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Cultura da Catedral

 RESUMO - Módulo 4

 

MÓDULO 4 - Cultura da Catedral 

_do século XII à 1ª metade do século XV-

Este período correspondeu a uma época de renovação sem precedentes. A Europa, que vivia já numa situação de expansão desde o século XI, atingiu um período de renovação no século XII, tendo o seu apogeu no século XIII nas várias vertentes civilizacionais: económica, social, políticos, cultural e religiosa.

O desenvolvimento económico fez-se notar:

--na agricultura excedentária,

-- no incremento das atividades artesanais que estimularam os mercados internos e a abertura do comércio internacional – nos mares, Mediterrâneo e Báltico, e Oceano Atlântico.

As feiras nacionais e internacionais deram origem a cidades de renome e contribuíram para o desenvolvimento de trocas de moeda entre os países dando origem aos câmbios numa economia monetária.

O progresso económico-financeiro possibilitou o crescimento demográfico – foi das aldeias que saiu mão-de-obra para as cidades que agregaram um novo grupo social – a burguesia – constituído por artesãos, mercadores e letrados, organizados em grupos profissionais.

 Em muitas destas cidades a burguesia impôs o movimento comunal conquistando autonomia administrativa (com um governo próprio). Tinham também mais liberdade e direitos em relação ao poder feudo-senhorial.

A nível político deu-se progressivamente nesta época uma centralização régia. Para concretizar essa governação e manter um exército, o rei rodeou-se de uma corte de nobres, eclesiásticos e burgueses, que mantinham um novo e luxuoso estilo de vida.

A cultura e as artes beneficiaram desta situação porque os reis e o clero tornam-se mecenas. Assim, a nível cultural desenvolveu-se a cultura escrita – aumentaram as escolas e foram criadas as universidades. O ensino aí ministrado seguia a filosofia escolástica – consistindo num estudo livresco e teórico cuja autoridade do mestre nunca era contestada. O ensino englobava o conhecimento dos filósofos clássicos (Platão e Aristóteles) e dos autores cristãos como S. Agostinho.

Esta situação em que a Europa vivia foi interrompida na 2ª metade do séc. XIV, por uma  grande depressão  resultante de:

-- da chegada à Europa da Peste Negra,  acompanhada de maus anos agrícolas que se seguiram;

-- da inflação monetária e da carestia de vida e fome;

Esta situação foi prolongada depois pela Guerra dos cem anos.*

*A Guerra dos Cem Anos foi uma série de conflitos envolvendo França e Inglaterra, entre 1337 e 1453. Os ingleses se aproveitaram do vácuo de poder na França para invadir seu território e controlar o comércio de Flandres.

 

Só no início século XV a Europa começou a recuperar desta depressão sobretudo  devido ao dinamismo produtivo de cidades da Itália e da Flandres, e posterior abertura marítima e comercial de portugueses e espanhóis.

 

_A EUROPA DAS CIDADES_

O século XII assistiu transição de uma Europa rural para uma Europa de cidades – que se tornaram polos dinamizadores da vida económica, social, política, cultural, religiosa e artística global.

Surgia no homem das cidades uma nova mentalidade, mais livre, laica, individualista e pragmática, que está na base destas mudanças.

O desenvolvimento e a importância destes centros residia nas suas especificidades funcionais:

Umas tornaram-se importantes centros indústrias como em Itália (Florença…) e na Flandres (Bruges…)

Ouras desenvolveram-se à volta de grandes feiras como em França  a cidade de Champagne.

Outras ainda eram cidades-porto e/ou locais de passagem como Veneza, Sevilha, Lisboa, Roterdão…

Havia também as cidades que cresceram devido às suas igrejas de peregrinação; e outras ainda por agregarem centros universitários.

As universidades eram associações de mestres e alunos que aprofundavam os estudos das escolas conventuais. O seu currículo académico inicial incluía duas áreas: o trivium e o quadrivium.

Depois passava-se para as faculdades de grau superior, como a especialização em Direito (Pádua e Bolonha), Teologia (Paris) e Medicina (Montpelier).

Em Lisboa a 1ª universidade foi fundada em 1290.

 

_A PESTE NEGRA (1348)  e suas consequências_

Esta peste assolou a Europa  desde a Península Ibérica à Rússia entre 1347 a 1348 . Foi das piores epidemias da Humanidade tendo matado cerca de 1/3  da população na época.

As consequências da Peste Negra foram gravíssimas:

Deu-se em consequência uma violenta quebra demográfica. O que a acompanhou foi um quadro económico completamente derrubado; proliferação de fomes, revoltas e violência social. A situação era de tal modo grave que o medo religioso levou por um lado, a práticas extremas de penitências, extremadas pelos designados auto-flagelantes; por lado surgiu a crítica à religião com o aparecimento de heresias. Ao mesmo tempo a sociedade promovia a criação de bodes expiatórios, consistindo em pessoas marginais que eram massacradas;

Havia basicamente um contraste social violento: por um lado uns dedicavam-se à vadiagem enquanto outros procuravam uma vida de prazeres.

O medo religioso desta época foi também favorável às doações a igrejas, hospitais e hospícios numa expetativa de pagar pelos pecados e aplacar a ira divina.

 _Consequências da Peste Negra nas artes:_

A Peste Negra trouxe sobretudo uma representação da figura da morte, em esculturas e pinturas, como aviso da sua constante ameaça sobre os vivos;

Também surgiu a representação dos defuntos sob a imagem da decomposição do corpo, como advertência para a fragilidade da vida.

 

_A CIDADE - O COMPLEXO URBANO_

Entre os séculos XII e XV, as cidades cresceram  de tal modo que foram construíram novas muralhas ou então foram criadas de raiz novas cidades  que se tornaram-se centros económicos, financeiros, políticos, administrativos e religiosos da época.

De meros refúgios  durante as hostilidades na guerra, tornaram-se em tempos de paz, centros prósperos que abrigavam as sedes de comércio e da administração e as universidades.

Estes centros comportavam a catedral, o palácio da administração ou seja a  casa comunal ou signoria  e casas das corporações das várias atividades comerciais ou artesanais da cidade.

