

Após 1933, com o Estado Novo de Oliveira Salazar foi criado o SNI - organismo que controlava a produção intelectual e artística. Neste período os artistas e os intelectuais criavam à margem do Estado Novo, estimulados pelas ideias que parcamente chegavam a Portugal provenientes da Europa.

A partir dos anos 30, Portugal viveu a ditadura fascista do Estado Novo, sendo a arte e a cultura censuradas e pouco entendidas pelo poder político e pelo público.

Num primeiro momento, os artistas aproveitando uma certa indiferença e indefinição do poder político quanto à arte tentaram avançar no Modernismo através de exposições como a de 1935, de Vieira da Silva e Arpad Szénes. Porém a partir de 1940/44, o regime de Salazar passou a impor um plano artístico proibindo obras mais livres de “caráter subversivo”. Foi imposta mesmo uma” arte nacionalista” para dar corpo às ideias do Regime.

Na sequência das exposições internacionais de Paris de Nova Iorque e S. Francisco. Salazar mandatou António Ferro na organização, em 1940, da “Exposição do Mundo Português”.

A estrutura desta Exposição foi assegurada por um grupo de arquitetos, de passado modernista, dirigidos por Cottinelli Telmo. Os 560 mil metros quadrados de área aberta sobre o Tejo, e tendo os Jerónimos como pano de fundo, eram limitados a nascente por 2 grandes pavilhões: “Pavilhão de Honra e de Lisboa” e “Pavilhão dos Descobrimentos”.

Em Portugal, durante os anos 40 apontam-se os nomes de António Ferro e do Eng. Duarte Pacheco (ministro das Obras Públicas), que realizaram melhoramentos pelo país.

Nos anos 50, a grande evolução cultural do mundo ocidental no pós-guerra, estimulou os intelectuais portugueses, que, tanto na clandestinidade, como no país à margem do regime, evidenciaram uma liberdade criativa que se traduziu no 2º Modernismo. Estas criações surgiram em grupos de artistas como o Grupo Surrealista de Lisboa; foram tam bém importantes : a realização do 1º Congresso Nacional dos Arquitetos (1948), a 1ª Exposição de Arte Abstrata (1954), a produção de revistas como a “Vértice” e a “Seara Nova”. Destas realizações resultaram perseguições feitas pelo regime o que levou à emigração de muitos artistas.

Nos finais dos anos 60 houve uma certa abertura com Marcelo Caetano, que permitiu os mercados de arte em galerias de Lisboa de Porto, incrementados também pela inauguração da Fundação C. Gulbenkian em 1969.

Com o 25 de Abril de 1974 chegou finalmente a liberdade de pensar e criar.



Retrato de Fernando Pessoa é o título de duas pinturas de Almada Negreiros, onde este retrata o poeta Fernando Pessoa, o membro mais notável da Geração d’Orpheu, a que Almada também está associado.


LITERATURA

A Geração do Orfeu


A Geração d’Orpheu foi o grupo responsável pela introdução do Modernismo nas artes e letras portuguesas. O nome advém da revista literária Orpheu, publicada em Lisboa no ano de 1915.

Seguindo as vanguardas europeias do início do século XX, nomeadamente o Futurismo, os colaboradores da revista Orpheu propuseram-se, de acordo com uma citação de Maiakovski que Almada Negreiros terá usado mais tarde para caracterizar o Grupo, "dar uma bofetada no gosto público". Apesar disto, mantiveram influências de movimentos anteriores, tal como o Simbolismo e o Impressionismo.

Poetas como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, e pintores como Amadeo de Souza-Cardoso e Santa Rita Pintor reuniram-se em torno duma revista de arte e literatura cuja principal função era agitar as águas, subverter, escandalizar o burguês e pôr todas as convenções sociais em causa: o próprio nome "Orpheu" não fora escolhido por obra do acaso — Orfeu era o mítico músico grego que, para salvar a sua mulher Eurídice de Hades, teria de a trazer de volta ao mundo dos vivos sem nunca olhar para trás.

E era essa metáfora que importava aos homens da Orpheu, esse não olhar para trás, esse esquecer, esse olvidar do passado para concentrar as atenções e as forças no caminho para diante, no futuro, na "edificação do Portugal do séc. XX" (Almada Negreiros). A Geração d’Orpheu não contribuiu só para a modernização da arte em Portugal, mas foi responsável pela divulgação de alguns dos melhores artistas do mundo.


PORTUGAL FUTURISTA



Portugal Futurista foi uma revista portuguesa de que só saiu um número, em novembro de 1917. Tendo como director o futurista algarvio Carlos Filipe Porfírio (1895-1970), a revista pretendia ser a voz impressa do Futurismo em Portugal.[1]

O primeiro e único número da revista foi apreendido pela polícia pouco depois de posto à venda, na sequência de uma denúncia da "linguagem despejada" do texto "Saltimbancos", de Almada Negreiros. Segundo Fernando Pessoa, a apreensão deu-se quando a revista, tendo escapado por uma "sorte inexplicável" à censura prévia que vigorava em tempo de guerra, se encontrava já nas montras das livrarias.[2] A polícia, condescendente, consentiu que "os rapazes salvassem o maior número de exemplares que pudessem".[3]

A revista, que se vangloriava de uma hipotética tiragem de dez mil exemplares, era dirigida oficialmente por um aluno de belas-artes, Carlos Filipe Porfírio, mas quem nos bastidores terá realmente comandado as operações foi o pintor Guilherme de Santa-Rita. Uma grande fotografia sua acompanha um texto em que Bettencourt Rebello fala da "sensibilidade mediúnica" de Santa-Rita e afirma que ele era "o artista que o génio da época produziu" e "em Portugal, a mais completa síntese desta época de estranhas manifestações, que Picasso surpreendeu no seu alvorecer". A revista apresenta também quatro reproduções de obras de Santa-Rita Pintor.

