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CulturArterecursos 

  • marianeves15031958

Atualizado: 23 de nov. de 2021

CONTEXTO HISTÓRICO - o Maneirismo e o Barroco


O Maneirismo

A EUROPA da 1ª metade do século XVI

Esta época corresponde culturalmente ao Maneirismo que se iniciou por volta de 1520 e foi caracterizado por algumas mudanças artísticas e grandes alterações no pensamento.

No segundo quartel do século XVI a Europa estava desagregada e a Igreja dividida na sequência da instabilidade política e de guerras entre Estados. Também os excessos e vícios desenvolvidos por representantes da igreja levaram a uma situação de quebra ideológica doutrinária que deu origem à Reforma Protestante. Ao positivismo humanista do Renascimento sucedeu um tempo de dúvida, de angústia e inquietação. A crise política na Itália acabou por atingir a capital da religião cristã (Roma) e a Igreja foi assim afetada.

Nos países nórdicos expandiu-se esse movimento da Reforma que criticava o protagonismo político na igreja, em detrimento do acompanhamento espiritual dos crentes. O impulsionador deste movimento foi Martinho Lutero cujas posições sobre a doutrina foram aceites pelo mundo germânico e escandinavo. Defendendo uma igreja liberta da tutela de Roma, esta posição foi aceite sobretudo pelos religiosos mais puritanos do norte da Europa.

A Igreja Romana, descontente com este protesto, iniciou o movimento da Contra-Reforma com intuito da reunificação dos crentes. O programa deste movimento foi apresentado no Concílio de Trento onde foi definido um conjunto de prescrições dogmáticas e reformas disciplinares para restabelecer a unidade católica.

Ao mesmo tempo surgia uma nova ordem religiosa - a Companhia de Jesus – também emanada do Concílio de Trento, cujo objetivo era defender e expandir a fé cristã pelo mundo. Esta nova ordem introduziu o novo tipo de templo – uma só nave majestosa - onde o sermão pregado de modo a ser ouvido por todos, se tornou uma das partes principais do culto religioso - esta condição tornava-se totalmente adequada à comunicação da nova visão da religião pela Igreja Católica Romana..

A coexistência dos dois movimentos (Reforma e Contrarreforma) causou grande instabilidade a nível político, religioso e social na Europa. Aumentaram neste período diversos tipos de confrontos e perseguições consubstanciados nos autos-de-fé (punições religiosas defendidas pela Inquisição), nas perseguições, fome e destruição de livros...

No que diz respeito à relação entre a arte e a Igreja, estes movimentos religiosos foram opostos: o reformista defendia a iconoclastia (contrário à representação de imagens sagradas), enquanto o contrarreformista reforçou a defesa dessas imagens, afirmando que elas eram o veículo da fé.

A nível formal, esta instabilidade trouxe novidades para a criação artística: deu-se a dissolução dos modelos perfeitos e da racionalidade universal do renascimento; agora salientava-se o movimento, a torção e a deformação que vieram substituir as regras do Renascimento, numa tentativa de apelar emocionalmente aos sentidos de um publico que era sobretudo constituído por fiéis da fé católica Romana.

Assim, nas artes desenvolveu-se o gosto por uma gama temática diferente que incluía o culto do insólito, e fez desenvolver o imaginário e o fantástico nos criadores. A nova realidade artística ofereceu ainda o aprofundamento das possibilidades técnicas e plásticas.

O maneirismo destacou-se também por grande desenvolvimento na tratadística ancorada em Vitrúvio, apresentando em livros (textos e gravuras) , os aspetos formais da arquitetura da antiguidade clássica. A divulgação através deste meio possibilitou a rápida difusão dos modelos arquitetónicos maneiristas pela Europa. Um dos mais importantes tratados foi o de Serlio, que incluía imensas figuras para complementar o texto.

No entanto, Vasari, outro tratadista da época, definia o maneirismo de uma forma pejorativa, designando-a como uma “arte afetada”, cheia de artificialidades, afastada do equilíbrio e racionalismo humanista. Apesar deste tipo de opiniões, o maneirismo acabou por ser uma busca por maior expressividade formal e plástica, com a introdução do estilo pessoal, individual, criando novas hipóteses artísticas.


O Barroco

CONTEXTO HISTÓRICO

O século XVII na Europa - O Antigo Regime

-O Antigo Regime refere-se originalmente ao sistema social e político aristocrático que foi estabelecido e divulgado a partir da França, entre 1618 e 1714. Trata-se principalmente de um regime centralizado e absolutista, em que o poder era concentrado nas mãos do rei. Este regime envolveu o Barroco e certas orientações políticas, económicas, sociais (como o Absolutismo, o Mercantilismo) e ainda orientações religiosas associadas à Igreja da Contrarreforma.

Foi um período caracterizado pela instabilidade generalizada, causada essencialmente pela pobreza, guerras, e confrontos religiosos.

O Antigo Regime suscitou também uma grande desconfiança da população em todo o sistema que a governava tanto espiritualmente como politicamente.

No início deste período desenvolveu-se uma série de conflitos na Europa - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). que teve origem numa guerra entre duas potências Europeias: o Império Austro-Húngaro governado pela Casa dos Habsburgos, e o Sacro Império romano Germânico. Iniciou-se em 1618, quando os Habsburgos quiseram unificar o Império Austro-Húngaro e o Sacro Império. Essa unificação levantava bastantes problemas, entre outros: as diferenças religiosas entre os protestantes do Sacro Império (Liga Evangélica), e os católicos Habsburgo (Liga Sagrada). Os conflitos entre as duas ligas causaram enormes prejuízos económicos e imensas mortes na Europa.

Quando o final da Guerra dos Trinta anos foi acordado, no Tratado de Vestfália em 1648, a França foi o Estado europeu que mais benificiou em virtude da sua tomada de posições estratégicas que lhe foram sempre favoráveis.

em resultado destes conflitos , a população perdeu a confiança religiosa que era um fator de coesão nos estados europeus. Também a produção artística, científica e cultural começou a ser limitada por instituições como o Índex, a Inquisição e o Tribunal do Santo Ofício, órgãos submetidos ao Papa de Roma .

Por toda a Europa se instituía o Absolutismo . Países como a Espanha, a Rússia, a França e Portugal, governavam segundo uma política de controlo interno e agressão externa, impondo um sistema fortemente hierarquizado e centralizado.