Estes edifícios públicos rodeavam a praça ou praças de onde partiam as ruas que acabavam nas portas das muralhas. Na cidade medieval as ruas eram estreitas e tortuosas, sujas e povoadas, por gentes e animais. Essas ruas estavam organizadas por ofícios, um por cada rua (Rua dos Caldeireiros, Rua. dos Sapateiros..). As casas comuns, geralmente de madeira, possuíam no rés do chão lojas e oficinas.

As cidades não tinham polícia, iluminação pública, água canalizada, ou saneamento. Excetuando as construções importantes que eram de pedra, as outras eram de taipa ou de madeira e com poucas condições, o que as tornava insalubres e propícias a incêndios.

A sua configuração, fechada e radiocêntrica, condizia com a filosofia aristotélica que via nos círculos concêntricos a representação simbólica do Universo.

No centro das cidades as praças eram os centros orgânicos, às vezes extensões do adro da catedral e do Palácio da Signoria. Nelas se colocava o pelourinho (símbolo da autoridade pública), e se realizavam festas, atos públicos e o mercado.

Em termos político-administrativos distinguiam-se 4 tipos de cidades:

1- as cidades reais- governadas por reis;

2- as cidades episcopais- governadas por bispos;

3- as cidades senhoriais- governadas por senhores feudais;

4- as cidades livres ou comunas.

 

_A cidade gótica_

Além da catedral que era a construção mais importante e característico – desenvolveram-se novas tipologias arquitetónicas fruto do desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais urbana.

devido à insegurança característica da baixa idade média, as cidades começaram a crescer  e construíram-se muralhas à sua volta . Esta situação permitia ao governante da cidade conceder proteção aos seus habitantes sob a condição de pagamento de impostos.

A necessidade de organizar o crescimento das cidades levou à constituição de regras que tinham como base um crescimento centrado à volta da catedral do mercado e a câmara municipal, através das quais se orientavam depois os outros edifícios.

Estes edifícios centralizados foram então o berço de espaços lúdicos -  as praças - a partir dos quais se realizavam cerimónias, comemorações ou mesmo atividades económicas como o artesanato e o comércio.

Esta vitalidade urbana foi própria do período gótico e teve consequências culturais importantes:  o surgimento de música entre as classes populares, dos jograis e dos trovadores, as festividades nos dias de feriado.. são estes os impulsionadores da revitalização urbana.

As cidades também começaram a revelar a existência de destacados edifícios – os palácios - que mostravam o poder económico, político, social de uma classe hierarquicamente favorecida  constituída por aristocratas,  ricos burgueses e ainda representantes do alto clero.

Mas certamente era a religião que continuava a ser uma preocupação maior -a cidade gótica manifestava forte devoção religiosa materializando-se na construção do sua catedral.

Mesmo os edifícios civis seguiam o esquema arquitetónico das catedrais, como é o caso da câmara municipal  que  marcava o centro da cidade, tendo grandes praças à sua frente e torres de alturas que chegavam a competir com as catedrais transmitindo a ideia do poder administrativo. 

          

_A CATEDRAL_

A catedral, ou seja a igreja do bispo, era o símbolo do poder espiritual e temporal da autoridade religiosa. Ela tornou-se o centro da cidade - junto às suas paredes exteriores, ou no seu adro, realizavam-se as mais importantes atividades.

Era uma prova do orgulho cívico e do entusiasmo religioso de todos os habitantes da cidade que participaram na sua construção que chegava a demorar várias décadas. Era também o símbolo da cidade e da “renovação económica” na Europa pois revelava o poder económico da burguesia mercantil e letrada que financiava a sua construção e manutenção.

A construção da catedral era muitas vezes motivo de rivalidade entre cidades. Desejosas de demonstrar o seu poderio económico, político e social, as cidades competiam na construção em altura de belos e sumptuosos edifícios; essa construção refletia o desejo de mostrar a riqueza, o prestígio e a capacidade técnica e empreendedora das sua populações. A catedral era também considerada a “Casa de Deus” na cidade dos homens por isso, era um local de formação das ideias religiosas da época, sendo o seu mais importante papel - o doutrinal e didático. Foram sobretudo as ideias do caso do abade Suger, concelheiro do rei de frança, que serviram de suporte a uma nova maneira de conceber um espaço sagrado dedicado a um Deus que é Luz segundo ele defendia. A catedral submetia-se agora á ideia de rasgar o espaço e a abertura de grandes vitrais nas paredes para permitir assim a entrada da luz.

 

_A CULTURA CORTESÃ_

Os tempos de paz e bem-estar a seguir às invasões bárbaras e formação dos reinos cristãos na Europa, propiciaram o desenvolvimento de uma cultura cada vez mais profana e humanista.

Nesta época a cultura religiosa traduzia-se em festas e romarias, procissões e autos teatrais – (os mistérios com representações de cenas religiosas), seguidas de danças e cantares.

Os atores eram os menestréis (artistas ao serviço da corte), jograis (tocavam e declamavam versos ao mesmo tempo e eram pagos para isso) ou artistas de circo  que atuavam nas praças para entreter e educar o povo.

A cultura era essencialmente oral exprimindo-se em cantares acompanhados por música. Mas nas cortes reais e senhoriais –onde se vivia com o conforto, o luxo, o prazer e as diversões - os assuntos mais intelectualizados, eram apresentados por trovadores profissionais que entretinham o clero, a aristocracia e a alta burguesia durante os banquetes, festas e bailes, realizados, em dias festivos e serões. Foi nestas práticas que nasceu a poesia trovadoresca.

Também os jogos guerreiros (justas, torneios, caçadas ao veado e ao javali…) desenvolvidos

pela nobreza eram meios de exercitar a  mestria física, ou mesmo outros jogos como os da bola e do tabuleiro permitiam ocupar esta sociedade em tempos de tréguas. Formava-se assim uma cultura que muito contribuiu para a suavização dos costumes e mentalidades, o que possibilitou o desenvolvimento cultural resultante do apoio a artistas e letrados processo a que se passou a designar por mecenato.