Outro artigo, em francês, de Raul Leal, trata de uma das obras de Santa-Rita reproduzidas, considerando-a «la suprème réalisation du futurisme».

Na revista aparece também uma montagem de traduções de textos de Marinetti, Boccioni, Carrà, Russolo e Severini de 1910.

O «Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX» de Almada Negreiros termina da seguinte forma:

«O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades.»

De autores portugueses, a revista tem dois textos de Bettencourt Rebello, um sobre dobre Santa-Rita e outro sobre o futurismo; uma prosa ("Saltimbancos"), três poemas ("Mima-Fataxa", "Sinfonia Cosmopolita" e "Apologia do Triângulo Feminino"), o artigo "Bailados Russos em Lisboa" e o citado "Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX", todos de Almada Negreiros; dois poemas de Fernando Pessoa ("Episódios" e "Ficções de Interlúdio") e o texto "Ultimatum" de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa); poemas de Sá-Carneiro ("Três Poemas"); e o artigo "L’abstractionisme futuriste" de Raul Leal.

De autores estrangeiros, a revista inclui, além do "Manifeste des Peintres Futuristes" (uma colagem de textos dos pintores italianos acima citados), poemas em francês de Guillaume Apollinaire e Blaise Cendrars, o manifesto futurista Le Music-Hall de Marinetti (Milão, 29 de setembro de 1913, republicado no Daily Mail de 21 de novembro de 1913) e, em português, o "Manifesto futurista da Luxúria" de Valentine de Saint-Point.

A peça mais famosa desta revista é, contudo, o Ultimatum, de Álvaro de Campos, que poderá também ter incomodado as autoridades. Fernando Pessoa escreveu a propósito da obra do seu próprio heterónimo:

«É difícil imaginar como qualquer ministério, estando o país em guerra, poderia consentir na publicação de Ultimatum, que, original e magnífico como é, embora não germanófilo (pois é anti tudo, aliados e alemães), contém insultos contundentes contra os aliados, e bem assim contra Portugal e o Brasil, os próprios países aos quais, sem dúvida, Portugal Futurista se destinava.»[2]


As Artes Plásticas na Europa e no Mundo entre 1905 até aos anos 60


A arte sob o signo da provocação

FAUVISMO


Retrato de Madame Matisse (1905), por Henri Matisse



O Fauvismo foi o 1º movimento estético do século XX, e enquanto movimento de grupo foi também o mais curto. Nasceu das pesquisas cromáticas realizadas pelos pintores Henri Matisse e Albert Marquet em Paris, e Derain e Vlamink em Chatou.Oficializou-se no Salão de Outono de 1905 em Paris, onde recebeu o nome que deriva da palavra francesa “fauve” (= “fera”).

Ideologicamente, o Fauvismo faz a rejeição teórica de todas as tendências artísticas anteriores, bem como de todos os convencionalismos na pintura, embora acabe por derivar de muitas das conquistas pós-impressionistas, como as de Van Gogh, Cézanne e Gauguin. Essa rejeição era justificada pela demasiada fidelidade ao mundo visível e pela demasiada intelectualização que essas correntes trouxeram à arte. Os fauvistas negaram toda a intelectualização na arte, valorizando-a exclusivamente pelos elementos plásticos da linguagem pictórica e pela sua função decorativa e estética, promovendo a total autonomia do quadro (obra de arte) em relação ao real.

Para concretizar a sua ideia, os pintores fauves praticavam:

-uma pintura instintiva e imediata que fosse “expressão espontânea das emoções”;

-usavam cores fortes e puras, sintéticas (sem modelado- planas) em harmonias e contrastes;

-simplificaram/ sintetizaram formas, distorcendo volumes e perspetivas;

-assumiram a bidimensionalidade dos quadros, aproximando os planos;

-introduziram nas composições, linhas sinuosas aplicadas como arabescos decorativos, com caráter lírico e sensual.

-os temas não eram relevantes, pois consideravam que qualquer motivo servia.

Assim, as suas pinturas não tinham outro objetivo senão a comunicação estética feita pelos efeitos plásticos das cores e das formas (conceito da arte pela arte). Embora muitos tivessem experimentado o Fauvismo, o autor mais representativo do movimento, e a que ele se manteve ligado durante mais tempo foi o francês Henri Matisse



EXPRESSIONISMO

Contemporâneo do Fauvismo, o Expressionismo foi uma das tendências artísticas mais longas do séc. XX, perdurando sob outras roupagens e outros nomes até finais da 2ª Grande Guerra , estendendo-se para além dela.

Foi também um movimento muito abrangente, pois iniciado pela pintura, teve concretização na escultura, na arquitetura, na literatura (poesia, romance, teatro), na música e no cinema).

Nasceu na Alemanha por oposição ao Impressionismo e Pós-Impressionismo, o que ficou marcado no nome que lhe foi atribuído. Com efeito e tal como o nome indica, o Expressionismo é uma arte “de dentro para fora”, uma arte da alma, que pretende revelar o espírito humano, os seus sentimentos, os medos, as angústias e as ansiedades; a sua fragilidade e a sua força, o seu lado caricato e grotesco.

O Expressionismo foi uma arte comprometida com o Homem e com a denúncia social e política. Neste sentido, é bem o reflexo do momento histórico que se vivia na Alemanha da época, onde a industrialização acelerada e as tendências imperialistas haviam provocado um desenraizamento abrupto das populações campesinas e do modo de vida tradicional, e tinham feito crescer as cidades onde a miséria operária era cada vez mais visível e a marginalidade aumentava levando a uma crise de valores patente na degradação dos costumes burgueses.

Uniformizado por estes conceitos e objetivos, o 1º Expressionismo (o que ocorreu antes da 1ª G. Guerra) foi desenvolvido por dois grupos de artistas, cuja pintura apresentava diferentes particularidades.