Instalou-se uma economia baseada em práticas capitalistas dirigidas quer pelo estado quer pelos mercadores - o Mercantilismo - que centralizava a riqueza, apoiava o comércio externo, promovia as manufaturas e limitava ao mesmo tempo as importações.

O Antigo Regime caracterizou-se também por forte hierarquização social, uma vez que interessava ao poder uma sociedade submissa - foi assim instalada a sociedade de ordens* cujas fortes assimetrias sociais levaram a várias revoltas por parte da burguesia e do campesinato, devido à falta de condições de vida. Sempre essas revoltas foram dominadas pelos exércitos do estado absolutista.


* Sociedade de Ordens é um termo utilizado para definir o modelo de sociedade presente na Europa durante a Idade Média até o início de suas transformações em meados do século XVIII, esse modelo é marcado pela estratificação social, essencialmente dividido em três estratos principais: Clero, Nobreza e Povo.


_O modelo da corte Europeia: Versalhes

Até ao séc. XVII a corte, era entendida como casa ou palácio dos poderosos; normalmente era uma casa de grandes dimensões, nas imediações de uma cidade, habitada pela família do dignatário, pela criadagem e outros dependentes.

O conceito de corte aplicou-se perfeitamente ao contexto do séc. XVII; seguindo as tendências Absolutistas, transformou-se na corte-régia (corte-estado), através da qual o soberano regulamentou as dependências sociais da aristocracia através de um código de etiquetas para “orientá-la” à obediência e até ao culto do rei, através de cerimónias e rituais específicos.

Esta hierarquização e regulamentação estritas permitiram um completo controle da sociedade, desde o mais alto nobre, ao povo.

A corte funcionou igualmente como símbolo do poder real através do qual se exibia o luxo e se cultivava ao mesmo tempo, o parasitismo de uma nobreza sem profissão cuja vida era comparecer a festas, bailes e outros espetáculos.

Contudo, a ostentação do poder real não se ficou pela ornamentação de toda uma vida que preenchia o vazio com com festas... Estendeu-se também à construção de palácios, dos quais Versalhes é paradigmático, totalmente desproporcionados, tanto economicamente como humanamente relativamente ao que se passava no quotidiano do estrato mais desfavorecido – o povo.

O palácio de Versalhes

Este palácio foi construído por Luís XIV para demonstrar aos outros Estados europeus, o seu domínio e poder infinitos sobre todos os súbditos. Depressa se tornou um modelo para outros palácios europeus. A sua grandiosidade estava patente em todos os detalhes, inclusivamente na quantidade de pessoas que estavam presentes para servir o rei — 700 em 1664, número que ascendeu às 10000 pessoas em 1744.

Apesar da vigência do estilo barroco sobretudo nos estados Católicos, o palácio de Versalhes não o adotou na sua totalidade. Os elementos que se evidenciam como pertencentes ao Barroco surgem na fachada, nos jardins, nos espelhos de água, nos terraços, e na decoração interior. Contudo, há neles muitas reminiscências do classicismo, como a regularidade, a simetria, harmonia...

Mesmo assim, Versalhes serviu como um modelo de espetáculo posto num palco, onde tudo converge para a glória do rei, desde a arquitetura, a escultura...até à decoração.


Versalhes - 17 minutos


_A corte, a igreja e a academia

Seguindo a ideia de que o mundo é um teatro, o período Barroco vai-se organizar em estruturas sociais que, como palcos segurem um tema central: a magnificência e poder do rei.

_A corte era o principal local de exibição do poder real. A vida de sonho que se vivia no Palácio de Versalhes, foco desta “encenação teatral” era como que um suporte para a adoração ao rei. Como complemento, festas fabulosas e outras magníficas festividades que envolviam um luxo desmesurado entretinham a nobreza.

_A igreja era outro dos palcos deste “teatro”: era a instituição que lutava contra o Protestantismo através da Contra-Reforma, e da qual o rei era a autoridade.

O clero estava obviamente empenhado em seduzir os crentes, e esta era mais uma maneira de os aliciar em favor do rei.

Deste modo é possível entender a razão que leva a arte a estar ao serviço da igreja e da religião: a necessidade de usar meios de persuasão como a imagem plástica e a metáfora literária, as quais serviam como meios de propaganda.

_A academia como divulgadora de valores clássicos teve em França uma forte ligação ao Barroco. O estado francês viveu nesta época entre o espírito Barroco e o Clássico: enquanto o Barroco serviu para dar forma e conteúdo (estético e artístico) ao Absolutismo, o Classicismo veio de academias fundadas pelo rei a fim de proporcionar à França um estilo próprio de imposição da ordem, da unidade e do gosto pela grandeza da Antiguidade Clássica.

Por isso Luís XIV apoiou a Academia Francesa, criada em 1634, e mais tarde a fundação da Academia Real de Pintura e Escultura de Paris em 1648, e a Academia Real de Dança, em 1661...

O objetivo de todas estas academias era o de criar regras e códigos para formar um número de intelectuais e outras pessoas preparadas para obedecerem ao estilo real/ “estilo oficial”.

_O teatro e a ópera

-O teatro e a ópera foram também meios de exaltação do rei e ao mesmo tempo serviam de ocupação da corte, pelo que foram do maior interesse por parte de Luís XIV.

Tanto o teatro como a ópera desenvolviam-se em lugares amplos ao ar livre ou em espaços próprios dentro do palácio - a sala de ópera. Havia também teatros isolados, como o Palais Royal em Paris, palco de tais espetáculos.

A arquitetura desses teatros era constituída por um exterior de fachadas repetitivas de dois andares com janelas e corpo central com frontão triangular; interiores com vários espaços públicos, como os vestíbulos e os foyers, a sala de espetáculos... e outros espaços como os camarotes...

A acústica era cada vez mais valorizada, pelo que era tecnicamente estudada (a Ópera de Versalhes já tinha revestimento em madeira das paredes). Os mecanismos que ajudavam a movimentar o cenário também foram objeto de estudo, uma vez que proporcionavam dinamismo e sensação temporal mais acentuados à peça.