 

_O LETRADO DANTE ALEGHIERI - (1265 -1321) _

Dante nasceu em Florença e distingue-se como homem de elevada craveira intelectual e moral, tanto na política como nas letras mas não totalmente compreendido na sua época, pois após intensa atividade política na defesa da sua cidade, foi obrigado a exilar-se.

Dedicou toda a sua vida à escrita preferencialmente em verso e em língua italiana no que foi original, contribuindo para o nascimento da literatura italiana. Criou também o “dolce stil nuovo” (doce estilo novo), uma composição nova baseada numa nova métrica, inspirada em Virgílio e Ovídio (poetas da antiguidade Romana). Das suas obras brilhantes obras destacam-se: “Vita Nuova”, romance autobiográfico; “Monarchia”, um tratado político, e a sua obra-prima “A Divina Comédia”, uma alegoria poética composta por 3 capítulos – Inferno, Purgatório e Paraíso – nos quais Dante conta a viagem que fez por estas paragens, para encontrar o seu amor, a doce Beatriz. Nesta obra ele ao mesmo tempo expõe o seu pensamento sobre teologia e filosofia e analisa criticamente, a sociedade do seu tempo.

 

_O CASAMENTO DE D.LEONOR com Frederico III _ (Diário de Nicolau de Valkenstein)

Nikolau Lankman de Valkenstein foi o embaixador e capelão imperial da Alemanha que teve por função vir a Lisboa assistir à festa do casamento por procuração, da Infanta D. Leonor de Portugal (neta de D. João I da dinastia de Avis) com Frederico III, o futuro imperador da Alemanha. Nikolau deu testemunho em primeira mão desta festa, a seguir à qual conduziu a princesa para Siena, onde casaria presencialmente com Frederico.

O embaixador Nikolau fez neste percurso um diário de viagem onde descreveu as festas que em Lisboa, enquadraram o casamento real; narra não só as representações públicas nas ruas da cidade, Sé, castelo, e palácios régios, como também todos os tipos de ocupações envolvidas nas festividades: danças, cantares, torneios, duelos, cortejos, representações com engenhos, festins com matança de touros e distribuição de carne…durante o dia e a noite, até às missas e orações.

 

­_CATEDRAL DE NOTRE DAME D’AMIENS ­_ (Caso Prático)

A igreja de Amiens  resultou de uma encomenda das corporações de artesãos e comerciantes têxteis e tinturaria desta cidade francesa.

Desenvolve-se num gótico pleno, segundo uma planta de modelo basilical de cruz latina, com transepto pouco saliente. A sua cabeceira possui 7 absidíolos sendo que a capela-mor é já flamejante brilhante pela riqueza dos seus vitrais.

As abobadas de cruzaria de ogivas são sustentadas por pilares finos e altos e arcobotantes.

No interior, o alçado lateral é profusamente decorado tendo sido também pintado.

A fachada ostenta 3 portais, cada um com pórticos profundos, e ombreiras às quais se encostaram estátuas, apoiadas em mísulas e protegidas por baldaquinos. As arquivoltas destes portais estão contidas em gabletes com molduras rendilhadas. Nos tímpanos estão narradas em relevo cenas do Juízo Final, cenas do Vida da Virgem e de S. Firmino.

Encimando os portais há duas pequenas rosáceas, a que se seguem janelas com vitrais; ainda

Um pouco mais acima, uma aparece uma galeria cega com estátuas dos reis de França e uma rosácea grande, ladeada pelas torres sineiras, construídas entre os séculos XIV a XV.

 

_A ARTE GÓTICA_A formação do estilo gótico_

O termo “gótico” surgiu no renascimento italiano para designar pejorativamente a arte medieval que se desenvolveu entre os séculos XII a XIV. Referia-se à arte com origem nos Godos - povo bárbaro -associando obras desta época à barbárie. Contudo, o gótico foi uma revolução artística impressionante, coincidindo com transformações evidentes tanto a nível social, como económico e religioso

 O Gótico surgiu na Île-de-France pelas mãos do abade Suger que geriu a edificação da Abadia de Saint-Denis, a partir de 1122. Foi na catedral de Sainte-Chapelle de Paris, em que a luz atinge uma expressão de carácter metafísico que a nova estética se tornou evidente. Suger traçou o modelo da igreja, baseando o traçado nos escritos místicos de Saint-Denis. Defendia  que  “a casa de Deus devia ser um local em que pudéssemos ser transportados misticamente deste mundo inferior àquele mundo superior”.  Foi este pensamento que serviu de mote à arquitetura gótica.

A partir do séc. XII, o Gótico manifestou-se exaustivamente através da construção de catedrais que face à igreja românica tradicional, ganhavam o espírito urbano e uma substancial autonomia relativamente ao poder do rei. O estilo foi influenciado pela tendência da sociedade para a laicização o que se traduziu por exemplo na representação do divino em que o Cristo-Rei, Pantocrator (em Majestade) é substituído pelo Cristo-Salvador do homem, o que é sustentado por uma nova conceção do homem, do mundo e de Deus.

O contexto do desenvolvimento do estilo gótico  enquadra-se  numa Europa que vê o crescimento do comércio e o ressurgimento das cidades como consequência do reatar de redes comerciais entre o Oriente e a Europa.

Na sociedade desta época deu-se o declínio do sistema feudal e a  vida comercial e urbana começou a ganhar protagonismo, o que deu origem ao surgimento de uma nova classe social: a burguesia .

 Apesar do êxodo rural para as cidades, a Europa continuou essencialmente agrária e aristocrática. Nesta sociedade os homens ricos tanto burgueses como aristocratas foram os grandes impulsionadores da arte  podendo subsidiar os artistas. Assim a arte deixou de ser promovida nos mosteiros que perderam o seu papel no desenvolvimento económico e cultural.

As cidades e universidades tomaram então o protagonismo indiciam o aspeto fundamental da arte gótica: o seu carácter urbano.