“Fränzi perante uma cadeira talhada”, de Ernst Ludwing Kirchner, 1910


--O primeiro grupo foi “A PONTE” (Die Brucke) que se formou na cidade de Dresden em 1905 e durou até 1913. Teve como fundadores: E. Kirchner, E. Heckel; Otto Muller; Max Pechtein e K. Smith-Rottluff, aos quais se juntaram depois muitos outros. A pintura deste grupo caracteriza-se por:

-preferência de temas da vida social ou da vida íntima, à mistura com retratos e autorretratos, todos tirados da contemporaneidade do pintor e com incidência na vida burguesa, mas onde as personagens são mais importantes do que os cenários;

-uma execução técnico-formal marcada por:

-- imediatismo e espontaneidade no processo da criação;

-- predomínio do desenho sobre a cor e uso de um desenho grosseiro, anguloso, infantil e deformante;

-- formas naturalistas simplificadas, e rostos caricaturados ou em máscara;

--cores antinaturais, sem modelado, fortemente contrastadas, ora estridentes e gritantes, ora soturnas e “sujas”;

--composições em desequilíbrio, com erros de perspetiva ou ausência dela, e fundos lisos e neutros, exiguamente trabalhados;

-uma agressividade acentuada que punha a tónica na agressividade, no sofrimento, na violência, na raiva, na insatisfação, no desconforto… A intenção era dar a conhecer a alma humana em toda a sua verdade interior, mesmo que isso afrontasse a própria sociedade e chocasse o público.



O Cavalo Azul, Franz Marc, 1911


--O 2º grupo, O CAVALEIRO AZUL (Der Blaue Reiter) formou-se em 1910, em Munique e desfez-se em 1914, no início da 1ª G. Guerra. O seu fundador e principal mentor foi o artista russo Wassily Kandisnsky, ao qual se juntaram: Paul Klee, Franz Marc, Auguste Macke… Os pintores deste grupo concebiam a arte como expressão das suas experiências pessoais de vida em contacto com o Homem e a Natureza. A sua pintura caracterizava-se por:

-preferência por uma temática ligada à paisagem campestre e urbana, com cenas sociais incluídas, ou cenas da vida animal; e também por temáticas naturalistas de sentido alegórico;

-a execução técnico-formal era mais refletida e pensada, mas marcada por:

-- grande simplicidade de meios;

-- valorização da cor e da mancha cromática na construção de formas, que apareciam sintetizadas e /ou geometrizadas, com tendência para a abstração dos motivos;

--uso de cores antinaturais, mas claras e líricas, com sentido de harmonia;

--composições equilibradas, orientadas maioritariamente por linhas circulares e sinuosas, segundo ritmos musicais; --expressividade mais lírica e suave, cuja tónica residia numa emotividade calma e no sentido mágico e místico das cores e ritmos.

O seu objetivo era expressar a arte e a reflexão pessoal do artista sobre a vida e o mundo.


DADAÍSMO


"O Violino de Ingres" , Man Ray, 1924


O Dadaismo foi um movimento cultural de grande abrangência que envolveu a literatura, a pintura, a escultura, o teatro, a fotografia e o cinema), desenvolveu-se em Zurique (Suiça) e em Nova Iorque, quase em simultâneo. Após o fim da guerra, a dispersão geográfica dos membros destes dois grupos levou à formação de novos núcleos difusores do Dadaísmo, em vários pontos do mundo ocidental como Barcelona, Colónia, Hanôver, Berlim e Paris.

Ainda em Zurique o grupo publicou uma revista “Cabaret Voltaire” dirigida pelo romeno Tristan Tsara. Após o armistício de Novembro de 1918, o grupo transferiu-se para Paris onde causou sensação. Tratava-se de uma escola de vanguarda, animada de um grande desejo de liberdade criadora, e disposta a banir para sempre as tradições e as convenções. O seu desejo de chocar, de escandalizar, foi evidente e voluntário.

Conceptualmente o Dadaísmo explica-se como uma reação às sociedades burguesas e capitalistas e à cultura que elas defendiam. Essa reação foi motivada pela revolta contra os grandes sofrimentos causados pela guerra, os quais o Dadaísmo queria tornar visíveis e pelos quais culpabilizava os sistemas sociopolíticos vigentes.

O seu ideário proclamava também o vazio espiritual e o sentimento de absurdo, que a guerra instalara, tornando obsoletos todos os valores da cultura tradicional.

Os autores dadaístas acreditavam que, para construir uma nova sociedade, era necessário começar por destruir a que já existia, defendendo a ideia de que, “pela destruição também se cria”.

O nome do movimento que deriva da palavra “dada”, encontrada ao folhear ao acaso o dicionário – expressa exatamente essa noção de “nonsense” que estes artistas proclamavam. A arte dadaísta caracteriza-se por:

-nas temáticas abordadas, recorrer a assuntos provocatórios, explorando conteúdos insólitos e incongruentes, aparentemente sem sentido “nonsense”.

-na execução técnica usar técnicas provocatórias, quase todas inovadoras, e outras inspiradas no Cubismo (sobretudo o sintético) :

--na pintura, misturar colagens e objetos encontrados “objets trouvés”; usava fotomontagens, “merzbilders” (espécie de “assemblages” `à maneira cubista) e “rayografs” (impressão do papel de fotografia pela luz);

--na fotografia fez fotomontagens e rayografs; manipulou fotografias em laboratório;

--na escultura usou “assemblages” e inventou os “ready-mades” (peças já feitas, não manipuladas pelo artista, que privilegiavam a intenção conceptual, o conteúdo intrínseco, em detrimento da forma) contribuindo para revolucionar e modernizar os conceitos escultóricos.

--quanto à intencionalidade, a arte dadaísta pretendeu inquietar e provocar o público, afrontando os conceitos tradicionais sobre a arte, pondo-os em causa. O objetivo era promover a consciencialização da noção de absurdo e de vazio que pairava por detrás deles (um mero ato mental).

Ao contestar o conceito tradicional de arte, os dadaístas chegaram mesmo à sua negação, afirmando que a verdadeira arte era a anti arte. Segundo eles, a arte e o artista só deveriam ter lugar na nova sociedade se a ela fossem úteis. Consequentemente preconizavam o regresso do artista à condição de artesão especializado, e concediam à arquitetura, a primazia entre as artes.