A comédia-ballet e o poder de Luís XIV

A comédia bailado (comédie-ballet) como projeto de espetáculo total, associava o teatro, a música e o bailado numa fusão das artes; a participação do teatro, com outras artes no engrandecimento (ilustração) do poder absoluto, dava resposta às solicitações e às encomendas do rei;

“La cérémonie turque - le bourgeois gentilhomme

“A cerimónia turca” é uma cena do IV ato da comédia-ballet “o Fidalgo Burguês, género inventado por Molière, que foi dramaturgo e encenador na corte de Luís XIV. Esta peça mistura o teatro com o canto e a dança e apresenta uma sátira à vida do seu tempo, particularmente nas relações do casamento. A música que a acompanha é da autoria de J.B. Lully que fez várias parcerias com Molière.

Em resumo, esta comédia critica os burgueses que ascenderam à nobreza recentemente e caem no ridículo ao tentar imitar a nobreza com as suas manias de grandeza. O burguês é o Sr. Jordão que se envolve num enredo de amores desencontrados. No fim dos vários acontecimentos ele é enganado e satirizado. O pretendente à mão da filha (Lucília) do Sr. Jordão é burguês e faz-se passar por Grão-Turco Mufti. Em certo momento confere ao Sr. Jordão o título de “Mamamutti” (que não existe) para poder casar com a filha dele.


A criação por parte de Molière, de personagens-tipo da sociedade do seu tempo, numa linguagem acessível e divertida exprimia também uma visão crítica e moralista;

A Cerimónia Turca foi também uma resposta do rei a um desagravo feito de um diplomata turco; como representação era também uma comédia a uma cultura exótica como era considerada a do Império Turco.

A satirização da figura de Mr. Jourdain (Sr. Jordão), burguês ridicularizado por querer ser nobre, evidenciava a rigidez da ordem social do Antigo Regime.


Excerto da "Cerimónia Turca" - 14 min.



_A revolução científica no século XVII

O séc. XVII, apesar de ter sido um tempo de sucessivas crises, foi também palco de enorme revolução ao nível das ciências. Houve uma desmistificação de conceitos, através do rompimento das interpretações de dogmas teológicos.

Inicialmente foram os filósofos que combinaram saberes antigos (matemática, física, astronomia, etc.) e usaram a razão, a experimentação, constituindo um método que serviu de instrumento científico para alcançar novos conhecimentos e técnicas inovadoras. Mais tarde, acontecimentos como a revolução na matemática iniciada por estudiosos como Galileu, provocaram um tremendo avanço nessas áreas.

Mais concretamente, o estudo através do método científico foi crucial para que houvesse, nesta altura, um ponto de viragem no conhecimento. A criação de sociedades e academias favoreceram ainda mais o desenvolvimento da ciência, na medida em que favoreciam a divulgação e troca de informação.

A ciência não se empenhava apenas na teoria pois foi a partir desta época que se experimentou um grande desenvolvimento da tecnologia utilitária, a qual mais tarde foi a chave das revoluções Agrícola e Industrial.


Arte Barroca

A arte e a cultura do séc. XVII são referidas como sendo de estilo Barroco. O termo foi pela primeira vez usado para denegrir os trabalhos que não tinham as proporções clássicas. Os artistas barrocos, tal como os seus antecessores da Renascença, valorizavam a unidade e a harmonia do desenho e os seus efeitos.

O que distingue a arte Barroca é o seu movimento insistente e a transformação particularmente dos corpos e das emoções. A arte Barroca é assim dominada pelo movimento – quer seja físico, emocional ou espiritual. A simetria e a proporção da Renascença ficam menos óbvias do que as formas em turbilhão, riqueza cromática e, frequentemente, contrastes dramáticos entre luz e escuridão nas obras desta época.

Convencer, transformar e ludibriar através da ilusão são características fundamentais do Barroco. Parece mover-se em todas as direções, tentando dominar qualquer distância psicológica entre a obra e o observador.

A arte Barroca é muitas vezes associada ao absolutismo político e à Contra-Reforma.

Não há dúvida de que a arte do período barroco foi permissiva à utilização política e ao conflito sectário. Muitas das suas obras-primas são celebrações do poder e da ortodoxia espiritual.

A arte Barroca da República Protestante Holandesa difere enormemente da produzida na Itália Católica. Tais diferenças são características do Barroco e resultaram dos conflitos culturais, políticos e religiosos que dominaram essa época.

O período barroco também se caracterizou pelo aumento de uma grande variedade de mecenas, que apreciavam a natureza-morta, cenas de género e paisagens, frequentemente pintadas em cavaletes e que podiam ser penduradas em residências privadas, em vez das decorações palacianas com frescos e retábulos, as quais tinham dominado as artes visuais durante a Renascença.

Estas inovações são ilustradas de modo mais claro na “Idade de Ouro” da arte holandesa, durante a qual as paisagens urbanas, marinhas, de interiores e as naturezas-mortas atingiram novos níveis de popularidade e de refinamento.

O movimento na arte barroca não era apenas exterior, mas também interior. O grande drama e a forte emoção podem ser os atores principais da história da arte barroca, mas o intimismo, a subtileza e a meditação do seu género mais sereno e mais voltado para o interior são igualmente essenciais.

Alegorismo

A pintura alegórica desta época tem um significado oculto nos seus temas, o qual o observador deve “ler”. É normalmente um significado claro ou preciso não exigindo uma resposta intuitiva do leitor. Por exemplo, uma natureza-morta representando fruta podre é uma alegoria à brevidade da vida humana. Por isso este tipo de pintura requer do observador um conhecimento da literatura, da mitologia e da história clássicas, assim como da teologia e tradições cristãs. Ela conta com o conhecimento intelectual e adquirido,

A alegoria era de facto muito popular na arte barroca e muitos pintores querendo gozar do mesmo alto estatuto dos poetas, usavam a alegoria como meio para introduzir na pintura os equivalentes à alusão e à metáfora.


Alegoria dos Cinco Sentidos - Gerad de Lairesse, 1668 (Holanda)


Barroco (1601 – 1768)

O Barroco marca uma crise dos valores renascentistas e mostra um mundo no qual há um combate entre fé e razão. A Igreja havia sido questionada pelas reformas protestantes e o barroco vai em defesa da religião católica, num movimento ligado à Contrarreforma.