 

_A racionalização da fé e o seu impacto na arte_

O gótico foi formado pela intervenção de duas ordens religiosas: a de Cister, que negava  as curvas, as formas escultóricas, a cor, em prol da pureza da forma (linha recta), e a Ordem de Cluny, que via a igreja com forma de um edifício sublime, magnânimo e resplandecente.

Entrevia-se entretanto uma nova conceção do homem, do mundo e de Deus e a convergência para a cidade levou a sociedade a conhecer outras formas de viver que não a ditada pela igreja; o ensino deixa de ser exclusivo dos mosteiros, ganhando um carácter laico. As universidades começam a ganhar a influência; introduziram novas temáticas de estudo desligadas da religião relacionadas com o pensamento aristotélico.

Tentando acompanhar o ritmo da época, a Igreja  introduziu a escolástica como dinamizador e estabilizador da religião, consistia na especulação teológica e filosófica guiada pelo pensamento aristotélico

que conduzia à discussão e à sistematização das verdades reveladas.

O seu princípio era, portanto, o de conciliar a fé e a razão. Este esforço teve o seu expoente máximo em S. Tomás de Aquino, na obra Summa Theologica. Este autor tentou criar uma doutrina lógica e coerente que suportasse o pensamento religioso. Foi este novo guia de estudo introduzido pela igreja que teve enorme impacto formal na arte gótica.

A catedral, resultado de uma organização hierárquica de partes relacionadas entre si e num equilíbrio de forças, corresponde à materialização da obra de S. Tomás.

É assim evidenciada uma aproximação entre o racionalismo clássico e a fé cristã.

 

_A ARQUITECTURA GÓTICA - a catedral_

-A nível formal, a catedral gótica diferencia-se relativamente à igreja românica no elevar das naves e no aligeiramento das paredes de pedra o que permite a inclusão de enormes vitrais policromáticos característicos destes edifícios. Isso é conseguido através do uso de estruturas e técnicas novas: o uso do arcobotante e do contraforte, o arco quebrado, as abóbadas de cruzaria...

A evolução dos sistemas e técnicas construtivas também foram consequência da rivalidade existente entre as cidades, que querendo “elevar aos céus” a Casa de Deus impulsionaram a imaginação dos arquitetos góticos.

Ao nível da planta a catedral tem forma longitudinal, com grande cabeceira de charola e capelas radiais;  no resto mais ou menos identifica-se com igreja românica.

Ao nível da fachada apresenta um grande portal alinhado com uma rosácea que o sobrepõe e este conjunto é ladeado por duas altas torres.

Esta nova arquitetura derivada da românica (na planta basilical e na cabeceira absidal) acrescentou na sua construção inovações técnicas, estéticas e tipológicas:

-- A 1ª inovação técnica e  seu elemento constante foi o arco quebrado ou apontado ou ogival que  exercendo menos pressão lateral, permitia novas formas de cobertura patentes nas abóbadas de cruzaria.

-- 2ª-novos sistemas de sustentação que dispensavam as paredes, assentando unicamente nos pilares internos e nos novos contrafortes exteriores – os botaréus com seus arcobotantes.

-Estas inovações técnicas foram feitas para corresponder aos seguintes objetivos estéticos:

--acentuação da verticalidade na construção,

--possibilitou um espaço interior mais amplo;

--permitiu rasgar nas paredes, grandes janelas cobertas por vitrais coloridos, originando interiores mais iluminados e alegres e a criação de um ambiente transcendente e místico (porque Deus é Luz).

Estes meios técnicos permitiram também a alteração das formas e das dimensões dos edifícios na arquitetura religiosa e na civil consubstanciada nos palácios urbanos, casas comunais e castelos senhoriais.

Podemos caracterizar a catedral gótica basicamente nos seguintes aspetos:

1-Na catedral a cabeceira tornou-se substancialmente maior podendo ocupar 1/3 da área total;

 2- o transepto passou a ser pouco saliente, ou até não saliente;

3- o alçado lateral interno, possuía só trifório e clerestório, o que conjuntamente, com a maior altura das naves centrais permitiu o desenvolvimento vertical destas aberturas que também ocupam toda a largura das paredes, entre pilares;

3- abrem-se rosáceas nas fachadas, cobertas por coloridos vitrais que iluminam a igreja;

4- reduz-se a decoração interna.

No exterior das catedrais denotam-se as seguintes alterações:

1- As entradas são triplas e correspondem a 3 naves; estão enquadradas em pórticos salientes, que as torna mais profundas. As arquivoltas ogivais e os gabletes acentuam a verticalidade dos portais;

 2- As torres sineiras e a lanterna terminadas em telhados cónicos ou em agulhas e pináculos rendilhados aumentam a sensação de verticalidade;

3- A decoração exterior, esculpida e pintada tornou-se exuberante, ocupando todos os lugares, das portas aos pináculos.

 

_Diversidade e evolução do gótico_

Tendo começado em França, o gótico alastrou por toda a Europa ao longo do séc. XIV. O modelo de catedral foi seguido nos restantes países da Europa que fundaram as suas próprias escolas:

--Gótico Inglês- em Inglaterra devido à influência cisterciense, o gótico teve um desenvolvimento diferente. Paralelamente ao gótico radiante, surgiu nesse país, o decorated style, com características semelhantes ao primeiro, e o gótico perpendicular caracterizado pela verticalidade excessiva e decoração alongada e linear, com coberturas em abóbadas de leque. Ex: Capela do King’s College, Cambridge.

--Gótico Alemão- evidencia as igrejas-salão que geralmente têm 3 naves à mesma altura criando um espaço amplo e único; algumas fachadas apresentam torre única.

--Gótico Espanhol- tardio; com decoração mais exagerada, culminou no séc. XV com o “plateresco” (decoração esculpida, de cinzelado minucioso com motivos vegetalistas)

--Gótico Italiano- mantém gosto o românico da horizontalidade; as coberturas planas em madeira; paredes pintadas a fresco, que conjuntamente com mármores dão cor à construção. Ex: Basílica de S. Francisco, Assis;

 

_Evolução do gótico_

 O Gótico evoluiu em quatro fases:

O gótico primitivo foi a derivação desenvolvida na Île-de-France durante a segunda metade do séc. XII. Foi neste período que se introduziu o sistema estrutural gótico e alguns elementos como a tribuna, o trifório e o coroamento por janelas altas.