Avançado em relação à sua época, o Dadaísmo não foi entendido pelo público em geral; mas teve consequências culturais e artísticas importantes:

--promoveu a discussão em torno do ensino das artes, tendo reflexo na Escola da Bauhaus;

--contribuiu para a evolução do conceito de arte e para o aparecimento de novas modalidades;

--passou influências conceptuais, técnicas e estéticas a outros movimentos como o Surrealismo, o New Dada, O Informalismo, a Arte Conceptual e a Arte Póvera.

Entre os artistas ligados a este movimento estão: Raoul Haussmsn, Hugo Ball, Kurt Schwitters (com os seus “merzs”, espécie de “assemblage”), Francia Picabia, Man Ray, Duchamp (criador e inventor do “ready-made”.

André Breton, o fundador do surrealismo também começou por ser dadaísta.


Os caminhos da Abstração


CUBISMO

O nome cubismo foi achado pelo crítico francês Louis Vauxcelles ao contemplar um quadro de Braque, onde as casas de uma paisagem se assemelhavam a cubos. Este pintor e Picasso, que trabalharam juntos e complementarmente entre 1907 e 1914, lançaram o Cubismo.

Os pintores que criaram o movimento procuraram desligar-se de toda a subjetividade, de toda a sentimentalidade, de todo o conceito religioso, espiritual, ou mesmo cósmico da arte, aspirando a reproduzir as formas puras, geométricas dos objetos. É uma tentativa para eliminar a perspetiva do pintor e para representar os objetos em si, desligados do observador.

O grande precursor desta corrente foi Cézanne, que procurou, segundo as suas próprias palavras, “tratar a natureza pelo cilindro, pela esfera, pelo cone…”. O poeta francês Apollinaire, aparentado com esta corrente, resumia-a bem quando disse que “a geometria é para as artes plásticas o que a gramática é para a arte do escritor”.

Trata-se efetivamente de uma arte de redução geométrica, que aspira a reproduzir, num só plano, todos os ângulos de perspetiva essenciais dos objetos.

O Cubismo foi uma arte profundamente anti-romântica, cuja influência sobre a arquitetura, sobre os objetos utilitários e sobre a decoração foi enorme. Os seus principais representantes além de Picasso e Braque, são Juan Gris e Léger.

Foi um movimento que constituiu uma das primeiras vanguardas plásticas do séc.XX, e é considerado como uma das raízes estéticas da arte abstrata.

Propôs novos modos de representação dos espaços e das formas com base na “invenção plástica” e em pressupostos teórico-científicos como as as mais recentes descobertas da Física - Teoria da Relatividade e o seu conceito de 4ª dimensão - e da Filosofia -conceito sociológico que afirma que o ser humano não se movimenta apenas nas 3 dimensões, mas também numa quarta não menos física, que é o tempo.


Os criadores do Cubismo , o francês Georges Braques e o espanhol Pablo Picasso, foram mais tarde seguidos por um grupo de artistas que com eles contactou em Paris, e do qual faziam parte Albert Gleizes, Jean Metzinger, Francia Picabia, Juan Gris, Marcel Duchamp, Robert Delaunay…

O Cubismo evoluiu em 3 fases distintas:


"Les demoiselles d'Avignon" , Pablo Picasso, 1907


-a 1ª fase foi a cézaniana- decorreu entre 1907-09- e caracteriza-se por:

--prática de temáticas de paisagem e figura humana em ateliê;

--representação racional e geométrica das formas, delineadas por linhas de contorno

quebradas;

--manutenção dos volumes; existência de perspetivas múltiplas com desdobramento de planos;

--rostos simplificados ou em máscara (influência das esculturas afriacanas); redução da paleta cromática.

O início desta fase deu-se com a obra célebre “As Meninas de Avinhão”-1907-Picasso.


“Ambroise Vollard”, de Pablo Picasso, 1910

-a 2ª fase foi a analítica-1909-12- foi a mais representativa do Cubismo, em que Braque e Picasso levaram mais longe os seus postulados teóricos. Caracterizou-se por:

--temáticas de ateliê , como retratos e naturezas-mortas;

--acentuada geometrização das formas, desdobradas em múltiplos planos (perspetivas múltiplas) totalmente achatados; total bidimensionalidade;

--bicromia (uso exclusivo de cinzentos e ocres).

Esta forma de representação resulta da visão simultânea e multifacetada dos vários planos do motivo observado. Isto levou a que o Cubismo fosse apelidado de pintura abstrata, o que estava longe da intenção dos seus autores.


“Violin Valse”, de Braque, 1913


-a 3ª fase – fase sintética-1912-14- representa um recuo em relação à 2ª fase, com o objetivo de tornar os motivos (naturezas-mortas, grupos de figuras e retratos) mais reconhecíveis.

--apresenta formas geometrizadas e planificadas, agora representadas em menor número de planos ou pontos de vista;

--retoma a policromia; emprega objetos reais, tridimensionais (areias, alfinetes, recortes de jornais, pautas de música…) sobre a superfície do quadro, por meio da colagem.

A 1ª e a 2ª fase são exclusivas de Braque e Picasso, os únicos a pintar dentro destes princípios. A 3ª fase, a sintética, marca a abertura do Cubismo a novos intervenientes.

A pintura cubista, embora de curta duração, teve consequências duradouras. A sua plástica criou uma nova estética que influenciou a produção artística na escultura (aparecimento da escultura abstrata), na arquitetura, no design e no estilismo. Marcou o Futurismo e acelerou o aparecimento do Abstracionismo.



PABLO PICASSO (1881-1973) "Guernica"



“GUERNICA”

Esta obra foi encomendada a Picasso para figurar no Pavilhão de Espanha da Exposição Universal de 1937, que iria decorrer em Paris.