O período é marcado por contradições, sobretudo a do homem que quer a salvação, mas ao mesmo tempo usufrui dos prazeres mundanos. Destaca-se na literatura os sermões do Padre Antônio Vieira, um português que ingressou na Companhia de Jesus, cuja obra principal é o Sermão da Sexagésima.




Retrato do Padre António Vieira, de autor desconhecido do início do século XVIII

O Padre António Vieira (1608-97) foi um filósofo, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu incansavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização.




António José da Silva

(1705 - 1739) foi um escritor e dramaturgo luso-brasileiro nascido no Brasil - Colónia. Formado na universidade de Coimbra, escreveu o conjunto da sua obra em Portugal entre 1725 e 1739. Recebeu o epíteto de "O Judeu". É hoje considerado um dos maiores dramaturgos portugueses de todos os tempos



“A Morte da Virgem” é o menor quadro de altar pintado por Caravaggio*. A obra foi encomendada por L. A. Cherubini, advogado do papa, para a igreja das Carmelitas de Santa Maria della Scala, Roma (1604-1606?). O clero, ao alegar tratar-se de uma obra imprópria e ofensiva para igreja católica, totalmente desprovida de santidade, recusou a pintura. Esta rejeição da obra parece dever-se ao facto de Caravaggio ter retratado uma cortesã como modelo para a Virgem. Outros afirmam ainda que o pintor havia composto a Virgem, usando como modelo o cadáver inchado de uma mulher que morrera afogada.

A Virgem Maria está morta e é retratada com simplicidade enquanto os apóstolos se entristecem com a cena. Maria Madalena chora com o rosto escondido entre as mãos, e tem-se a impressão de que os braços da virgem estão na posição perfeita para abraçar Maria.

Ao remover todo o tipo de elementos que adornavam habitualmente uma cena religiosa convencional, Caravaggio revela um intenso poder dramático. Aos 30 anos o artista abandonou completamente o seu estilo primitivo para se concentrar na intensidade dramática (repare-se nas diferentes expressões das personagens que observam a cena).

Esta pintura tornou-se ainda mais chocante para os católicos da altura porque era comum a crença de que a Virgem não tinha morrido, mas fora transportada ao céu enquanto dormia.


*Caravaggio (Michelangelo Merisi-1571-1610) foi um dos mais notáveis pintores italianos, atuante em Roma, e outras cidades. O seu trabalho exerceu influência importante no estilo barroco, do qual foi o primeiro grande representante. Para representar acontecimentos e personagens da Bíblia, preferia escolher por entre o povo, modelos humanos tais como prostitutas, crianças de ruas e mendigos, que posavam como personagens para as suas obras, representando-as com realismo sem qualquer receio de representar a feiura, a deformidade em cenas provocadoras para a época, o que chocou os seus contemporâneos, pela rudez das suas pinturas. Dos efeitos que Caravaggio dava aos quadros, originou-se o tenebrismo, em que os tons terrosos contrastam com os fortes pontos de luz.




“O Cordeiro Místico” de Josefa de Óbidos* (1660-70) faz parte de um conjunto de belíssimas pinturas da pintora portuguesa que no século XVII se destacou principalmente pelas suas naturezas-mortas ou em cenas de caráter religioso. A sua pintura apresenta uma ingenuidade associada a um evidente arcaísmo, o que torna a sua obra única nesse século e se destaca mesmo em toda a pintura portuguesa.


*Josefa de Óbidos (1630-1684) nasceu em Sevilha e viveu e produziu em Portugal. Era filha de Baltazar G. Figueira, pintor português natural de Óbidos e casado com uma senhora da Andaluzia. Em 1634, quando tinha apenas quatro anos de idade, os pais de Josefa regressam a Portugal, onde vieram a se estabelecer em Óbidos.

Josefa foi especialista na pintura de flores, frutas e objetos inanimados. A influência exercida pelo barroco tornou-a uma artista com interesses diversificados, tendo-se dedicado, além da pintura, à estampa, à gravura, à modelagem do barro, ao desenho de figurinos, de tecidos, de acessórios vários e a arranjos florais.

Trabalhou como pintora para diversos conventos e igrejas e como retratista para a Família Real Portuguesa dela se destacam os retratos da rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboia, esposa de D. Pedro II, e de sua filha, a princesa D. Isabel.



LINKS


Padre António Vieira – 10 min.

Padre António Vieira, uma vida, uma obra – 43 min.

Padre António Vieira – Sermões -13 min.

Padre António Vieira – o mestre das Palavras – 52 min.

A.J. da Silva – Esopaida”- 2 min.

A.J. da Silva -guerras de alecrim e da manjerona – 1 min.



Arte Barroca e Inquisição – 7 min.

Movimento Cultural do Barroco – 9 min.

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  • marianeves15031958

CONTEXTO HISTÓRICO – Idade Média

Do séc. XII à 1ª metade do século XV

O período compreendido séculos XII a XV, foi um tempo de renovação sem precedentes.

A Europa desenvolveu gradualmente uma expansão desde o séc. XI e atingiu um período de renascimento no séc. XII, e o seu apogeu no séc. XIII, devido a vetores económicos, sociais, políticos, culturais e religiosos. O desenvolvimento económico fez-se notar:

na agricultura excedentária, no incremento das atividades artesanais que estimularam os mercados internos e abertura do comércio internacional que se estabeleceu através dos mares: mediterrâneo e Báltico, e do Oceano Atlântico.

Um outro fator de expansão económica foi o crescimento de s feiras nacionais e internacionais que deram origem a cidades de renome. Estabeleceram-se trocas de moeda entre os países surgindo assim a atividade de câmbios que deu resposta às necessidades da economia monetária. Deste progresso económico e financeiro resultou o crescimento demográfico que teve origem na saída de mão-de-obra das aldeias para as cidades. Nestas cidades formou-se um novo grupo social – a burguesia - artesãos, mercadores e letrados, organizados em grupos profissionais. As cidades cresceram, enriqueceram e tornaram-se sedes de produção artesanal, mercados e negócios. Em muitas delas, a burguesia impôs o movimento comunal, conquistando autonomia administrativa (um governo próprio) e mais liberdade e direitos em relação ao poder feudo-senhorial.

A nível político deu-se centralização régia. Para concretizar essa governação e manter um exército, o rei rodeou-se de uma corte de nobres, eclesiásticos e burgueses, que criaram um novo estilo de vida, vivendo em ambientes mais luxuosos.