O gótico clássico desenvolveu-se durante o fim do século XII e a primeira metade do século XIII. Foi neste período que se deu o seu alastramento a outras zonas de França. Assistiu-se ao mesmo tempo ao amadurecimento do sistema estrutural gótico, à redução do número de andares para três, à normalização do uso de abóbadas de cruzaria e arcobotantes.

O gótico radiante já constitui a fase de alastramento à Europa. Desenvolvido entre meados do séc. XIII até meados do séc. XIV caracterizou-se pelo aparecimento de variantes locais e pelo aumento de decoração.

O gótico flamejante aconteceu entre meados do séc. XIV até aos inícios do séc. XVI. Divulgado principalmente na França e na Alemanha, caracteriza-se por uma intensa decoração de motivos ondulantes, curvas e contracurvas. A decoração sobrepõe-se à estrutura revestindo todo o edifício.

 

_O vitral gótico_

 Os vitrais substituíram a pintura que ocupava as paredes interiores das igrejas românicas.

A luz do dia atravessando o vitral dá ideia de uma imagem celestial e mística, o que correspondia às novas necessidades religiosas, doutrinais e decorativas.

O vitral atingiu o seu apogeu no séc. XIII e XIV; descreve cenas religiosas e ofícios/profissões, incluindo imagens de reis, clero, aristocracia e alta burguesia - geralmente os seus encomendadores/ doadores.

As regras de representação e de expressividade seguiam a mesma linguagem técnico-artística da escultura.

--a importância do vitral:

-tem função pedagógica da imagem, ilustrando a mensagem evangélica numa arquitetura subordinada à ideia de que Deus é luz;

- eles resultavam da abertura de grandes espaços nas paredes permitindo a entrada da luz;

-exploração da relação entre a luz e a cor, como forma de exaltação mística;

-técnica aplicada nos janelões e nas grandes rosáceas das catedrais góticas;

-desenho linear, composições complexas, enquadradas em  caixilhos de ferro.

-união das peças de vidro através de perfis de chumbo;

-temática cristã: cenas do Antigo e Novo Testamento, vida da Virgem ou vida dos santos;

-temas relacionados com a vida quotidiana.

 

_O GÓTICO EM PORTUGAL- o MANUELINO—

-A 1ª construção gótica em Portugal foi a igreja da Abadia de Alcobaça, erguida entre os séculos XII e XIII, por monges cistercienses. É uma cópia da Abadia e Claraval que revela um gótico austero.

-- a Igreja de Alcobaça apresenta planta de cruz latina, com 3 naves quase à mesma altura,  transepto saliente, abside com deambulatório e cobertura com abóbada de arcos ogivais.

--A decoração vegetalista limita-se aos capitéis. O exterior da capela-mor que é  coroada de ameias apresenta os primeiros arcobotantes construídos em Portugal.

As construções nacionais do gótico só começaram em finais do século XIII ligadas a ordens monásticas mendicantes e militares - Portugal vivia tempos de consolidação do território.

As primeiras igrejas portuguesas seguem os princípios técnicos e estéticos do Gótico europeu, mas apresentam as seguintes particularidades:

1- são mais pequenas e com pouca verticalidade;

2- são simples nas estruturas em planta e em volume;

3- têm pequenas e poucas aberturas;

4- mantêm os contrafortes românicos, coberturas de madeira, e de abóbadas de pedra.;

5- mostram uma decoração pobre, vegetalista, limitada aos capitéis no interior e portais.

 O  apogeu do gótico no final século XV  surgiu com a construção do Mosteiro de Stª Mª da Vitória na Batalha  no reinado de D. João I.

--esta construção foi projetada inicial por Afonso Domingues e construída ao longo de mais de 100 anos.

--é uma igreja de grandes dimensões; apresentando 3 naves abobadadas por arcos ogivais apoiados em pilares;

-apresenta janelas grandes e arcobotantes na cabeceira e no corpo da igreja;

--a decoração é figurativa e vegetalista de finos rendilhados e de linhas perpendiculares, lembrando o Gótico Inglês.

--Serviu de modelo para outras igrejas em Portugal.

 

_o MANUELINO_       

O manuelino é um estilo que corresponde à fase do Gótico Tardio  no tempo dos reinados de D. João II, D. Manuel II (de onde lhe veio o nome) e D. João III.

Neste estilo à construção de estrutura gótica foi acrescentada nos edifícios uma poderosa carga ornamental de múltiplas influências: Gótico Flamejante; Plateresco Espanhol; arte mudéjar peninsular. Assim as igrejas apresentam:

1-plantas de 3 naves à mesma altura (Igrejas-salão) e sem transepto; ou plantas de nave única com cabeceira quadrangular;

2-os arcos e as abóbadas são variados;

3- apresenta uma composição de portais e fachadas seguindo o modelo gótico;

4-cobertura das igrejas por abóbadas com complexas redes de nervuras;

5-usa arcos polilobados, de ferradura ou redondos que substituem os arcos quebrados;

6-apresenta uma ornamentação exuberante nos relevos e na estatuária;

Basicamente a originalidade e a identidade do Manuelino estão:

-- na decoração arquitetónica profusa, exuberante, concentrada em portas, janelas e abóbadas;

-- nos finos cinzelados e rendilhados na técnica do relevo.

Os temas desta decoração são:

1- motivos naturalistas inspirados na flora e na fauna, conotados com as viagens marítimas da expansão: palmeiras, corais, conchas, algas, velas, cordas, âncoras e animais exóticos;

2- símbolos da Pátria :Cruz de Cristo; bandeira das quinas; esfera armilar;

3- heráldica régia :coroa e brasão reais.