O artista inspirou-se num episódio terrível da História de Espanha: o bombardeamento que a Legião Condor da aviação alemã efetuou sobre a pequena cidade basca de Guernica, com a autorização do General Franco, que chefiava os nacionalistas na guerra civil que então decorria. O ato foi de tal forma violento que chocou a Europa e Picasso resolveu utilizá-lo como tema para denunciar os horrores da guerra ao mundo.

Sobre uma enorma tela de 3,49x7,76, Picasso relata o tema através de várias figuras (mulheres, guerreiro, cavalo, touro) que se deslocam da direita para a esquerda, com o cenário da cidade por detrás, usando uma paleta reduzida de branco, negro, cinzentos e ocres.

A linguagem plástica utilizada é predominantemente cubista (simplificação geométrica das formas e desdobramento de planos; paleta cromática reduzida e bidimensionalidade), mas reflete também influências expressionistas (deformação significativa de certas formas, como a língua-punhal, pés e mãos enormes…) e futuristas (interpretação de planos em diagonal, o que imprime o movimento).

Contudo a intenção é nitidamente neorrealista. A composição da obra é clássica, constituída por 3 cenas (uma central, mais larga, e duas laterais, mais estreitas) como se fosse um tríptico

Também se entrevêem nesta obra outras influências: a decomposição dos planos e das formas, o grafismo e paleta mínima (negro, branco, cinzento) são de pendor Cubista;

e o simbolismo de algumas das personagens e objetos representados ligam a obra ao Surrealismo

Aspetos significativos

A representação da destruição da cidade e do sofrimento e da morte dos habitantes de Guernica, bombardeada por aviões alemães em 1937, no decurso da Guerra Civil

são manifestadas na arte como denúncia das consequências de um ato de violência e de terror;

A distorção expressiva das figuras (mãe com o filho morto nos braços, um guerreiro destruído pelos estilhaços, corpos destroçados, a agonia de um cavalo, a casa em chamas), tal como a combinação dos símbolos associados à realidade histórica, ou a

renúncia da cor limitada à paleta mínima: branco, preto e cinzento, ou ainda as formas geometrizadas, a decomposição e intersecção de planos são manifestamente usados para realçar a expressividade da obra.



FUTURISMO



Formas Únicas de Continuidade no Espaço, Umberto Boccioni, 1913


"O Futurismo é um movimento literário artístico, com repercussão europeia, mas fundamentalmente italiano. O primeiro manifesto futurista, redigido por Marinetti, aparece, todavia, num jornal francês, o “Figaro”, em 1909. Provoca uma profunda mudança de formas e de temas, caracterizando-se pelo que se poderá chamar um lúcido delírio ou uma involuntária embriaguez. Na poesia , substitui os tradicionais motivos de inspiração lírica, como a flor, a mulher, o amor, por outros que cantam a velocidade, as imagens em movimento, o útil e o prático, os prodígios da técnica…

Os poetas usam imagens tiradas dessa mesma técnica, palavras correntes e vigorosas, e recorrem frequentemente à onomatopeia (criação de nomes por harmonia imitativa). Excessivo, mas arrebatador e dinâmico, o futurismo arrancou a poesia do marasmo esteticista em que vegetava desde o simbolismo e o decadentismo.

Na LITERATURA o dinamismo futurista alcança uma expressão máxima na Ode Marítima e na Ode Mecânica de Álvaro de Campos.

Estiveram ligados ao futurismo, além de Marinetti, Pessoa e Almada, pintores como Léger, Balla e Delaunay; escritores e poetas como Papini, Maiakowsky, James Joyce e muitos outros."


O Futurismo movimento cultural (literário e artístico) que se instituiu em 1909 com a publicação do “Manifesto Futurista” do poeta Marinetti prolongou-se até pelo menos à 2ª Grande Guerra. Nasceu da contestação e da revolta contra a tradição, o imobilismo cultural e os preconceitos morais.

Propôs uma adaptação revolucionária à era da industrialização e da máquina, exaltando a ação, a coragem, o dinamismo. Mais do que uma proposta para um programa artístico, o Futurismo foi uma filosofia de vida que envolveu os artistas até nos atos da sua vida pessoal.

Nas artes plásticas evoluiu em 3 períodos ou fases:

-1ªfase- 1909-10- até à 1ª G. Guerra- foi a formação e a definição do movimento em Itália, país onde teve início, e da divulgação do mesmo em toda a Europa;

2ª fase- ocupou o período entre guerras- foi a fase do alargamento de princípios futuristas a outras modalidades plásticas com o design industrial, o estilismo e o cinema.

3ª fase- 1947-50 –restringiu-se à França onde houve uma breve tentativa de restabelecimento desta corrente.

Nas artes plásticas, o Futurismo manifestou-se na pintura, tendo tido também aplicação na escultura e na arquitetura. Na pintura caracterizou-se por:

-prática de temáticas inovadoras, símbolos da vida moderna e do futuro como: a vida ruidosa das cidades, as máquinas em funcionamento (automóveis, aviões, locomotivas…), luz elétrica e seus efeitos, a guerra, o cinema…

-decomposição geométrica das formas através de linhas quebradas em ângulos agudos (mais dinâmicos) e em curvas sinuosas;

-prática da simultaneidade, interpenetração dos planos formais e espaciais para obter efeitos de multiplicidade de formas e sua movimentação no tempo (4ª dimensão), como nas sequências rítmicas e nas cronofotografias.

-utilização de linhas de cores puras, ortogonais, angulares e espiraladas, que atravessam as telas à semelhança de raios luminosos, simulando o movimento ou a decomposição da luz na atmosfera;

-uso de cores fortemente contrastadas, estridentes e violentas;

-prática, nalguns casos do método divisionista na aplicação da cor.

-as telas assim construídas exaltavam fortes emoções, tais como: movimento, dinamismo, coragem e determinação. Valorizavam a plástica da cor e da luz-movimento;

-exaltavam a modernidade e o futuro, tal como era concebido.