-A cultura e as artes beneficiaram assim deste contexto, porque os reis e o clero tornam-se mecenas de artistas e homens das letras e das ciências.

A par desta situação desenvolveu-se uma cultura escrita aumentando o número de escolas e sendo criadas as universidades. O ensino aí desenvolvido, seguia a filosofia escolástica - estudo livresco e teórico baseado na autoridade do mestre, do estudo dos filósofos clássicos (Platão e Aristóteles) e de autores cristãos como S. Agostinho…

Todo este progresso foi interrompido na segunda metade do séc. XIV, pela grande depressão, resultante de vários fatores:

-a chegada à Europa da Peste Negra, acompanhada de maus anos agrícolas,

-a inflação monetária e a carestia de vida, prolongada pela Guerra dos Cem Anos*.

No início séc. XV a Europa recuperou desta situação de contração devido ao dinamismo produtivo de cidades da Itália e da Flandres, e posteriormente da abertura marítima e comercial ao mundo, iniciada pelos navegadores portugueses e espanhóis.


*A Guerra dos Cem Anos foi uma série de conflitos travados de 1337 a 1453 pelos governantes do Reino da Inglaterra, contra a os governantes do Reino da França, sobre a sucessão do trono francês. Cada lado atraiu muitos aliados para a guerra. Foi um dos conflitos mais notáveis ​​da Idade Média, em que cinco gerações de reis de duas dinastias rivais lutaram pelo trono do maior reino da Europa Ocidental. A guerra marcou tanto o auge da cavalaria medieval quanto o seu subsequente declínio e o desenvolvimento de fortes identidades nacionais em ambos os países.


A cultura cortesã

Entre os séculos XII a XV, os tempos de paz e bem-estar propiciaram progressivamente o desenvolvimento de cultura profana humanista.

A cultura religiosa que se traduzia em festas e romarias, procissões e autos teatrais (mistérios com representações de cenas religiosas) eram seguidas de danças e cantares. Os atores eram os menestréis (artistas ao serviço da corte), jograis (tocavam e declamavam versos ao mesmo tempo, sendo pagos para isso) ou artistas de circo (atuavam nas praças para entreter e educar o povo).

Nesta época a cultura era essencialmente oral, exprimia-se em cantares acompanhados por música. Nas cortes reais e senhoriais que privilegiavam o conforto, o luxo, o prazer e as diversões, os assuntos mais intelectualizados eram apresentados por trovadores profissionais que entretinham o clero, a aristocracia e a alta burguesia durante os banquetes, festas e bailes, realizados, em dias festivos e serões. Foi nestas práticas que nasceu a poesia trovadoresca.

Durante as festividades os jogos guerreiros da nobreza (justas, torneios, caçadas ao veado e ao javali…) faziam parte destas atividades culturais e eram ao mesmo tempo meios de exercitar mestria física, preparando os homens nas artes da guerra. Além destas atividades ocorriam ainda outros jogos como o da bola e do tabuleiro.

Esta cultura tornou-se fundamental porque contribuiu gradualmente para a suavização dos costumes e mentalidades, e ao mesmo tempo originou maior desenvolvimento cultural ao apoiar artistas e letrados através do mecenato.


O letrado Dante Aleghieri— (1265 -1321)

Dante nasceu em Florença tendo-se tornado um homem de elevada craveira intelectual e moral. Após intensa atividade política, na defesa da sua cidade, foi no final obrigado a exilar-se.

Dedicou toda a sua vida à escrita preferencialmente em verso e em língua italiana, no que foi original, contribuindo por isso para o nascimento da literatura italiana. Criou também o “dolce stile nuovo” (doce estilo novo) – composição de nova métrica, inspirada em Virgílio e Ovídio, poetas romanos. Das obras de Dante destacam-se “Vita Nuova”, romance autobiográfico, “Monarchia”, um tratado político, e a sua obra-prima “A Divina Comédia”, uma alegoria poética, composta por 3 capítulos – Inferno, Purgatório e Paraíso – na qual Dante conta a viagem que fez por estas paragens, para encontrar o amor da sua vida, Beatriz cuja morte os separara no início da sua juventude . É uma obra na qual Dante ao mesmo tempo expõe o seu pensamento sobre teologia e filosofia e analisa criticamente, a sociedade do seu tempo.


Trovadorismo ( Poesia trovadoresca) (1189 – 1418)

O Trovadorismo surgiu em meados do século XI na região da Occitânia – onde hoje estão França, Itália e Espanha. Os poemas da época eram feitos para ser cantados, e os artistas eram divididos entre Trovadores, que eram compositores de origem nobre, e Jograis, que eram servos, muitos deles, profissionais da música.

As cantigas trovadorescas carregam características da Idade Média e muitas foram escritas em galego-português. Dividem-se em Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo) e Satíricas (Cantigas de Escárnio e Cantigas de Maldizer).

Nas cantigas de amor, o tema mais desenvolvido é o amor não correspondido no qual o trovador destaca as qualidades da mulher amada (suserana) e se coloca em posição “inferior”, de vassalo.


Os textos dos trovadores medievais foram preservados em pergaminhos, como no Pergaminho Vindel (Foto: Wikipedia Commons)

Nas cantigas de amigo o eu-lírico é uma mulher, embora os escritores da época fossem homens. Nessas obras, há a lamentação da dama perante a falta de seu amado, que é chamado de “amigo”.

Nas cantigas de escárnio, por sua vez, há uso de duplo sentido e sátiras indiretas sem citar nomes. Já nas cantigas de maldizer, há sátiras diretas com uso de “palavrões” e muitas vezes com o nome da pessoa criticada.

Os principais autores do Trovadorismo são Ricardo Coração de Leão, Afonso Sanches, Dom Dinis I de Portugal,(…) entre outros. As cantigas estão em compilações de diversos autores, chamadas de cancioneiros. Os principais cancioneiros são o da Ajuda, o da Vaticana e o da Biblioteca Nacional.





Retrato contemporâneo de Dom Dinis no manuscrito castelhano Compendio de crónicas de reyes (...), c. 1312-1325

Na cantiga Ai flores, ai flores do verde pino, de D. Dinis, as flores respondem e tranquilizam uma donzela saudosa e preocupada com a ausência do seu amado.