Os melhores exemplos são:

-Mosteiro dos Jerónimos- esta igreja apresenta 3 naves, sendo a central um pouco mais alta, transepto pouco saliente e terminando em capelas; a cabeceira é reta; o portal é monumental virado a sul sendo a autoria de Diogo de Boitaca.

-Portal das Capelas Imperfeitas no Mosteiro da Batalha, de Mateus Fernandes.

-Igreja do Convento de Cristo em Tomar, é manuelino o acrescento à Charola românica).

-Janela da Sala Capitular do Convento de Cristo  de Diogo Arruda.

Na arquitetura civil  distinguem-se: o Palácio Real de Sintra, os Paços de D. Manuel em Évora…

Na arquitetura militar  salienta-se a célebre Torre de Belém (século XVI)  de Francisco Arruda construída nas margens do Tejo.

 

 

_A ESCULTURA GÓTICA_

 A escultura gótica manteve ainda características do Românico na relação com a arquitetura. Mas apresenta maior liberdade na representação, pois soltou-a da arquitetura- ela ganhou nova vitalidade nos suportes usados e na própria atitude dos encomendadores representados.

A nível formal, houve a reintrodução da monumentalidade, expressividade e aproximação ao real.

-Com a libertação da escultura do estereótipo imóvel e irrealista românico -aproximação gradual à representação naturalista;

-a libertação da arquitetura dá-lhe uma plástica  dinâmica.

-novas “tipologias”de estátua: as estátuas colunas - suportes arquitetónicos esculpidos, e as estátuas jacentes - representam realisticamente o morto sobre o sobre o sarcófago

 

­_A ESCULTURA GÓTICA – evolução_

A escultura gótica é pela primeira vez identificada no pórtico ocidental da Catedral de Chartres, durante o século XII nas estátuas-colunas que aí foram colocadas. Afirmou-se plenamente no século XIII, como testemunham as estátuas de vulto redondo do portal da fachada oeste da Catedral de Reims.

A grande diferença em relação ao Românico tanto na escultura decorativa e como na estatuária, é que agora ela  não está presa à arquitetura mas pousada sobre mísulas, nas fachadas das catedrais.

Também os relevos são trabalhados com mais profundidade, maior modelação formal e escalonamento de planos. Os relevos aparecem essencialmente nos tímpanos e nas ombreiras dos portais; os temas são os mesmos da Arte Românica: Cristo em Majestade; os Evangelistas e o Tetramorfo, os Apóstolos, o Juízo Final. Aparecem também pela primeira vez os temas marianos relacionados com a Vida da Virgem – nascimento, maternidade e morte-, e o nascimento de Cristo. Estes novos temas, escolhidos pela Igreja contribuíram para a suavização dos costumes e para a valorização da mulher-mãe . São disso exemplo a “Senhora do Ó” e da “Senhora do Leite”,

A escultura decorativa dos capitéis, arquivoltas, frisos e mísulas representam temas vegetalistas trabalhados com verismo e naturalismo.

Uma outra novidade é o maior domínio técnico-artístico numa correta modelação anatómica e trabalho de pormenor, o que aumenta o realismo e o naturalismo nas formas, gestos e posturas.

Entre os séculos XII a XIV as imagens apresentam uma posição em “S” estilizado, sendo realçado pelo balanço da anca.

Uma outra alteração que foi introduzida foi a representação da expressividade realçada nos rostos que apresentam pormenores físicos realistas, no sentido da individualização, e na descrição dos sentimentos e emoções representados por sorrisos ou inclinação de cabeça. Estas são as tendências naturalistas que mostram atitudes de alegria, serenidade, sofrimento, e sugerem assim figuras vivas.

Esta capacidade expressiva culminou no século XV na Alemanha, devido às mudanças de mentalidade e religiosidade provocados pela crise vivida na Peste Negra do século XIV.

Este mesmo facto forçou a que os temas escatológicos (=sobre o destino do homem após a morte) e religiosos - a Descida da Cruz, as Pietás ou a morte, representada em corpos decompostos. Os temas de obras escultóricas e pictóricas apresentam um aspeto macabro e mórbido como é revelado nas “danças macabras”.

No contexto social e cultural, a realeza e a aristocracia também procuraram preservar as imagens e imortalizar a sua ação em esculturas tumulares; estas representam relevos historiados na caixa mortuária ou sarcófago, e na tampa onde é colocada a estátua jacente, sendo o rosto cada vez mais individualizado.

Também nesta modalidade, a Peste Negra deixou ficar a sua marca ao representar a morte de um modo mais sofrido  como o morto seminu, parcialmente coberto por um lençol.

 

_Escultura gótica – Temas Marianos_

 Basicamente os temas Marianos apresentam as seguintes características:

-progressiva humanização das figuras sagradas;

-naturalismo crescente na representação do corpo humano, dos seus gestos e do vestuário;

-ligeira inclinação do corpo, na representação das figuras de vulto redondo, acentuada pelo tratamento curvilíneo dos panejamentos (requebro);

-progressiva autonomização da escultura em relação à arquitetura;

-inovação temática, atribuindo‑se crescente destaque aos temas marianos (por exemplo, a Anunciação, a Visitação e a Natividade).

 

_Escultura tumular gótica_

A escultura tumular é apresentada de um modo geral comos seguintes aspetos:

- a construção de túmulos sob a forma de arca funerária;

-apresentação de estátuas jacentes nos túmulos de reis e suas famílias, e também nos túmulos da alta nobreza e do alto clero;

- a representação em alto-relevo do defunto deitado em oração sobre o túmulo;

-apresentam uma tendência para a individualização do retrato da estátua jacente, como reflexo do crescente individualismo e do desejo de perpetuação da memória;

- exibe uma decoração nos túmulos com baixos-relevos alusivos à vida do defunto

-os são relevos enquadrados por formas arquitetónicas que lhe servem de cenário;

-exibe naturalismo na expressão facial (olhos abertos, leve sorriso, serenidade).