O “ULTIMATUM FUTURISTA ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉCULO XX"

O “Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Séc.XX” de José de Almada Negreiros, é o texto do discurso que este artista português escreveu e declamou na 1ª Conferência Futurista em Portugal em 14 de Abril de 1917 enquanto decorria a 1ª Grande Guerra, na qual Portugal também participava.

Nesse discurso, Almada fez o retrato de Portugal da sua época, como um país retrógrado, atrasado e saudosista, preso ao passado e à tradição e interpelava os portugueses para que abandonassem o “passivismo” e a indiferença, se munissem de coragem e espírito de aventura, de modo a aproveitarem a guerra que decorria para construírem um Portugal novo, moderno e progressista.


Almada Negreiros e o Futurismo

As críticas de Almada Negreiros no movimento futurista europeu assentavam nos seguintes aspetos defendidos por ele:

-requeria uma renovação radical dos temas, formas e linguagens artísticas e literárias;

- requeria a necessidade de rutura com os valores estéticos e literários tradicionais;

-repudiava o passadismo literário, propondo a rejeição do «gosto» clássico;

-fazia a glorificação: do futuro, da invenção e da modernidade, considerando que a juventude é a força mobilizadora da transformação social;

-fazia apelo aos valores nacionalistas e patrióticos- uma forma de mobilizar as energias criadoras.


MOVIMENTOS SUBSEQUENTES DO CUBISMO E DO FUTURISMO

O Cubismo, sobretudo o sintético, fez aparecer novos movimentos como a SECÇÃO DE OURO (ou Secção Áurea) que durou de 1912 a 14. Este movimento pretendia conseguira concretização dos princípios cubistas com o máximo de rigor científico e daí o seu nome.

Teve como principais representantes: Albert Gleizes, Jean Metzinger, Frank

Kupka e Marcoussis.


Do Cubismo e do Futurismo nasceu também em 1912 o ORFISMO- movimento pictórico que acrescentou aos princípios formais e espaciais do Cubismo, os da cor pura e do movimento rímico circular. Os seus criadores foram o casal Sonia e Robert Delaunay.

O Futurismo esteve também na origem do aparecimento do RAIONISMO

Russo (influenciou o aparecimento do Construtivismo) e do VORTICISMO na Inglaterra.


A Arte Abstrata como arte democrática


ABSTRACIONISMO – o abstracionismo ou arte abstrata, ou arte não figurativa, pretende reduzir a pintura e a escultura, ao que são essencialmente na pintura – as cores – e na escultura – os volumes. Repudia pois não só a figuração, mas também o tema. A arte abstrata não projeta dizer seja o que for: deseja, isso sim, que o quadro ou a escultura seja um objeto plástico puro.

É o russo Kandinsky quem lança a arte abstrata em 1909. Na pintura há que distinguir a Abstração Geométrica (Mondrian, Malevitch…) da abstração lírica representada sobretudo por Kandisnsky, Hartung e Delaunay.


Aguarela Abstrata, 1910, Wassily Kandinsky



O Abstraccionismo

-O abstracionismo nasceu, oficialmente, em 1910, a partir de uma experiência isolada de Kandinsky ainda durante o período em que integrou o Cavaleiro Azul, e que terminou em 1933 com o fim da Bauhaus.

-Consistiu na anulação do tema e foi considerada a forma mais pura de arte devido à sua libertação face aos programas culturais ou ideológicos vigentes.

Intuída já por várias correntes pictóricas desde o final do século XIX, a arte abstrata conheceu o seu primeiro desenvolvimento entre 1918 e 1933, sendo por definição uma arte sem tema nem objeto, assumindo-se como a expressão mais pura da arte do espírito, e liberta de programas ideológicos; ela é de fácil compreensão por todos pois não carece de interpretação, daí ser considerada mais democrática.

No período entre 1918-33 a arte abstrata manifesta-se nas correntes seguintes:


--ABSTRACIONISMO LÍRICO ou expressivo—


Fuga, Kandinsky, 1914, óleo sobre tela


Tem como antecedente a pintura de “O Cavaleiro Azul” e teve em Kandinsky o seu iniciador e principal representante.

Inspira-se na imaginação, no inconsciente e na música e manifesta-se numa pintura de pontos, linhas e planos de cor que prefiguram formas orgânicas, arredondadas e irregulares, pintadas em cores vibrantes, ora planas e puras, ora com nuances, aplicadas em pinceladas rápidas de tinta alisada (não texturada). Estas formas organizam-se livremente sobre a tela, segundo ritmos musicais dinâmicos, num processo de composição abstrato que privilegia a espontaneidade e a intuição.

As telas assim compostas comunicam principalmente pelos efeitos emocionais e plásticos que em nós provocam. A intenção que lhes está subjacente é a de expressar os conteúdos espirituais através da essência da pintura, reagindo contra o materialismo da época ( no que revela a influência da Teosofia).


--ABSTRACIONISMO GEOMÉTRICO: Suprematismo e Neoplasticismo.—

O Abstracionismo Geométrico é uma arte racional que resulta da análise intelectual e científica do mundo espiritual. Na sua concretização técnica recebeu influências do Cubismo Sintético e do Futurismo. Manifestou-se em duas correntes diferentes: uma nascida na Rússia em 1915-16: o Suprematismo, e outra na Holanda em 1917: o Neoplasticismo.


--O SUPREMATISMO—



Suprematism, Kazimir Malevich, 1915


Foi criado pelo pintor russo Casimir Malevitch e caracteriza-se por usar formas geométricas básicas (quadrados, retângulos, triângulos e círculos) de diferentes tamanhos, anotados em cores primárias e planas, associadas ao branco e ao preto. Essas formas pairam sobre um fundo branco e vazio das telas em total bidimensionalidade, sem qualquer noção de perspetiva ou profundidade.

Organizam-se em direções paralelas e/ou convergentes, criando sobreposições, o que provoca sensações de movimento, dinamismo e ritmo.