Possível retrato de Fernão Lopes, nos Painéis de São Vicente de Nuno Gonçalves

LINKS

História da época-11 min.

Poesia trovadoresca-25 min.

Poesia trovadoresca – 12 min.

poesia galeco-portuguesa-6 min.

cultura cortesã-39 min.





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  • marianeves15031958

CONTEXTO HISTÓRICO - Renascença

A EUROPA de meados do século XV ao início da Guerra dos Trinta Anos*.

No contexto europeu deste período observam-se 2 conjunturas diferentes:

Uma de crescimento e expansão – na primeira metade do século XV até do 2º quartel do séc. XVI; a outra, de crise e depressão entre 1520/30, e se estende até inícios do séc. XVII.

A primeira conjuntura corresponde ao período do Renascimento e caracterizou-se por:

- um crescimento económico e demográfico acentuado (após a grande depressão do séc. XIV),

-o desenvolvimento das cidades,

-o avanço da centralização régia que foi destruindo o Feudalismo medieval;

-a ascensão económica e cultural da burguesia

-o surgimento de uma mentalidade mais humanista e pragmática, racionalista e confiante, amante do saber e da Antiguidade Clássica (uma mentalidade nova)

A segunda conjuntura corresponde a crises:

-uma crise de valores e de consciência provocada pela Reforma Protestante,

-período de guerras e crises comerciais e financeiras,

-período de maus anos agrícolas e de pestes, que geraram um clima de maior insegurança, instabilidade e ceticismo.


* Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) é a denominação genérica de uma série de guerras que diversas nações europeias travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados: rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais. Foi um dos maiores e mais destrutivos conflitos da história, deixando um saldo de mais de oito milhões de mortos (a maioria da Europa Central).


A Europa das rotas comerciais

O período de tempo que analisamos corresponde a um grande desenvolvimento económico vivido na Europa resultante da expansão do comércio que serviu de “motor de arranque” da economia dos países europeus da época.

Este desenvolvimento deveu-se sobretudo ao alargamento de rotas e redes comerciais, tanto no Mediterrâneo como no Litoral Atlântico, e Mar Báltico.

Ao mesmo tempo desenvolveu-se nesses países uma grande procura de novos mercados, fora da Europa impulsionada pelas descobertas de portugueses e espanhóis: o comércio desenvolveu-se à escala mundial e, com ele, as permutas culturais trouxeram conhecimentos novos sobre a geografia, a fauna e a flora dos vários continentes, o conhecimento dos diversos climas, das diferentes raças e culturas.

A Itália durante o Quattrocento (século XV)

A tomada de Constantinopla em 1453, pelos Turcos Otomanos (povo islâmico), assinala a queda do Império Bizantino (cristão), a oriente. Os intelectuais e artistas bizantinos fugiram para a Itália, levando a tradição clássica de raízes gregas, tornando-se a base da renovação cultural e artística do Quattrocento italiano.

Paralelamente, a progressiva dissolução do poder feudal e do modo do mundo medieval, permitiu um crescente otimismo e crença nas potencialidades do homem. Este modo de pensar levou ao surgimento de novo espírito baseado no renascimento do Humanismo e da aproximação ao Classicismo antigos.

A igreja também contribuiu sendo permissiva no surgimento de uma nova arte, tão clássica como cristã.

No século XV, a Itália encontrava-se dividida em vários ducados, repúblicas e reinados rivais. Esta rivalidade impulsionou uma produção artística em grande escala. O desejo de cada cidade-estado superar as outras cidades traduziu-se nessa vasta produção artística e os novos ricos (banqueiros, mercadores... burgueses, em geral) procuravam suplantar a nobreza - transformaram-se nos principais protetores das artes designados por mecenas.

Nesta época, devido aos conflitos constantes no Sacro Império Romano-Germânico (que abrangia quase toda a Itália), surgiu um novo tipo de artistas e intelectuais, disputados pelos burgueses mais ricos promovendo a rivalidade entre cidades no desejo de ter o melhor.



A arte do Renascimento era uma arte que dava continuidade ao naturalismo do Trecento, (século XIV) numa reminiscência greco-romana. Caracterizou-se pela produção de obras com intenso estudo perspético, mas sobretudo opor serem criadas num quadro de alterações profundas tanto no que se relacionava com produção da obra como com a nova situação do criador – o artista.

A obra de arte adquiriu nesta época uma certa independência, pois já não precisava de ser fiel a um programa iconográfico dependente do encomendador – a Igreja. O artista ganhou assim autonomia, sendo valorizado pela sua originalidade, subtileza de forma, nível de invenção...em vez de apenas pelas suas qualidades técnicas ou escolha dos materiais.

O palácio, habitação de elites.

A partir do século XV, o mundo rural perdia terreno pelo surgimento das cidades onde se desenvolvia uma economia baseada nas atividades artesanais e comerciais; estas tornaram-se sedes de negócios e do poder político-administrativo. Aqui as elites nobres e burguesas passaram a morar em palácios, com o luxo e o conforto, condignos do seu poder económico e político-social. Desenvolveram então um modo de vida requintado, animado por muitas festas, banquetes, bailes e receções, e por reuniões culturais, para as quais eram convidados filósofos, músicos, artistas reputados, letrados…

Estes palácios transformaram-se em pequenas cortes privadas, frequentadas por homens elegantes - cortesãos - que procuravam sobressair na corte; promovia-se o individualismo baseado na distinção dos dotes físicos e intelectuais destes homens.

O mecenas, Lourenço de Médicis

Lourenzo de Médicis foi um burguês de uma poderosa família italiana da cidade de Florença, na segunda metade do século XV. Lourenzo tornou a sua cidade, numa das mais ricas e desenvolvidas da Europa, a qual se tornou também no primeiro centro cultural do Renascimento. Em Florença, Lourenzo exerceu o cargo de “príncipe” (“o principal” da cidade), cujo poder pertencera anteriormente à sua família (os Médicis), homens negociantes e banqueiros poderosos, que exerceram o domínio político na cidade – Florença tornara-se na época uma república oligárquica (=governo de uma família). Herdando o poder político da família, Lourenzo melhorou-o em resultado das suas qualidades pessoais. Foi o símbolo do “Homem novo” (individualista, racional) do Renascimento. Era Inteligente e culto; geriu com eficácia e diplomacia, os negócios da cidade. Ficou também conhecido pelo mecenato (=favorecimento da cultura), incentivando as letras e artes, com encomendas e patrocínios. Foi um homem que governou com autoridade, mas favoreceu os mais pobres trazendo paz e prosperidade à sua cidade. Destacou-se entre outros motivos por:

-ter criado escolas, bibliotecas e coleções de obras de arte.