 

_Escultura gótica – inovação formal e estética_

Assim de um modo geral a escultura gótica apresenta:

-uma evolução significativa ao nível da composição, da expressividade e da monumentalidade:

-a expressão formal que nas atitudes e gestos, procura transmitir a perfeição espiritual;

-um naturalismo e realismo de expressões na representação minuciosa do rosto, mãos e corpo;

-exibe uma humanização das figuras através da serenidade e da graciosidade das suas expressões;

-apresenta os pregueados naturais das roupas que deixam transparecer a anatomia dos corpos, numa clara recuperação do modelo clássico;

-uma autonomização evidente em relação à arquitetura.

 

 

_A PINTURA GÓTICA_

A pintura gótica segue as mesmas passadas que a escultura aproximando-se mais da realidade, mas mantendo ainda características formais do românico.

A principal mudança em relação ao Românica foi a alteração na relação da pintura com a arquitetura pois com o aparecimento de mais aberturas em detrimento das paredes maciças levou ao desenvolvimento da técnica do vitral para substitui a técnica da pintura mural.

O vitral foi uma técnica amplamente divulgada por Suger, pois constituía um poderoso veículo narrativo da fé cristã devido ao seu impacto visual.

A pintura gótica propriamente dita desenvolveu-se em retábulos que voltaram a ganhar dimensão, e também na arte da iluminura que servia para a ilustração de outros manuscritos sagrados e laicos.

Outra grande novidade foi na temática religiosa em que o tema de Cristo deixa de ser o Pantocrator, apresentado como Juiz, passando agora a ser o Salvador dos homens, uma figura  sofredora de aceitação da morte. Há uma alteração profunda no entendimento da doutrina  reconhecendo-se a humanização do divino.

 

_O GÓTICO CORTESÃO; o gótico internacional_

No século XIII com o bem-estar económico, político e cultural, surgiu novo estilo de vida nas cortes régias e senhoriais que se habituaram a um estilo de vida onde era evidente o luxo servido por artistas vindos de diferentes partes da Europa. Por volta de 1400 a mobilidade de artistas e de obras que transitavam nas cortes da Europa fez surgir na pintura e na iluminura, o designado “estilo internacional” ou “Gótico Internacional” que basicamente apresenta as seguintes características:

--resulta da fusão dos estilos: bizantino, italiano e flamengo,

--apresenta sumptuosidade, imprimida pelo colorido contrastante e pelos dourados;

--desenvolve uma simbologia religiosa.

Essa harmonização de estilos deriva:

1- do gosto flamengo pelo realismo e o gosto pelo quotidiano que se combinam com o naturalismo italiano na descrição dos gestos e das atitudes;

2- do tratamento do espaço ocupado pelos cenários e paisagens à maneira italiana ligando-se aos fundos lisos e dourados à maneira bizantina;

3- das temáticas, essencialmente religiosas que tratadas com pormenores de atualidade nas vestes e nos cenários da pintura italiana, pactuam com a elegância cortesã e naturalista da aristocracia e burguesia do Norte;

4-do colorido rico e intenso resultante da diversidade de pigmentos existentes no mercado.

Os artistas: Simone Martini; Gentile da Fabriano; Stefan Lochner são artistas destacados neste estilo.

Há ainda a salientar que nesta época a pintura consta também nas iluminuras e  nos retábulos (=parte posterior do altar) realizados em painéis de madeira pintados.

 

- a Iluminura_

Maioritariamente de página inteira, a iluminura apresenta as seguintes características:

1 -desenvolve temas religiosos;

2 -exibe composições complexas onde a representação do espaço é ocupado por elementos da Natureza e figuras incluídas em cenários arquitetónicos e naturais com sugestão de profundidade;

3 –exibe cores ricas onde predominam os azuis, os vermelhos e os dourados.

A iluminura deixou de ser  exclusivamente obra dos mosteiros e passou para as oficinas laicas.Destacam-se nesta técnica, os irmãos Limburgo autores da conhecida obra “Les Très Riches Heures du Duc de Berry”.

No gótico final o florescimento da vida urbana na Itália causou rivalidade entre as cidades. Na Igreja houve uma grande crise com a transferência da sede pontifícia para Avinhão. Neste mesmo período, na Europa em geral houve fome generalizada e doenças devastadoras como foi a Peste Negra que ceifou quase metade da população da Europa.

Mas foi também neste período que essencialmente na Itália, surgiram cidades de grande prosperidade económica originando um desenvolvimento cultural e artístico notável.

O Gótico foi aí determinado por uma mudança plástica abrupta que assentou na contaminação da arte cristã pelo humanismo greco-romano, antevendo já o Renascimento.

Giotto di Bondone foi o artista que no século XIV refletia estas alterações. Ele rompeu com a tradição medieval através da autenticidade com que quis reproduzir a realidade; pintava com realismo introduzido na representação perspética de formas e espaços arquitetónicos.

 

_A PINTURA e escultura na ITÁLIA E NA FLANDRES_

A Itália e a Flandres evoluíram diferentemente nas produções artísticas; enquanto na Itália desde finais do século XIII, os pintores se afastavam da tradição bizantina e românica na Flandres, a pintura gótica só atingiu o seu ponto mais alto em meados do século XV.

Foram as cidades-estado italianas como Florença e Veneza que assistiram a um precoce desenvolvimento económico e à ascensão de uma burguesia rica que começou a investir nas artes possibilitando um forte crescimento nesta área.

Na escultura foi a família de Nicolau e Giovanni Pisano que se destacou entre os séculos XIII e XIV.

A figuração que desenvolveram aproximava-se da dos relevos dos sarcófagos romanos conhecidos da Antiguidade e cuja correção anatómica, tratamento volume das formas, estrutura compositiva e expressividade dramática de rostos e corpos lhes serviu de inspiração.

Na região da Toscana desenvolveu-se nesse período uma escola de pintura a fresco que apesar das marcas da arte bizantina, preparou o advento do Renascimento. Essa escola integrou artistas como Cimabue (séculoXIII) e Giotto (século XIII-XIV).