Inspirado pela filosofia niilista de Nietzche e dos filósofos russos de finais do séc.uloXIX, a intencionalidade de Malevitch era praticar uma pintura pura, capaz de expressar o espírito humano sem qualquer ligação à realidade. Esta procura de pureza pictórica através de meios plásticos cada vez mais depurados haveria de conduzir Malevitch a pôr em causa a existência da própria pintura, com a sua obra “Quadrado Branco sobre Fundo Branco”.


--O NEOPLASTICISMO—





Composição II com Vermelho, Azul e Amarelo, Piet Mondrian, 1930


Foi um movimento mais amplo, abrangendo desde o início, a pintura, a escultura, a arquitetura, o design e a literatura. Foi divulgado pela revista “De Stijl” (O Estilo), para a qual escreveram alguns dos mais importantes representantes do movimento, como os pintores, Piet Mondrian, Theo Van Doesburg e Van Der Lech, e os arquitetos Pieter Oud e Guerrit Rietveld.

Na pintura, as obras neoplasticistas caracterizam-se por:

-representação de quadrados e retângulos de cores primárias, e por vezes também de outras cores. Elas são planas e lisas delimitadas por linhas ortogonais a negro com diferentes espessuras.

-a composição vive da relação espacial entre formas e linhas, organizadas sobre o espaço do quadro (o fundo), de forma, ora dinâmica, ora estática. Estas composições provocam no observador, sensações, ora de equilíbrio, ordem e serenidade, ora de movimento e dinamismo.

-Em todas contudo, a impressão dominante é a de racionalidade, clareza e harmonia.

O Neoplasticismo visou criar uma nova estética, pura e universal, não representativa, mas objetiva e racional que “eliminasse o trágico da vida humana”. Para isso criou uma simbologia universal, um código limitado de formas e cores, capaz de expressar um número ilimitado de mensagens espirituais. Assim, o Neoplasticismo comporta também um sentido exotérico e teosófico.


ARTE INFORMAL

No pós-2ªGuerra, a arte ocidental deixou de depender unicamente dos centros produtores europeus (França, Inglaterra, Alemanha, Itália…) que passaram a dividir protagonismo com os centros de arte americanos, principalmente com Nova Iorque.


-ARTE INFORMAL ou INFORMALISMO-

Foi uma das primeiras vanguardas pictóricas do pós-2ªGuerra e desenvolveu-se quase ao mesmo tempo nos EUA e na Europa. Parte de um conceito novo de arte, que concebe a criação e a execução artísticas como um ato só, praticadas em simultâneo e em constante dialética, rejeitando toda a racionalização e formalidade da arte anterior. Pondo a tónica no “fazer”, privilegia o material e a técnica como partes primordiais da realização plástica. As técnicas usadas têm um caráter artesanal e provêm, em grande parte, das vanguardas anteriores (Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo…). O Informalismo agrupa diferentes expressões individuais e diferentes tendências:


a) PINTURA GESTUAL ou GESTUALISMO “Action Painting”

Nasceu com o americano Jackson Pollock nos anos 40. Caracteriza-se por ser uma pintura intuitiva e espontânea, executada em grandes gestos lançados ao acaso. Em pinceladas largas ou escorridos –drippings- sobre telas de grande dimensão, que vão formando tramas lineares densas e complexas que cobram o suporte até à exaustão –all-over- . Esta execução baseia-se no conceito surrealista do automatismo psíquico, isto é, na relação direta que existe entre o inconsciente, o gesto criativo e o material pictórico como veículo revelador do conteúdo interior.

Para além de Pollock estão também ligados ao Gestualismo: Franz Kline, Sam Francis, Nicolas de Stael…


b) ARTE BRUTA

Nasceu na Suíça com autores como Jean Dubuffet e Jean Fautrier.

Usou um desenho infantil e deformante, feito com cores sujas e empastadas, associadas a materiais diversos colados sobre a tela (vidro, serrim, areias…) e depois arranhados e raspados.


c) PINTURA MATÉRICA

Executa-se com pastas e materiais não pictóricos, aplicados no suporte (tela ou outro) por vários processos, e depois intervencionados pelo pintor (rasgados, enrugados…) de modo a criar texturas de expressividade plástica.

O catalão AntónioTàpies e o italiano Alberto Burri são os melhores representantes.


d) PINTURA ESPACIALISTA

Esta corrente nasceu em 1946 com o “Manifesto Branco” de Morandi e defende uma pintura concisa e depurada, feita por grandes superfícies planas de cor única, sobre a qual o artista intervém com cortes, colagem de objetos ou outros processos, para criar efeitos de tridimensionalidade.

São representantes: Lucio Fontana, Yves Kein…


-EXPRRESSIONISMO ABSTRATO-

É um movimento que mistura conceitos do Expressionismo, do Surrealismo, e do Abstracionismo, e que nasceu nos EUA em 1947.

Utiliza uma linguagem plástica simultaneamente abstrata e figurativa. Recorre a processos e técnicas informalistas (manchas, escorridos, riscos, colagens…). Visa expressar de modo imediato e autêntico, os estados de espírito e emoções do artista. São exemplos deste movimento as obras de Arshille Gorky, Willeim de Kooning, Karel Appel, Antonio Saura…


-ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA-

Foi um movimento pictórico nascido nos EUA nos anos 50 do séc.XX. Define-se por assumir a pintura unicamente pelos seus valores próprios e exclusivos, renegando todos os outros. Assim, é uma pintura restrita aos valores da cor e da bidimensionalidade, que se executa com cores puras, límpidas e finas, sem textura nem modelado, que preenchem superfícies de formas regulares e/ou geométricas, ou ocupam toda a tela. Este tipo de execução anula toda a expressão individual e toda a emoção, assumindo a pintura como um exercício plástico e concetual. Recebeu influências de Action Painting e do Espacialismo, e passou influências para o Minimalismo e para a Abstração Pós-Pictórica. São representantes da Abstração Geométrica, os pintores, Morris Louis, Barnet Newman, e Ad Reinhardt.