-ter promovido muitas festas públicas e privadas,

-ter promovido a renovação arquitetónica da cidade de Florença baseado no crescente interesse pela cultura clássica, assim como pelas artes grega e romana.

O Renascimento em Florença

Relembrando os grandes feitos intelectuais e artísticos da época greco-romana, os humanistas italianos seguiram os modelos antigos – pondo fim à decadência do gótico, que consideravam bárbaro.

Os primeiros passos na renovação já tinham aparecido nas obras de Dante e Petrarca durante o século XIV .

Estes homens foram, entre outros, os dinamizadores do principal foco de desenvolvimento e divulgação do renascimento, investindo na regeneração e na recuperação da língua italiana, das instituições e do esplendor do passado, querendo fazer reviver os tempos de glória da época romana. Assim como eles, também os artistas encontraram na arte clássica, as bases sólidas para a regeneração artística.

Um novo homem e um novo mundo

A reforma que se iniciou na Itália não apareceu, obviamente, desligada de uma renovação nas ideias, e perceção do mundo em redor.

Apesar de, para o homem renascentista, Deus continuar a ser o criador, para ele, o homem possuía livre arbítrio para proceder às suas decisões. Este novo sentido dava liberdade ao homem - colocava-o mesmo no foco da atenção – foi o momento em que se passou a valorizar a obra, a criação humana.

O pensamento seguiu esta linha de conduta: o dogmatismo que penetrara os pensadores medievais, refletido na crença nos sentidos e no descuido da razão, foi substituído pela racionalidade.

Para solidificar esta visão objetiva do mundo, nas artes visuais, o homem serviu-se de instrumentos de rigor, como a pintura a óleo e a perspetiva linear. O papel do artista na sociedade também sofreu uma grande alteração: inspirado e seduzido pela curiosidade de descobrir o mundo, o artista passou a ser um humanista, um homem universal, cujo caso paradigmático foi Leonardo Da Vinci. A erudição do artista dava-lhe a capacidade de se individualizar, refletindo-se no reconhecimento das próprias obras e consequente valor de autoria.

O Humanismo e a imprensa

O aparecimento da Imprensa na Alemanha (a tipografia de caracteres móveis- surgiu pela primeira vez na oficina de Johannes Gutenberg, c. 1450), teve como consequência a rápida divulgação das ideias humanistas pela Europa. O livro impresso tornou-se fácil e barato de reproduzir, permitindo a divulgação de obras, correntes e ideias, e facilitou ao mesmo tempo, o estudo e o ensino nas escolas de catedrais – os colégios – e nas universidades que foram surgindo na época, por toda a Europa.

O Humanismo* foi um movimento cultural, filosófico, literário, científico que surgiu entre os séculos XIV-XVI a partir de Itália e caracterizou-se por:

-uma atitude antropocêntrica, racional, crítica, pragmática perante o saber - o das coisas físicas, e das metafísicas- e pela admiração, aproximação e recriação da Antiguidade Clássica, o seu modelo ideal.

-um saber humanista – de intelectuais ecléticos, amantes da erudição (=saber de tudo um pouco) detido por intelectuais que partiam dos autores clássicos, redescobertos nesta época e questionavam saberes teóricos e livrescos da Idade Média, construindo novos conhecimentos baseados na experiência pessoal e na observação direta da Natureza, e das sociedades do seu tempo.

Os Humanistas escreviam nas línguas nacionais rejeitando o Latim, única língua usada na escrita durante a Idade Média. Também defenderam a educação da juventude com base na imitação dos clássicos.

Grandes Humanistas foram: Erasmo de Roterdão, Thomas More, Maquiavel, Shakespeare, e portugueses: Luís de Camões e Damião de Góis.


Humanismo* - É praticamente sinónimo da Renascença, tem dois componentes principais: o ressurgimento do interesse pela arte e pelos valores do mundo clássico, e um sentido renovado da capacidade do indivíduo para compreender e fazer alterações, tanto a si mesmo como no mundo, através da busca de respostas racionais, em vez de religiosas.

Embora tivesse começado por ser um movimento literário e erudito, o Humanismo impulsionou um novo interesse pelos artistas como “grandes homens “ que tinham um papel importante na descoberta do passado clássico e da natureza humana.

O Humanismo iniciou a transição de um mundo, no qual os artistas eram artificies, para um outro, em que passaram a ser vistos como tendo coisas interessantes a dizer a respeito do mundo.

Ao realçar a importância da razão e das questões racionais, o Humanismo mudou o tradicional domínio da teologia, com a sua elevação do Divino e prostração do terreno como pecaminoso e corrupto, para uma situação em que os artistas passaram a representar o sagrado com pessoas vulgares. Após séculos de dourado esplendor como Rainha dos Céus, a Virgem passou a ser representada como uma rapariga humilde. Esta tendência é claramente evidente em Leonardo da Vinci e prolongou-se até ao Barroco, em que na obra de Caravaggio, é levada ao extremo.

Reformas e espiritualidade

O século XV também trouxe grandes mudanças na espiritualidade da Igreja Cristã do Ocidente. Centrada no bispo de Roma - o Papa – a Igreja desembocou, neste tempo, numa situação de corrupção e decadência provocada por vícios do clero, cismas e heresias, o que a afastou da doutrina e virtudes do cristianismo inicial. Estes factos conduziram a uma crise de fé e de crítica à Igreja, a qual foi criticada principalmente pelos humanistas como Erasmo de Roterdão.

A primeira grande revolta contra a Igreja Romana foi liderada pelo monge alemão Martinho Lutero, em torno da “Questão das Indulgências” em 1517. A revolta de Lutero deu origem a outras, por toda a Europa iniciando o movimento de rutura designado por “Reforma Protestante”. Este movimento dividiu cristãos ocidentais e criou novas igrejas cristãs, independentes do papado - estas igrejas interpretavam livremente as Sagradas Escrituras, com grande fidelidade à doutrina cristã primitiva.