Giotto destacou-se pela introdução da ilusão da profundidade através do enquadramento de cenários naturais e arquitetónicos – gerou assim o que se designa por perspetiva empírica. Também aperfeiçoou o volume dos corpos pelo tratamento do claro-escuro. Ele tentava imitar a escultura na medida em que as figuras parecem mais trabalhadas na anatomia e as suas atitudes sugeriam o instante do desenvolvimento da cena. Giotto conseguiu assim representar com naturalismo e individualismo os rostos, posturas e gestos humanos, o que representava uma inovação na época. Foi ele o autor dos frescos da “Capela Scrovegni” em Pádua.

Nos Países Baixos, na região da Flandres, o desenvolvimento económico e social do século XV refletiu-se também nas artes, especialmente na pintura que apresenta:

--um gosto pela representação realista e minuciosa do quotidiano, com cenários de interiores;

--o gosto pela pintura do retrato que é próprio do individualismo burguês.

--o realismo na pintura que foi conseguido pela pintura a óleo iniciada possivelmente pelos irmãos Van Eyck.

Das obras destes irmãos destacam-se: “O Cordeiro Místico” e de “O Casamento dos Arnolfini”.

A esta escola pertenceram também Robert Campin, conhecido por Mestre de Flémale, Rogier Van der Weyden e Hugo Van der Goes. Todos estes artistas conseguiram pelo empirismo, o que os pintores italianos conseguiram pelo racionalismo técnico na representação da realidade.

 

_A pintura flamenga; características_

A prosperidade da burguesia flamenga nascida do sucesso económico foi um grande impulsionador da arte pois a posse de uma obra de arte era símbolo de poder e prestígio.

A  pintura desta região distingue-se pelo realismo na representação através de um  tratamento minucioso dos volumes e  da profundidade espacial.

Enquanto na Itália se pesquisava as técnicas de representação com bases científicas, a Flandres atingiu essa representação empiricamente, através de uma interiorização puramente captativa da imagem. Os artistas flamengos responderam a estes requisitos, criando uma linguagem plástica capaz de representar a realidade com grande fidelidade.

O artista paradigmático da época foi Jan van Eyck que representava os seus temas com grande realismo. Ele representava os volumes das figuras e das formas através do jogo de luz/ sombra; também detalhava imensamente a obra com pormenores e minúcia extrema e usava um jogo de gradações bastante eficaz, através de uma técnica que surgiu na Europa: a técnica do óleo.

 

 _”Retábulo de S. Vicente  de Fora” - pintura portuguesa do século XV_

Os painéis de S. Vicente de Fora foram atribuídos ao pintor Nuno Gonçalves.

A composição atual que foi descoberta por Almada Negreiros é composta de 6 painéis:

1-contendo 60 personagens que ocupam toda a superfície da obra; as figuras possuem rostos reais e enérgicos e concentram-se em torno da figura central –S. Vicente–repetido nos 2 painéis centrais.

2-a maior parte das personagens olha para o espetador, captando a nossa atenção;

3-a tinta não é ainda a óleo – usa como ligante uma emulsão de ovo;

4-os tons são ricos  nos cambiantes brancos e nos dourados dos tecidos;

5-o desenho é de grande rigor e mestria.

No seu conjunto a obra é o retrato da sociedade portuguesa da época

 

_ARTE DOS REINOS MUÇULMANOS – Península Ibérica_

A partir do século XI a sociedade medieval assistiu a um fortalecimento da Europa Cristã a par do enfraquecimento do mundo islâmico.

No ocidente a queda do Califado de Córdova deu origem à formação dos Reinos Taifas , unidades políticas fixadas em pequenos cantões que viveram em constante guerra.

Foi neste contexto que os Almorávidas e os Almóadas acabaram por estender o seu domínio à Península Ibérica, em épocas diferentes mantendo-se até ao governo da dinastia “ nasride” expulsos pelos reis católicos em 1492.

_Arte dos Reinos de Taifas_

Na continuação do Califado de Córdova, nesta época a arquitetura usou como materiais - o tijolo, estuque e argamassa, uma decoração abundante de motivos florais -palácios, alcáçovas ( fortalezas) e banhos públicos. Daí resultou uma arte luxuosa e rica, mas pouco duradoura.

_A Arte dos Almorávidas_

Caracteriza-se num primeiro período, por ser austera e seguir os princípios religiosos e numa época posterior assistiu-se ao gosto pela ornamentação e impondo-se numa tradição hispano-muçulmana.

_A Arte dos Almóadas_

Assistiu-se nesta dinastia a uma procura do purismo nas formas, da simplicidade na decoração e maior monumentalidade.

A mesquita apresentava particularidades na planta geométrica, no tamanho das naves, central e laterais, e nos arcos que separam as naves.

_A Arte “Nasride” em Granada_

Apresenta 2 tipos de arquitetura:

--uma funcional e perecível, devido aos materiais empregues aplicados em muralhas, banhos e alcáçovas;

--outra mais rica, utilizada nos palácios onde eram aplicados revestimentos de mármores, colunas com capitéis trabalhados, arcos peraltados, tetos de madeira artesoados, ou abobadados; painéis de azulejos no chão e nas paredes, e estuques decorados, com motivos vegetalistas, geométricos e epigráficos (arabescos). O melhor exemplo desta arquitetura é o Palácio de Alhambra em Granada (século XIV)

 

_ARTE MUDÉJAR_

Foi uma arte praticada por artificies árabes em território cristão, mas feita segundo técnicas, formas e estética islâmica. È uma arte peninsular dos  séculos XII a XV, que  mistura tradições judaicas, cristãs e islâmicas; usou materiais baratos, mas de grande efeito ornamental.

Apesar das várias influências, é tida como um estilo próprio com elementos estruturais típicos, chegando a desenvolver um novo tipo de igreja que apresenta:

1- planta basilical com 3 naves separadas por arcadas em ferradura, apoiadas em colunas, em pilares simples ou em pilares com colunas adossadas;

2- torre sineira quadrada semelhante aos minaretes;

3- aberturas em “ajimez”.

São conhecidos deste estilo, na arquitetura civil – o Palácio de Pedro I em Sevilha  e na arquitetura religiosa: a Igreja de S. Salvador em Teruel, Espanha, séc. XIII e XIV.

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