O regresso do mundo visível


O NEORREALISMO


Após a 1ª Grande Guerra e até aproximadamente à eclosão da 2ª Grande Guerra , a arte ocidental conheceu um regresso à linguagem figurativa, apoiado no conceito de que a arte deve refletir a sociedade para poder atuar sobre ela. Este regresso ao mundo visível explica-se pelo período difícil pelo qual a Europa do pós-guerra estava a passar:

-instabilidade social económica e política; ascensão dos autoritarismos em contraposição com o crescimento dos ideais de “esquerda” nos países do ocidente, expandidos pelo movimento sindical e operário e por certos núcleos de intelectuais e artistas. Em conexão com os contextos sociais e políticos de cada país, assim, este regresso ao visível tomou diferentes cambiantes :


REALISMO FIGURATIVO, Realismo Crítico ou NEORREALISMO


Na URSS e nos restantes países do comunismo socialista, desenvolveu-se a partir dos anos 30, em Realismo Figurativo, de raiz neoclássica e académica, que foi usado para propaganda e promoção dos valores ideológicos do regime às massas, numa linguagem que todos entendessem.

Manifestou-se na pintura, na escultura, no mural e no cartaz, com temáticas ligadas às vitórias do regime e ao povo trabalhador (camponeses, operários e soldados).

O Realismo Figurativo foi também usado pelos regimes ditatoriais entretanto implantados (Nazismo alemão, Fascismo italiano, Estado Novo em Portugal…) e com os mesmos objetivos.

Estas ditaduras fizeram da estética realista e académica, a estética oficial dos seus regimes, onde a arte era controlada pela censura.


REALISMO CRÍTICO OU NEORREALISMO

Nos restantes países europeus e americanos, a tendência realista manifestou-se com um sentido mais ético e humanitário (desmascarar as injustiças sociais e os sofrimentos ocultos, exaltar o povo trabalhador, face à sociedade burguesa, combater os regimes autoritários, difundir o pacifismo e o anticolonialismo…) e concretizou-se de forma mais livre e pessoal, embora sempre com um cunho modernista, de influência expressionista, pós-dadaísta e surrealista.

Este realismo teve o nome de Realismo Crítico ou Realismo Social (na França e na Alemanha, por ex.) ou ainda Neorrealismo, nome que tomou na Itália, Portugal, Brasil e México, entre outros.

Nomes importantes do Neorrealismo foram os dos muralistas mexicanos como, Diego Rivera, José clemente Orozco e David Siqueros.


"Na LITERATURA o Neorrealismo Uma das mais importantes correntes do século XX, que se desenvolveu sobretudo nos países onde os problemas sociais foram mais prementes. Costuma ver-se em Gorki o seu inspirador, mas alguns romances de Zola – como “A Terra” – já são francamente neo-realistas. Em Itália, Espanha, Portugal e América Latina, os neo-realistas foram corajosos lutadores na luta contra o fascismo.

No neo-realismo o homem social, visto como representante de classe, toma o lugar do homem como personalidade individual. É uma literatura que busca acima de tudo mostrar a dinâmica ou a dialética social, de modo influente e intervencionista, pintando de forma dramática as condições de vida das classes ou grupos mais desprotegidos."


SURREALISMO


"SURREALISMO – No seu “Manifesto” de 1924, o poeta francês André Breton, teórico do movimento, define o Surrealismo como “automatismo psíquico puro”, livre de toda a força da razão, e independente de qualquer intenção estética ou moral.

Ao contrário do Cubismo, sobretudo ocupado da natureza, o surrealismo debruça-se sobre o homem e o seu inconsciente. Influenciado pela psicanálise de Freud, manifesta uma dupla intenção: sob o ponto de vista psicológico-artístico, mostra a realidade mais funda da vida interior, as inibições, as obsessões, os complexos, os sonhos aparentemente desarticulados, o que é estranho à força de ser real, tudo visto através de uma poderosa imaginação criadora; sob o ponto de vista social, ataca o convencionalismo burguês, feito de aparência e de falsidade, mostrando a sobre-realidade humana. Além de Breton, os principais teóricos do Surrealismo são os poetas Eluard e Aragon.

Lançado na década de 20 só alcança Portugal na década de quarenta, nele se distinguindo os poetas Mário Cesariny e Alexandre O’Neil. Muitos traços do Surrealismo passam nos versos de Natália Correia, Eugénio de Andrade e Egito Gonçalves.

De entre os pintores surrealistas referem-se Picabia, Chirico, Max Ernst, Salvador dali: outros grandes artistas como Paul Klee e Juan Miró podem também ser aparentados do movimento. (Em Portugal há a referir os artistas António Dacosta, António Pedro entre outros)."



O Surrealismo foi um movimento artístico que se estendeu entre a literatura, por onde começou, até às artes plásticas, à fotografia e ao cinema. Iniciou-se em França por volta de 1919 e expandiu-se pela Europa e América.

A nível conceptual surgiu como reação à cultura e civilização ocidentais, em particular ao racionalismo e convencionalismo. Em oposição, defendia a liberdade e a irracionalidade através de obras que fizessem sobressair o sonho, a metáfora, o inverosímil e o insólito.

Adotou alguns ensinamentos de Freud e da psicanálise e esteve ligado aos movimentos de esquerda Marxistas.

A sua estética tem raízes no Simbolismo, na pintura metafísica e em algumas obras de Picasso e Klee.

As obras eram desligadas da razão; a associação de ideias era feita arbitrariamente sem preocupações estéticas racionalizadas e moralidade implícita. Até para alcançar este tipo de associações, eram usadas técnicas como o desenho em estado de embriaguez, semi-hipnose, fome, drogas...

A nível plástico, os artistas usaram alguns ensinamentos Dadaístas como o desenho e pintura automáticos e, mesmo as técnicas clássicas: a gradação cromática e o modelado.



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