A partir da segunda metade do séc. XVI, para combater esta posição, os Papas iniciaram um movimento de renovação interna e combate ao Protestantismo, - a Contrarreforma. As medidas que orientaram este movimento foram delineadas no Concílio de Trento entre 1545-1563 e constam da reavaliação dos dogmas de fé, da intensificação da formação dos padres, imposta com uma nova disciplina. Também formam criadas novas ordens monásticas (entre as quais, a Companhia de Jesus), destinadas à pregação e missionação e ao ensino, aumentando-se ao mesmo tempo, a vigilância sobre os crentes através da Inquisição e do Índex.

De Revoliutionibus… de Nicolau Copérnico -acerca do movimento dos corpos celestes”

No campo racional e em oposição ao dogmatismo imposto pela Igreja, surgiu nesta época o interesse pela explicação científica dos fenómenos naturais, fruto da confiança nas capacidades intelectuais do individuo.

Foi Copérnico, quem pela primeira vez comprovou matematicamente a teoria heliocêntrica do sistema solar. Esta teoria contrariava a teoria geocêntrica até aí maioritariamente aceite, inclusive pela Igreja, que por isso, a condenou e proibiu. Tal proibição constou do Índex até ao século XIX.

Os estudos subsequentes de outros cientistas como Galileu Galilei e Kepler vieram a comprovar a teoria de Copérnico, a qual está na base do pensamento astronómico e cosmológico atual. A sua tese era verdadeira mas… contrariava o conhecimento da Igreja, entidade dominante na cultura da época.


Humanismo (1418-1527)

O Humanismo como movimento literário ocorre no período entre a Idade Média e o início da Idade Moderna. Em Portugal, foram produzidos três tipos literários no Humanismo: prosa, poesia e teatro. O movimento é marcado pela ideia de racionalidade, antropocentrismo (o homem no centro de tudo), o cientificismo, a beleza e a perfeição e a valorização do corpo humano.

Havia a chamada crónica histórica, representada sobretudo por Fernão Lopes. A obra do autor contém ironia e crítica à sociedade portuguesa. No Humanismo também era comum a poesia palaciana, que reproduzia a visão de mundo dos nobres. Nessa poesia, o amor é sensual e a mulher deixa de ser tão idealizada quanto era na poesia trovadoresca.

Outra grande manifestação do período foi o teatro popular, cujo principal representante é Gil Vicente, autor de Auto da Barca do Inferno (1516). A obra dele está ligada a valores cristãos, visão maniqueísta (bem versus mal) e apresenta caráter moralizante. Outros títulos notáveis são Auto da Visitação (1502) e Farsa de Inês Pereira (1523).


Classicismo (1527 – 1580)

A estética literária do Classicismo surgiu a partir do movimento cultural do Renascimento. Foi inspirada no fim do contexto medieval religioso e na retomada de valores clássicos racionais da antiguidade. O capitalismo começava e a Idade Média acabara, marcando o nascimento da Idade Moderna na Europa.

As Grandes Navegações tinham feito com que o homem do início do século XVI se sentisse orgulhoso e daí surgiram as ideias de racionalismo e antropocentrismo, noção humanista de que o homem estaria à frente de tudo, inclusive de Deus.

As características principais do Classicismo são: a valorização da cultura greco-romana clássica e a mitologia pagã, a influência do pensamento humanista, perfeição estética e a procura por um ideal de beleza proveniente da Antiguidade Clássica.

Luiz Vaz de Camões é o grande nome do Classicismo e a sua obra mais conhecida é Os Lusíadas, escrita em dez cantos, com 1102 estrofes (compostas em oitava-rima e versos decassílabos) e cinco partes.

O herói do poema épico de Camões é o próprio povo português e ele conta a história da viagem de Vasco da Gama no caminho para as Índias. Podemos também destacar os escritores Dante Alighieri, Petrarca e Boccacio.



Gil Vicente (c. 1465 — c. 1536) é considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Primo de Valentim Gonçalves, e enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, ator e encenador. É considerado o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico, já que também escreveu em castelhano - partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina.

Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel.

A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi o principal representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.


Luís Vaz de Camões (Lisboa[?], c.1524 – Lisboa, 10 de junho de 1579 ou 1580) foi um poeta nacional de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental.

Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de D. João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, autoexilou-se em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei D. Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter.



“A virgem, e o Menino com Santa Ana”, 1510- Leonardo da Vinci

Nesta obra, a Virgem está sentada nos joelhos de Santa Ana e ambas sorriem para baixo na direção do Menino que está a cometer a travessura de puxar as orelhas ao cordeiro. Leonardo distingue estas figuras centrais na religião cristã retratando-as com a normal emoção dos humanos.

Características da obra- pintura a óleo sobre madeira 98x217 cm

O tema relata uma cena familiar em que o artista apresenta a Virgem sentada ao colo de Santa Ana, enquanto o Menino brinca com o cordeiro, simbolicamente representando o seu sacrifício futuro , ligado à redenção (morte sacrificial).

A composição é pensada cientificamente - todos os espaços são matemática e geometricamente calculados, levando à sensação de ordem, organização, equilíbrio e tranquilidade. Organiza-se numa pirâmide ideal cuja diagonal direita é delineada pelos olhares e movimentos das 3 personagens.

Leonardo aplicou a perspetiva aérea através dos cambiantes de cor que nos permite ver a paisagem até à linha do horizonte com um tratamento cuidado e pormenorizado na paisagem.

Usou a técnica do “sfumato” aplicada na pintura das formas para suavizar contornos

A conceção das figuras é também exemplar pela proporção anatómica;

-exibe correção das posturas, modelação volumétrica dos corpos, excelente execução do claro-escuro -pregueados das vestes.

- as expressões de rostos e olhares induzem à interpretação psicológica das personagens..

A luminosidade na obra merece também a nossa atenção. A cena passa-se ao ar livre, mas a luz é suave e difusa. É uma luz dourada que transmite serenidade e quietude ao ambiente de fim de tarde.

A expressividade- tipicamente renascentista apresenta sensações de estaticidade, equilíbrio, harmonia.


LINKS

Fernão Lopes – 29 min.

Gil Vicente – 8 min.


Renascimento-9 min.


Produção cultural no Renascimento



A invenção da Imprensa-3 min.

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